sábado, 31 de março de 2012

PERSÉPOLIS


Não conhecia esse filme francês que me foi presenteado em DVD por uma amiga (Tacilda Aquino) do curso de Cinema e Educação. Foi indicado ao Oscar 2008 de melhor animação, mas perdeu para Wall-E da Disney/ Pixar e é baseado nas histórias em quadrinhos de Marjane Satrapi, que também assumiu a direção e o roteiro ao lado de Vincent Paronnaud. Marjane é também o nome da protagonista desse história, uma menina que cresceu no Irã durante a revolução islâmica, vendo a partir de sua inocência, guerras, perseguições, prisões e mortes (inclusive de parentes e conhecidos) e a obrigação do uso do véu pelas mulheres, que funciona como repressor para elas que se sentem inferiores aos homens. Com a intensificação da guerra que dura oito anos e deixa milhares de morto, sua família resolve manda-la a Viena (Áustria) para a casa de uma filósofa meio louca que tem um cachorro tarado. É em Viena que Marjane cresce, conhece o primeiro amor, depois revelado homossexual, um outro que a trai e um terceiro com quem se casa, mas também não é o homem de sua vida.


Apesar de ser um desenho animado, Persépolis não é destinado às crianças. É um filme com tema forte e às vezes desagradável e é em preto e branco, com exceção de algumas cenas atuais com Marjane. Em um primeiro momento, a animação parece precária e os desenhos meio infantis, como se fossem feitos por uma criança mesmo, mas isso foi intencional para transmitir a inocência daquela criança crescendo em um mundo selvagem o qual ela não entende completamente.

Há vários momentos singelos, como a ligação de Marjane com sua avó, que a ensina como manter o seios sempre redondos e a ficar sempre perfumada, colocando jasmins no sutiã.

O filme é carregado de cultura pop americana. Marjane é apaixonada por Iron Maiden e arrisca a pele para comprar uma fita cassete do grupo; suas colegas têm LPs do Bee Gees e do ABBA e em uma das cenas mais belas do filme, ela canta Eye of the tiger (do filme Rocky – Um lutador) quando consegue finalmente sair da depresssão.


Chiara Mastroianni (filha de Marcelo Mastroianni) e Catherine Deneuve dublam respectivamente, Marjane e sua mãe, nesse filme muito interessante que além de divertir ainda ensina sobre a história do Irã, do islamismo e de uma guerra que como todas as outras, a gente não entende muito bem porque começou e qual a sua utilidade. (8,0)


quinta-feira, 29 de março de 2012

O ADEUS EM DUAS VERSÕES


Uma das músicas que tenho ouvido com mais frequencia atualmente (aliás várias vezes todos os dias) e que eu mais gosto, é Trocando em miúdos, gravada por seu autor Chico Buarque e também por Maria Bethânia, que dispensa comentários.

Meu amigo, David Verissimo e eu fizemos uma versão bem mais dramática dessa música (se é que é possível). Confiram as duas letras e comentem.

TROCANDO EM MIÚDOS 
Chico Buarque/ Francis Hime

Eu vou lhe deixar a medida do Bonfim
Não me valeu
Mas fico com o disco do Pixinguinha, sim?
O resto é seu
Trocando em miúdos, pode guardar
As sobras de tudo que chamam lar
As sombras de tudo que fomos nós
As marcas de amor nos nossos lençóis
As nossas melhores lembranças

Aquela esperança de tudo se ajeitar
Pode esquecer
Aquela aliança, você pode empenhar
Ou derreter
Mas devo dizer que não vou lhe dar
O enorme prazer de me ver chorar
Nem vou lhe cobrar pelo seu estrago
Meu peito tão dilacerado

Aliás
Aceite uma ajuda do seu futuro amor
Pro aluguel
Devolva o Neruda que você me tomou
E nunca leu
Eu bato o portão sem fazer alarde
Eu levo a carteira de identidade
Uma saideira, muita saudade
E a leve impressão de que já vou tarde









FALANDO SÉRIO
David Veríssimo/ Gilberto Carlos

Eu vou me deitar até que chegue o meu fim
Pra mim já deu
Mas vou cometer uma loucura sim
Azar o seu...

Falando sério pode apagar
As sobras de tudo que se lembrar
Rasgue inclusive os nossos lençóis
Não há mais amor entre nós

Aquela esperança de me ver voltar
Pode esquecer
Não quero mais te esperar
Só pra sofrer

Mas devo dizer que é difícil superar
Passar por você e te evitar
Eu vou lhe cobrar pelo seu estrago
Pois estou tão inconformado...

Aliás
Saiba que um dia essa dor
Não vai mais existir
Nem você vai fazer parte de mim.

