segunda-feira, 30 de julho de 2012

OS BARCOS

Renato Russo



Você diz que tudo terminou

Você não quer mais o meu querer

Estamos medindo forças desiguais

Qualquer um pode ver


Que só terminou pra você
São só palavras, texto, ensaio e cena
A cada ato enceno a diferença
Do que é amor ficou o seu retrato

Da peça que interpreto, um improviso insensato
Essa saudade eu sei de cor
Sei o caminho dos barcos
E há muito estou alheio e quem me entende

Recebe o resto exato e tão pequeno
É dor, se há, tentava, já não tento
E ao transformar em dor o que é vaidade
E ao ter amor,se este é só orgulho

Eu faço da mentira, liberdade
E de qualquer quintal faço cidade
E insisto que é virtude o que é entulho
Baldio é o meu terreno e meu alarde

Eu vejo você se apaixonando outra vez
Eu fico com a saudade e você com outro alguém
E você diz que tudo terminou
Mas qualquer um pode ver

Só terminou pra você
Só terminou pra você
Só terminou pra você 



sexta-feira, 27 de julho de 2012

SAINDO DO ARMÁRIO



Direção: Simon Shore. Com: Ben Silverstone, Brad Gorton, Charlotte Brittain, Stacy Hart, Tim Harris. Drama, 110 min.

“Queria que os outros gostassem de mim pelo que eu sou, não pelo que eu finjo que sou”

Essa é a frase dita por Steven (Ben Silvertone) no momento em que ele realmente resolve sair do armário, durante um discurso na escola e completa: “O que importa é o amor. Qual a diferença? Ele tem 16 anos e passa pela angústia juvenil de se descobrir homossexual e o sofrimento que isso lhe causa, principalmente por ter que esconder dos outros quem ele é. A primeira a saber é Linda, uma amiga gordinha que serve como alívio cômico entre os momentos dramáticos.


Steven começa sua vida sexual num banheiro público, com um homem que depois ele descobre ser casado, mas seu verdadeiro amor é John Dixon (Brad Gorton) um campeão de corridas e o garoto mais bonito da escola. De início o romance parece impossível, mas com o tempo passa a ser correspondido, apesar do medo de John de ser descoberto pelos outros, já que tem namorada e não está preparado para se aceitar.


Saindo do armário é uma produção inglesa aclamada como um dos melhores filmes sobre a descoberta e principalmente sobre a aceitação da condição de homossexual. O filme é totalmente crível, com exceção do momento do discurso de Steven em que todos entendem e o aplaudem. Um pouco de exagero, é claro. A aceitação existe, mas nunca chega a 100%, como nessa cena. Os personagens são reais e poderiam ser seus vizinhos. As situações poderiam acontecer com qualquer um e exalam uma sensibilidade impressionante.

Não é destinado a nenhum público específico, mas sim a todos, pois prega a auto-estima e a aceitação do que é diferente e por isso causa medo à primeira vista, já que as pessoas temem o que não conhecem. Então conheça essa adaptação da peça de Patrick Wilde, adaptada pelo próprio autor. Um detalhe: não há cenas de sexo, só beijos e nem são muitos.


terça-feira, 24 de julho de 2012

MULHER, MULHER



Direção: Jean Garrett. Com: Helena Ramos, Carlos Casan, Petty Pesce, Denys Derkian, Liana Duval e Cavagnole Neto. 100 min.

O diretor Jean Garret sempre demonstrou bom gosto e talento em filmes como Possuídas pelo pecado (1976), “Excitação” (1977), até em seu primeiro pornô: “Gozo alucinante” (1984), que é uma ficção científica fotografada por Carlos Reichenbach, que também faz a fotografia deste.

Alice (Helena Ramos) é uma mulher viúva que não se sentia realizada com o marido psiquiatra e depois de sua morte resolve ir para uma casa de campo espairecer (esses lugares sempre parecem milagrosos), reencontra seu adorado cavalo Jumbo, pelo qual nutre uma paixão, enquanto sofre o assédio do advogado Luiz Carlos (Denys Derkyan de “O fuscão preto”), do qual ela se esquiva e de Marta (Petty Pesce) uma mulher liberada que passa uns dias numa barraca à beira da praia.

O filme começa de maneira muito interessante, mostrando os desejos não realizados dessa mulher que ouve as fitas das pacientes de seu marido e aos poucos vai enlouquecendo, ficando histérica e não consegue se realizar com ninguém. Apesar de talentoso, Jean Garrett era meio paranóico e isso transparece em quase todos os seus filmes. Este tem a narrativa truncada e às vezes confusa.