Eu saio de casa quando o sol raiar
Batendo o portão com muito escândalo 
Deixando somente a saudade
E a impressão de nunca mais voltarei.




terça-feira, 27 de março de 2012

CHICO ANYSIO


Morreu na sexta-feira passada (23/03), aos 80 anos, de falência múltipla dos órgãos, o comediante Chico Anysio, criador de mais de duzentos personagens impagáveis, como o Vampiro brasileiro, o Painho e o Professor Raimundo, já que a maior parte de sua carreira foi dedicada à televisão, onde estrelou os programas Chico City, Chico Anysio Show, Chico Total e Escolinha do Professor Raimundo, entre tantos outros. Mas Chico foi também um ator de cinema e indo contra a corrente de homenagens póstumas que ele tem recebido, resolvi ir contra a maré e falar dos filmes que ele participou.

Com Sonia Braga em Tieta do Agreste



Com Glória Pires em Se eu fosse você 2
Estreou no cinema fazendo os roteiros de O primo do cangaceiro (1955), A baronesa transviada de 1957 (onde também estreou como ator) e Hoje o galo sou eu (1957). Atuou também em O camelô da Rua larga (1958); Mulheres à vista (1958); Entrei de gaiato (1959), O palhaço o que é? (1959), Pequeno por fora (1959), Eu sou o tal (1960), a malfadada pornochanchada em episódios O doce esporte do sexo (1971), dirigida por seu irmão Zelito Vianna; Tanga – Deu no New York Times (1986); Tieta do Agreste (1996), onde viveu o muquirana Zé Esteves, pai de Tieta (Sonia Braga); Se eu fosse você 2 (2009) e Uma professora muito maluquinha (2011).

Com o elenco de Uma professora muito maluquinha

domingo, 25 de março de 2012

SONATA DE OUTONO


Ingmar Bergman arquitetou com “Sonata de Outono” um profundo estudo sobre as delicadas relações familiares, o que, aliás, ele sempre fez em seus filmes, mas na maioria das vezes entre casais com problemas matrimonias e aqui entre mãe e filha.

Charlote, uma pianista famosa (Ingrid Bergman, que apesar do sobrenome não era parente do diretor) visita a filha tímida e deprimida, Eva, (Liv Ullman) no interior da Noruega. Esse encontro provoca uma erupção de rancores, remorsos e cobranças do passado.

As duas atrizes estão em cena o tempo inteiro e duelam num show de interpretação trocando acusações, inclusive em relação a uma outra filha que tem uma doença mental incurável, Helena (Lena Nyman), que teria sido provocada por Charlote. Eva agora cuida de Helena, que antes estava internada em um asilo.


A mãe demonstra uma frieza impressionante em relação às filhas, parece ter nojo de Helena e se pergunta porque ela não morre logo e não se mostra tão diferente em relação à Eva. Toda a sua vida sempre esteve focada em sua carreira de pianista e a família ficava em último plano.

A trilha sonora é formada por música clássica: Chopin, Bach e Schumann. Chega a ser doloroso acompanhar essa reflexão familiar, mas não se consegue nem piscar os olhos durante esse filme brilhante, o que era comum na obra de Bergman.

Direção: Ingmar Bergman. Com: Ingrid Bergman, Liv Ullman, Lena Nyman, Gunnar Björnstrand e Linn Ullman. Drama, 92 min.

sexta-feira, 23 de março de 2012

UM ANO SEM ELIZABETH TAYLOR


Hoje completa um ano que Elizabeth Taylor nos deixou e partiu para algum lugar onde só brilham as estrelas. Ela foi a última das grandes estrelas produzidas pela fábrica dos sonhos de Hollywood dos anos 50 e 60 e um dos maiores ícones do cinema.

Devido à sua grande beleza, estava destinada ao sucesso desde que nasceu em Londres em 27/02/1932 como Elizabeth Rosemund Taylor. Sua família emigrou para os Estados Unidos em 1940, fugindo da 2ª Guerra Mundial.

Com Lassie em A força do coração

Contratada pela MGM, fez sua estreia no cinema aos 11 anos em “A força do coração” (1943), contracenando com outro ator mirim, que se tornou um de seus melhores amigos, Roddy McDowall.

Elizabeth cresceu na frente das câmeras de cinema e foi uma das poucas atrizes que conseguiu fazer a transição da carreira infantil para a adulta. Em papéis de garotas mimadas, participou de “O príncipe encantado” (1948), com Carmen Miranda e “Quatro destinos” (1949). Seu primeiro papel de adulta foi como a esposa de Robert Conrad “Nick” Hilton, herdeiro da famosa cadeia de hotéis, mas o casamento durou poucos meses.


Em 1952, casou-se com o ator Michael Wilding, pai de seus filhos Michael Jr. (1953) e Christopher (1955). Divorciou-se em 1957 e no mesmo ano casou-se com o produtor Mike Todd (A volta ao mundo em 80 dias), 25 anos mais velho. Sua filha Liz Todd nasceu em 1958, pouco antes de Liz ficar viúva. Consolada pelo cantor Eddie Fisher, acabou se casando com ele, o que causou grande escândalo já que ele era marido de sua amiga Debbie Reynolds, mas a união durou pouco: quando estrelou “Cleópatra” (1963), Liz apaixonou-se por Richard Burton e os dois pediram o divórcio de seus cônjuges.


Apanhou pneumonia durante as filmagens de “Cleópatra” e pouco depois ganhou o Oscar por “Disque Butterfield 8” (1960) e depois por “Quem tem medo de Virgínia Woolf?” (1966).

O casamento com Burton terminou em 1974, mas um ano depois eles se casaram novamente. A segunda tentativa só durou 9 meses. Em 1976, Liz casou-se com o senador John Warner e virou dona de casa até os anos 80, quando resolveu fazer teatro pela primeira vez. Em 1982, separou-se do senador e jurou nunca mais se casar.

Quando Richard Burton morreu em 1984, Liz internou-se para desintoxicar-se do álcool e de barbitúricos. Depois de “A maldição no espelho” (1980), com Rock Hudson e Tony Curtis, fez filmes para a Tv como “Entre amigas” (1983), “Malice in wonderland” (1985) e “Poker Alice” (1987), além da versão para o cinema do clássico desenho “Os Flintstones” (1994).

Com Montgomery Clift em Um lugar ao sol

De todos os seus filmes, seu preferido era “Um lugar ao sol” (1951), onde conheceu Montgomery Clift, com quem iniciou sólida amizade, que durou até a morte dele em 1966, quando fariam o 4º filme juntos: “O pecado de todos nós” (1967), que acabou sendo feito por Marlon Brando. Desenvolveu longa amizade também com Michael Jackson e Rock Hudson.


Com Rock Hudson e James Dean em Assim caminha a humanidade
Dentre todos os seus filmes, os mais conhecidos pelo público são “Um lugar ao sol” (1951), “A última vez que vi Paris” (1954), “Assim caminha a humanidade” (1956), “A árvore da vida” (1957), “Gata em teto de zinco quente” (1958), “De repente, no último verão” (1959), “Disque Butterfield 8” (1960), “Quem tem medo de Virgínia Woolf?”, “O pecado de todos nós (1967), “Morte no inverno” (1979) e “A maldição no espelho” (1980) e principalmente “Cleópatra” (1963) seu maior sucesso.




quinta-feira, 22 de março de 2012

QUANDO O AMOR VACILA


Em 2003, o Multishow (Canal Globosat) produziu o show Maricotinha ao Vivo, composto por músicas e textos de autores diversos. Aprecio várias delas, como “Fera ferida”, “Anos dourados”, “O quereres”, “Todo o amor que houver nessa vida”, “Negue”, “Casinha branca”, “Amor de índio”, mas principalmente o texto “Quando o amor vacila” de autor desconhecido, que é de uma beleza impressionante. Não me canso de ver e ouvir.

QUANDO O AMOR VACILA
Autor desconhecido

Eu sei que atrás deste universo de aparências,
das diferenças todas,
a esperança é preservada.

Nas xícaras sujas de ontem
o café de cada manhã é servido.
Mas existe uma palavra que não suporto ouvir,
e dela não me conformo.

Eu acredito em tudo,
mas eu quero você agora.

Eu te amo pelas tuas faltas,
pelo teu corpo marcado,
pelas tuas cicatrizes,
pelas tuas loucuras todas, minha vida.

Eu amo as tuas mãos,
mesmo que por causa delas
eu não saiba o que fazer das minhas.

Amo teu jogo triste.
As tuas roupas sujas
é aqui em casa que eu lavo.

Eu amo a tua alegria.

Mesmo fora de si,
eu te amo pela tua essência.
Até pelo que você poderia ter sido,
se a maré das circunstâncias
não tivesse te banhado
nas águas do equívoco.

Eu te amo nas horas infernais
e na vida sem tempo, quando,
sozinha, bordo mais uma toalha
de fim de semana.

Eu te amo pelas crianças e futuras rugas.

Eu te amo pelas tuas ilusões perdidas
e pelos teus sonhos inúteis.

Amo teu sistema de vida e morte.

Eu te amo pelo que se repete
e que nunca é igual.

Eu te amo pelas tuas entradas,
saídas e bandeiras.

Eu te amo desde os teus pés
até o que te escapa.