Helena Ramos não fotografa bem como loura, ficando apagada e sem vida e sua voz parece ter sido dublada por outra atriz, o que ela confirma ser normal naquela época quando os atores não tinham tempo. As cenas aqui são mais ousadas que nos outros filmes dela, inclusive com alguns closes indiscretos na hora do banho, já as cenas com o cavalo são até discretas. Eles passavam em seu corpo algum líquido adocicado e então o cavalo a lambia, enquanto ela fingia sentir prazer. Ainda bem que ela não fez outro filme do gênero. É quase impossível se identificar ou gostar de sua personagem devido a seu histerismo e paranóia. “Mulher, mulher” definitivamente não está entre seus melhores filmes.

Este foi o precursor no Brasil de um gênero que nem deveria ter existido: os filmes sobre zoofilia, em que pessoas sentem atração por animais e acabam se realizando com eles. Este gênero pode ter ajudado a matar o cinema da boca do lixo, devido ao seu mau gosto e péssima qualidade.


Os primeiros animais a protagonizarem esses filmes, foram os cavalos, primeiro em cenas simuladas com Aryadne de Lima em “A menina e o cavalo” (1983), em seguida Sandra Morelli ficou marcada como a rainha dos filmes sobre cavalos: “Sexo a cavalo” (1986), “Loucas por cavalos” (1986). “A garota e o cavalo” (1986), “Tudo por um cavalo” (1988), “Um homem, uma mulher e um cavalo” (1988) e até pôneis: “Júlia e os pôneis” (1987), junto com Márcia Ferro, mas as cenas de Sandra eram até discretas e ela obrigava o marido (Ronaldo Amaral) a se portar como um eqüino. Márcia Ferro ainda protagonizou “Minha égua favorita (1985), “Duas mulheres e um pônei” (1986), “Viciadas em cavalos” (1987), “Mulheres e cavalos” (1987). Depois disso as coisas foram piorando, os filmes ficaram mais pesados e envolviam todo o zoológico: “Mulheres taradas por animais”; cachorros: “24 horas de sexo ardente” (1984), “Meu cachorro, meu amante” (1986), “Alucinações sexuais de um cachorro” (1986); cabras: “Minha cabrita, minha tara” (1986); touro: “ A Mulher do touro”; galinhas: “A galinha do rabo de ouro”; macacos: “Alucinações sexuais de um macaco” (este com alguém fantasiado de macaco); jegue: “Emoções sexuais de um jegue” e até piranhas: “O beijo da mulher piranha”, também de Garrett com o pseudônimo de J. A. Nunes.


Eu particularmente abomino esses filmes em que se usam animais para tais fins, como também abomino os filmes em que são usados menores de idade ou pessoas indefesas.


sábado, 21 de julho de 2012

PORNOCHANCHADA: O SANTO DE CASA QUE FAZIA MILAGRES


David Cardoso e Vera Fischer em Sinal Vermelho: As fêmeas

Desde aqueles tempos até os dias atuais, a pornochanchada sempre foi tratada com preconceito por certa parte do público, em especial pelos intelectuais, por alguns falsos moralistas e até pelos próprios colegas da classe cinematográfica que encontravam qualidade apenas nas obras de Glauber Rocha ou Nelson Pereira dos Santos durante o Cinema Novo. Mas, se por um lado havia uma grande distância entre as propostas desses dois gêneros, também havia por outro, grande diferença em termos de procura pelo público, pois, em geral, este não era atingido pelas herméticas histórias de cunho político das obras de Glauber e Nelson.

Ao contrário, o grande público achava aquilo tudo muito chato, além de seu nível de informação, enquanto a pornochanchada era de fácil assimilação, com temas que faziam parte da vida ou da fantasia de cada um daqueles indivíduos que compunham a grande e fiel plateia, que esperava impacientemente pela próxima produção. Esse tipo de filme, então, parecia ser a “galinha dos ovos de ouro” dos produtores, pois custava pouco e tinha retorno garantido de bilheteria.


Wilza Carla e Cecil Thiré em Ainda agarro esta vizinha

Como as pornochanchadas eram sucesso garantido de público, não tinham problemas com os exibidores e distribuidores, ao contrário do que acontecia com muitos filmes brasileiros que sofriam uma certa rejeição por parte do exibidor tradicional. Evidentemente haviam outras produções, outras propostas bem sucedidas transitando neste nicho do gosto popular, como por exemplo os filmes de Mazzaropi e os primeiros filmes dos Trapalhões – isso na década de 70.

Ao contrário do velho ditado popular, a pornochanchada era “o santo de casa que fazia milagres”, pois manteve grandes bilheterias por mais de 15 anos, o que justifica os números registrados: entre os filmes nacionais mais vistos entre 1970 e 1985, encontramos 59 pornochanchadas que conseguiram mais de um milhão de espectadores, e 132 filmes que receberam entre 500 mil e um milhão de público. Como se sabe, o texto em si nem sempre saia das mãos de conhecidos autores, mas isso, aparentemente, não era mesmo a principal preocupação dos produtores. No caso da pornochanchada alguns outros ingredientes se tornavam fundamentais, como por exemplo, mulheres bonitas e provocantes, homens também com um belo visual, e, sem dúvida, uma trama que oferecesse provocações sensuais a uma plateia que procurava o cinema exatamente com esse objetivo.