Eu te amo de alma para alma.
E mais que as palavras,
ainda que seja através delas
que eu me defenda,
quando digo que te amo
mais que o silêncio dos momentos difíceis,
quando o próprio amor vacila.

terça-feira, 20 de março de 2012

SEXO POR COMPAIXÃO


Direção: Laura Mañá. Com: Elizabeth Margoni, Alex Ângulo, Pilar Barden, Juan Carlos Colombo, Mariola Fuentes, José Sancho. Drama. 108 min.

SEXO POR COMPAIXÃO mostra que o ato sexual pode trazer de volta a felicidade e a vida a uma cidade quase abandonada do México. Dolores (Elizabeth Margoni) é uma mulher muito caridosa e sempre pronta a fazer o bem a todos: visita uma menina muda e uma velha acamada, faz companhia a uma vaca e por causa de toda essa bondade, é abandonada pelo marido, Manolo (José Sancho). Mostra uma incapacidade latente em pecar até que um homem traído pela mulher e um virgem de 40 anos lhe pedem ajuda para resolver seus problemas. A partir desses fatos, todos os homens da vila passam a procurá-la e os ajuda. O que poderia ser um empecilho quando as outras mulheres descobrem o fato, se torna um incentivo, já que seus maridos estão mais amorosos e felizes.

A fotografia alterna cor e preto e branco. Na parte inicial, quando toda todos estão infelizes é em preto e branco e parece que os personagens enxergam assim também, mas quando eles ficam felizes, tudo se torna colorido e isso também é percebido por todos.

É muito bom assistir a filmes de diversas nacionalidades, pois só assim se pode descobrir pérolas como essa. Uma história muito sensível e tocante sobre o que a a falta de amor e a solidão podem fazer com a vida das pessoas. Mas também sobre a hipocrisia, as qualidades e defeitos de todo ser humano e as coisas que pensamos e queremos, mas não falamos, deixando assim, o problema sem solução.

Trata-se de um filme mexicano, país do qual não tive a oportunidade de assistir a muitas películas. Lembro-me de O CRIME DO PADRE AMARO com Gael Garcia Bernal, a co-produção México/Brasil SÓ DEUS SABE e DESERTO INTERIOR. Apesar de ser mexicano, não tem nada de dramalhão. Fala sobre coisas comuns a todos e apesar de triste na maior parte do tempo, tem um acalanto enorme de esperança.

Uma das cenas que achei mais bonita e chequei a me emocionar, é quando Floren (ajudante de Dolores no bar) se declara a seu amado Pepe, depois de muito tempo de repressão, cantando a música tema do filme, que transmite toda a sua essência:


“Cada silêncio que você me dá
Cada momento sem seu amor
É como um grito nas minhas veias
No vazio em que eu estou
Você é a água deste mar
Você volta, volta sempre
Me intoxicando com sua brisa
Acariciando-me sem o saber
Eu tenho a chuva que você me dá
Eu sinto seus olhos tatuando a minha pele
Tendo sua luz perto de mim.”

Altamente recomendado!



domingo, 18 de março de 2012

NÃO AMARÁS


Em 1988, o diretor polonês Krzysztof Kiéslowski realizou uma das mini-séries de TV mais famosas de todos os tempos, O DECÁLOGO, com 10 episódios de 50 minutos cada, baseados nos mandamentos da lei de Deus. Foi laureado no 46º Festival de Veneza e se tornou uma obra prima e consagrou o diretor internacionalmente. Dois desses episódios foram estendidos e lançados nos cinemas, este e “Não matarás” no ano seguinte.

Não Amarás representa o 6º mandamento “Não pecar contra a castidade”. É a história de um rapaz de 19 anos, virgem que trabalha como carteiro e é apaixonado por uma mulher mais velha que mora no prédio em frente ao seu, mas como não tem coragem de se declarar, fica espionando sua amada por um binóculo até que deixa claro seu amor.

O filme mostra de uma maneira singela e bastante sensível, os mecanismos da paixão. O garoto esnobado pela mulher mais velha, que aos poucos vai ficando encantada com todo aquele amor e acaba se apaixonando também. A situação se complica com uma tentativa de suicídio, quando ela percebe que pode ter colocado tudo a perder. É muito bonita a cena em que ela literalmente chora sobre o leite derramado.

Há muitos silêncios nessa história introspectiva. Em um momento, a dona do apartamento em que o rapaz mora, lhe explica porque as pessoas choram e sofrem. A última cena deixa um fio de esperança, apesar de parecer uma alucinação.
 

O título original Krótki film o milosci, quer dizer “Um pequeno filme sobre o amor” e é na verdade um belo filme de amor não correspondido, ou mais que isso, um amor correspondido que não dá certo.

Descubra o mais rápido possível esse filme, bem como o violento e belo “Não matarás”, a mini-série que deu origem a eles e a trilogia das cores de Kiéslowski, em especial “A liberdade é azul” e “A fraternidade é vermelha” que são primorosos.

Direção: Krzysztof Kiéslowski. Com: Grazyna Szapolowska, Olaf Lubaszenko, Drama, 82 min.

sexta-feira, 16 de março de 2012

O CINEMA COMO FORMA DE PERSUASÃO

Cena do documentário Garapa

O cinema existe há 116 anos e exerce várias funções, como entreter, ensinar, fazer o espectador pensar sobre o tema tratado em determinado filme, mas uma de suas principais funções é persuadir o público. Essa intenção já nasce desde a elaboração do argumento e do roteiro, quando roteiristas, produtores e o diretor do filme resolvem a forma como vão tratar determinado assunto e como fazer isso de uma forma convincente a fim de persuadir o espectador de que aquilo que ele está assistindo é real.

Os filmes tem um poder muito grande sobre o público. Podem diminuir preconceitos ou aumentá-los. Isso vai depender das intenções daquele diretor e da forma como o assunto é abordado naquela obra.

O gênero mais persuasivo do cinema certamente é o documentário, que chega até o público como transcrição pura da realidade, o que não chega a ser totalmente verdade, já que há formas de se maquiar a realidade a fim de torná-la mais atrativa a todos. Isso pode ser feito durante as filmagens onde o diretor pode direcionar uma entrevista para que ela atinja suas intenções, extraia mais emoção ou verdade do entrevistado ou mesmo na montagem do filme, onde o montador vai escolher as cenas que ele considera mais verdadeiras para conseguir o seu verdadeiro intento, além de atrair o público pagante o obter lucro: persuadir.

Cena de Nanook, o esquimó

Na realidade, não há tantas diferenças entre ficção e documentário. O filme Nanook, o esquimó (1922) de Robert Flaherty é a prova disso. Esse filme foi considerado uma revelação e um desbloqueio diante dos artifícios do cinema, mas apesar de descrever as ações reais, era encenado depois de uma antropológica pesquisa de Flaherty no Alaska. Era na verdade, o início dos docudramas que misturam atores com personagens reais, uma realidade ficcional ou vice-versa.



Eduardo Coutinho dirigindo Marília Pera em Jogo de Cena

Até o cinema brasileiro fez vários docudramas. Entre eles, pode-se destacar “Até a última gota” (1980) de Sérgio Rezende, onde o ator José Dumont representa um lavrador que para matar a fome, vende seu sangue com muita freqüência e vai enfraquecendo aos poucos. São contadas também histórias de pessoas que morreram devido à tal prática. Outro exemplo é “Que bom te ver viva” (1989) de Lúcia Murat em que Irene Ravache interpreta uma mulher torturada durante a ditadura militar em meio a depoimentos reais, ou até Jogo de Cena, de Eduardo Coutinho, onde atrizes famosas como Marília Pêra e Andrea Beltrão dão depoimentos intercalados com gente comum, muitas vezes interpretando suas histórias e no decorrer do "caminho", o espectador não consegue mais discernir quando é real ou quando é atuação.



Cena de Edifício Master de Eduardo Coutinho

Os documentários podem ser feitos de forma objetiva ou subjetiva, sendo a objetiva aquela que mostra as situações e os personagens reais, como o documentário brasileiro Garapa, que fala sobre a fome  e subjetiva quando mostra a maneira de ver dos próprios personagens, a maneira como vêem seus próprios problemas, como os documentários de Eduardo Coutinho.

É importante que o espectador conheça os diversos estilos e assuntos abordados pelo cinema, mas que tenha o discernimento para separar o que é bom do que é ruim. Seja enfim, um crítico que assiste a tudo para ter conhecimento, mas que tem seu ponto de vista, para não ser persuadido.

quarta-feira, 14 de março de 2012

TÍTULOS CATIVANTES


Há títulos de filmes que são tão bonitos e/ ou curiosos que só de ouvir já dá vontade de assistir, mesmo sem saber quem está no elenco ou qual a história a ser contada. Entre eles posso destacar:

JULIANA DO AMOR PERDIDO, um filme brasileiro de 1970 com Maria do Rosário (irmã de Ana Maria Nascimento e Silva) e Francisco di Franco (o Jerônimo da televisão). Baseado numa lenda do litoral paulista, é a história de uma mulher que é tida como santa, mas se apaixona por um maquinista, num romance fadado à tragédia. Um filme belíssimo.

QUALQUER GATO VIRA LATA, baseado na peça de teatro Qualquer gato vira-lata tem uma vida sexual mais sadia do que a nossa de Juca de Oliveira que teve grande sucesso tanto no teatro, quanto no cinema.



VIAJO PORQUE PRECISO, VOLTO PORQUE TE AMO. Misto de documentário e ficção dirigido por Karin Aïnouz e Marcelo Gomes lançado sem muito sucesso nos cinemas. É a observação poética sobre o sertão a partir de uma pessoa que está viajando e vive uma desilusão amorosa. Tem algumas canções belíssimas na trilha sonora.



EU RECEBERIA AS PIORES NOTÍCIAS DOS SEUS LINDOS LÁBIOS. Filme nacional dirigido por Beto Brandt, que ainda não foi lançado. É a história de amor de um fotógrafo por uma mulher de dupla personalidade.



UM BONDE CHAMADO DESEJO. Peça de teatro de Tenesse Williams, transformada em filme em 1951 com Vivien Leigh e Marlon Brando no elenco e o nome de UMA RUA CHAMADA PECADO, pois o título tinha sido censurado. Refilmado para a TV em 1995, com o título original e com Alec Baldwin e Jéssica Lange no elenco.


GATA EM TETO DE ZINCO QUENTE. Filme de 1958 com Elizabeth Taylor e Paul Newman, sobre a esposa de um ex-atleta que entra em depressão por não despertar mais o seu interesse. A censura teria suavizado o homossexualismo do personagem principal. Também baseado em peça de Tenesse Williams.


HÁ TANTO TEMPO QUE TE AMO. É a história de uma mulher que retorna à casa da irmã depois de 15 anos de ausência e rejeição.

NÓS QUE NOS AMÁVAMOS TANTO. Filme de Ettore Scola que conta a história de três amigos por 30 anos, contando também a história da Itália.

NUNCA FOMOS TÃO FELIZES. O último filme de Meiry Vieira (que eu adoro).


Além dos títulos maliciosos e de duplo sentido que estiveram presentes em todo o período da pornochanchada, como EFIGÊNIA DÁ TUDO O QUE TEM, RETRATO FALADO DE UMA MULHER SEM PUDOR, O BEM DOTADO – O HOMEM DE ITU e tantos outros.

E você, quais títulos acha curiosos e que chamaram sua atenção para determinado filme?


segunda-feira, 12 de março de 2012

CINEMA PARADISO


Um dos filmes indispensáveis a qualquer amante da sétima arte que se preze. Vencedor de dezenas de prêmios como o Oscar e o Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro e o grande prêmio do Júri no Festival de Cannes. A lista completa dos prêmios é mostrada no início do filme.

Um produtor de cinema, Salvatore (Jacques Perrin) recebe a notícia da morte de seu grande amigo Alfredo (Philippe Noiret dublado) que lhe ensinou a amar o cinema na época em que trabalhava como projecionista em sua cidade natal. Um longo flashback mostra a vida desse personagem desde quando era criança (vivido pelo adorável Salvatore Cascio que padeceu do mal que acomete várias crianças famosas, o de desaparecer depois que começam a crescer), quando acompanhava as sessões do cinema Paradiso, mas não se deu por satisfeito enquanto não conseguiu trabalhar também como projecionista, já que sua paixão por cinema ia além, ele queria estar envolvido mais diretamente no processo.


O título original é NUOVO CINEMA PARADISO, que é explicado depois de um tempo de projeção, quando o primeiro cinema pega fogo e um homem que ganhou na loteria promove a sua reabertura.

O menino apelidado de Totó (parece nome de cachorro) é coroinha nas horas vagas e cochila durante as missas, já que passa as noites no cinema. Quando ele se torna adolescente sua atenção é dividida pelo amor que sente por uma colega de colégio, que ele passa a ficar todos os debaixo debaixo de sua janela até que ela se apaixone por ele, o que realmente acontece, mas quando ela tem que se mudar, o romance fica abalado. Há uma versão estendida com meia hora a mais que mostra o reencontro do casal depois de adultos, mas essa versão não foi lançada em DVD e o espectador sente falta de uma resolução desse amor.

O padre local assistia com antecedência aos filme e mandava que fossem cortadas todas as cenas de beijo, sob vaias da plateia. Salvatore recebe de presente de Alfredo um copião com essas cenas, que são mostradas ao final numa seqüência emocionante. Há também durante todo o filme, cenas de dezenas de outras películas que fazem a festa de qualquer cinéfilo.

Uma declaração de amor ao cinema.

Direção: Giuseppe Tornatore. Com: Philippe Noiret, Jacques Perrin, Salvatore Cascio, Drama, 123 min.


domingo, 11 de março de 2012

HOMENAGEM (ATRASADA) AO DIA DA MULHER


No dia 08 de março, comemorou-se o Dia da Mulher. E não há um nome melhor para representar todas as mulheres que Maria, que é também o nome da mãe de Jesus, da minha mãe, da minha avó, de várias das minhas tias e de tantas outras mulheres tão fortes, que se desdobram para efetuar suas tarefas de mãe, donas de casa, esposas e trabalhadoras em geral. Milton Nascimento cantou divinamente a "arte" de ser Maria e de ser mulher.

Maria, Maria
Milton Nascimento

Maria, Maria, é um dom, uma certa magia
Uma força que nos alerta
Uma mulher que merece viver e amar
Como outra qualquer do planeta
Maria, Maria, é o som, é a cor, é o suor
É a dose mais forte e lenta
De uma gente que ri quando deve chorar
E não vive, apenas aguenta

Mas é preciso ter força, é preciso ter raça
É preciso ter gana sempre
Quem traz no corpo a marca
Maria, Maria, mistura a dor e a alegria
Mas é preciso ter manha, é preciso ter graça
É preciso ter sonho sempre
Quem traz na pele essa marca
Possui a estranha mania de ter fé na vida


sexta-feira, 9 de março de 2012

32 ANOS ESTA NOITE


Quando completei 30 anos, fiz uma festa e dei o nome de De repente, 30, por causa do hilário filme com Jennifer Garner, mesmo sabendo do filme 30 anos esta noite de Louis Malle, onde um homem decide se suicidar quando completa essa idade. Se eu fosse fazer festa este ano, daria o nome de 32 anos esta noite, apesar de pensar totalmente diferente daquele personagem e ainda acreditar que Tudo pode dar certo, agora que estou Aprendendo a viver e me divertindo tanto.

Depois de tanto tempo, acho que nem tenho certeza de quem sou, só sei do gosto: de cinema, de música, da minha família, dos amigos, de ler, escrever e de cuidar do coração (e como ele dá trabalho). Ainda tenho tantas coisas para descobrir, aprender, ensinar. Tomara que dê tempo pra tudo isso.

Sinto-me como um novato que chega de repente em algum lugar (sem avisar com antecedência) e passa despercebido de início até "tomar pé da situação" e se tornar imprescindível. Tento ser bom o tempo todo, apesar de isso ser tão difícil. Sei que existem algumas pessoas muito complicadas e como trabalho com elas o tempo todo (em um colégio), isso é recorrente.

Às vezes penso que Querem me enlouquecer. Não posso deixar minha mente desocupada, pois tenho medo de que consigam esse intento. Apesar de não ser noivo, sou muito neurótico e nervoso, além de ansioso e preocupado, mas tenho que aprender a controlar isso, mesmo sem usar de antidepressivos ou calmantes.

Continuo À procura da felicidade e também de um Amor sem fim e acho que Agora seremos felizes, eu e aqueles que cruzarem meu caminho. Pelo menos é isso que espero e o que desejo nessa data.

quarta-feira, 7 de março de 2012

1300 FILMES BRASILEIROS


Bruno Garcia e Bruna Lombardi em Onde está a felicidade?

Completei dia desses 1300 filmes nacionais assistidos, com o filme Onde está a felicidade? de Carlos Alberto Riccelli e roteiro de Bruna Lombardi. O filme é meio chatinho e bem inferior ao anterior da dupla, O signo da cidade, mas isso é só um detalhe.

A princesa Xuxa e os Trapalhões

A paixão pelo Cinema Nacional surgiu há muitos anos, com certeza influenciada pelos filmes dos Trapalhões e da Xuxa, que eram exibidos constantemente na Sessão da Tarde da Rede Globo. Depois acompanhava o “Made in Brazil” da Band que exibia entre outros filmes nacionais, as adoráveis pornochanchadas. Em seguida veio a TVE Brasil com o Cadernos de Cinema que após a exibição dos filmes, levava convidados para debater o longa sob o comando da jornalista Vera Barroso. A rede Globo, naquela época só exibia filmes brasileiros na primeira semana do ano com o Festival Nacional, mas isso ainda era pouco para mim que consumia avidamente esses filmes.




Ênio Gonçalves e Luiz Fernando Ianelli em O menino e o vento
 Descobri o Cine Brasil TV, um canal de produção independente que passa vários filmes e o melhor de tudo: é exibido em sinal aberto no satélite para quem quiser assistir. Foi nesse canal que conheci quase todos os filmes do diretor Carlos Hugo Christensen, como “O menino e o vento”, “Enigma para demônios”, “Anjos e demônios”, “Viagem aos seios de Duília” e do diretor e ator Carlo Mossy, um dos reis da pornochanchada, além de tantos outros filmes imperdíveis dos anos 60 aos anos 90. O canal é dirigido por Tereza Trautman (que tive a oportunidade de conhecer e é um amor de pessoa) que nos anos 70 e 80 dirigiu filmes como “Os homens que eu tive” e “Sonhos de menina moça”. Infelizmente o canal passou por alguns problemas quando várias operadoras independentes o retiraram de seu line-up e o número de assinantes caiu drasticamente, mas o canal ainda continua no ar, infelizmente sem muitas novidades.

Denys Derkian em Erótica - A fêmea sensual
O Canal Brasil ainda continuava sendo um sonho, quando descobri a TV por assinatura “Astral Sat” e virei assinante só por causa desse canal. Oito meses depois o canal foi retirado e ela logo faliu. Reclamei muito, mas não adiantou nada. Estava de novo órgão do Cinema Brasileiro quando resolvi assinar a Sky.
Conheci um pouco (ou muito) de cada fase do nosso cinema, como:
• As chanchadas dos anos 50 e 60: “Pintando o sete”, “Entrei de gaiato”, “Dona Violante Miranda”, os filmes do Mazzaropi: “Jeca Tatu”, “Sai da frente”, “Jecão – Um fofoqueiro no céu”, etc.

Maria Ribeiro e Átila Iório em Vidas Secas
• Os filmes do Cinema Novo, difíceis mais indispensáveis: “Terra em transe”, “Deus e o diabo na terra do sol”, “Menino de engenho”, “O pagador de promessas”, “Assalto ao trem pagador”, “Vidas secas”, etc.

Paulo Villaça e Sonia Braga em O bandido da luz vermelha
• O cinema marginal (underground ou udigrudi): “O bandido da luz vermelha”, “A margem”, “O anjo nasceu”, “Bang bang”, “O pornógrafo”, “Os monstros de Babaloo...


• Os filmes de cangaço: “A ilha das cangaceiras virgens”, “Corisco – O diabo loiro”, “O dragão da maldade contra o santo guerreiro”, etc.

Darlene Glória e Paulo Porto em Toda Nudez será castigada
• A era Embrafilme: “Toda nudez será castigada”, “Iracema – Uma transa amazônica”, “Lição de amor”, “Dona Flor e seus dois maridos”, “Bye, bye Brasil”, “Pixote – A lei do mais fraco”, etc.

Odete Lara e Carlo Mossy em Copacabana me engana
• As pornochanchadas: “Essa gostosa brincadeira a dois”, “Quando as mulheres querem provas”, “Dezenove mulheres e um homem”, “A noite das taras”, “As seis mulheres de Adão”, “Giselle”, “Mulher objeto”, “Convite ao prazer”, “O bem dotado – O homem de Itu”, “Bordel – Noites proibidas, etc.
• Os filmes de sexo explícito: “Coisas eróticas”, “Sexo proibido”, “As ninfetas do sexo ardente”, “Colegiais em sexo coletivo”, “Sexo de todas as formas”, “O ônibus da suruba”, etc.

Carolina Ferraz e Bertrand Duarte em Alma Corsária
• Os anos da crise (Era Collor): “Césio 137 – O pesadelo de Goiânia”, “Inspetor Faustão e o Mallandro”, “Sua excelência – O candidato”, “A maldição de Sampaku”, “Alma corsária”, “Capitalismo selvagem”, “A tv que virou estrela”, “Beijo 2348/72”, “Sábado”, “Veja esta canção”...

Leona Cavalli e Paulo Vespúcio em Um céu de estrelas

• A Retomada: “Carlota Joaquina – Princesa do Brazil”, “O quatrilho”, “Terra estrangeira”, “Como nascem os anjos?”, “O que é isso companheiro?”, “Um céu de estrelas”, “Os matadores”, “Central do Brasil”, “Hans Stadden”, “Paixão Perdida” ...

Rodrigo Santoro em Abril Despedaçado
• Os anos 2000: “Villa Lobos – Uma vida de paixão”, “Amélia”, “Cronicamente inviável”, “Tolerância”, “Abril despedaçado”, “Copacabana”, “Durval Discos”, “Deus é brasileiro”, “Viva voz”, “Olga”, “Tapete vermelho”, “Carreiras”, “Achados e perdidos”, “Brasília 18%”, etc.

Débora Falabela e Marieta Severo em A dona da história
• Os filmes da Globo Filmes: “Orfeu”, “A dona da história”, “Sexo, amor e traição”, Trair e coçar é só começar”, “Sexo com amor?”, “O coronel e o lobisomem”, “Se eu fosse você” 1 e 2, “Os normais” 1 e 2, “Cazuza – O tempo não para”, “Verônica”, etc.

Acho que não cabe aqui citar os meus atores e diretores preferidos, pois gosto de quase todos (uns mais outros menos), independente da fase ou época do nosso cinema.

Por falta de tempo acabei cancelando minha assinatura na época da faculdade e até hoje não retornei. Hoje a maioria dos filmes nacionais que assisto são baixados na internet.