Adriana Prieto

Como primeiro grande sucesso desse gênero, podemos citar A Viúva Virgem de Pedro Carlos Rovai (1972), com o espantoso número de 2.635.962 espectadores. Esse filme foi protagonizado por Adriana Prieto, atriz que interpretou donzelas em diversos filmes, passando a ser conhecida como a “virgem profissional”, pois interpretou este papel nos filmes A Penúltima Donzela, A Viúva Virgem e Ainda Agarro Esta Vizinha, tornando-se bastante conhecida pelos cinéfilos da época. Com apenas 25 anos, logo após ter participado de O Casamento, de Arnaldo Jabor, em 1975, sofreu um trágico acidente de carro e faleceu prematuramente.

Alba Valéria, Carlo Mossy e Maria Lúcia Dahl em Giselle

Depois de A Viúva Virgem, vieram vários outros sucessos, atingindo números até então inusitados de espectadores, como os 1.241.913 que assistiram a Sinal Vermelho: as Fêmeas (1972) que foi a estreia no cinema da Miss Brasil Vera Fischer. Alguns outros números de espectadores também fogem do que se conhecia até então, como aconteceu nos filmes: Quando as Mulheres Paqueram (1972) com 1.218.525; Como Era Boa a Nossa Empregada (1973) com 2.163.036; A Superfêmea (1973) com 1.252.431; Ainda Agarro Essa Vizinha (1974) – 1.922.478; O Roubo das Calcinhas (1975) – 2.017.063; Bacalhau (1976) com 1.352.217, numa sátira ao filme Tubarão de Steven Spielberg; Dezenove Mulheres e um Homem (1977) com 1.018.727; Mulher, Mulher (1979) com 1.508.225; Giselle (1980) com 2.206.628 e Aluga-se Moças (1981) com 3.082.925, (o título do filme saiu assim com erro ortográfico mesmo, e ganhou em 1983 uma continuação de menor sucesso). Além desses, há centenas de outros títulos, todos com números espantosos de ingressos vendidos. Para que possamos avaliar a significância da pornochanchada no mercado cinematográfico, temos as seguintes informações no site da Ancine (Agência Nacional de Cinema): no ano de 1974, entre 20 filmes com mais de um milhão de espectadores, 9 eram pornochanchadas e em 1977, os 20 filmes que conseguiram atrair entre 500 mil e um milhão de espectadores eram comédias eróticas.

Jorge Dória em Como era boa nossa empregada




quarta-feira, 18 de julho de 2012

FOTOS QUE TIREI PELO CAMINHO

Over the rainbow
Sempre gostei de tirar fotos. Há um tempo atrás até colocava no canto superior direito do blog uma sessão com esse mesmo nome, mas ninguém nunca comentava, então retirei e resolvi colocar aqui com o título parodiando o filme Coisas que perdemos pelo caminho, protagonizado por Halle Berry e Benício Del Toro. 



A seguir as fotos que tirei pelo caminho homenageando filmes famosos:


O Sol por testemunha

Tenha fé


Copacabana me engana


Jesus Cristo Superstar


O olho mágico do amor


O Natal Mágico


O beijo no asfalto


Chuvas de verão


Os girassóis da Rússia


Crepúsculo


À sombra dos jabuticabais


A opção ou As rosas da estrada


Jesus Cristo eu estou aqui



Gata em teto de zinco quente


Jantar com amigos

Também somos irmãos

O cão dos Baskerville




domingo, 15 de julho de 2012

FILMES DE FÉRIAS

Jude Law e Cameron Diaz em O amor não tira férias

O período de férias quase sempre foi abordado no cinema em forma de comédia, como na trilogia estrelada por Chevy Chase; em As grandes férias com Dan Aykroyd e John Candy e Férias do barulho com o iniciante Johnny Depp, mas de forma descaradamente romântica em Férias de amor e O amor não tira férias.


Confira outros filmes bem adequados a esse período em que muitos estão de férias e tem bastante tempo livre para se espalhar no sofá comendo pipoca ou ir ao cinema:


Queen Latifah em As férias da minha vida

Robin Willians em Férias no trailer

Rowan Atkinson em As férias do Mr. Bean

Férias em alto astral

Kristen Stewart e Jesse Eisenberg em Férias frustradas de verão

Férias do barulho

John Candy em As grandes férias

Mark Harmon em Curso de Férias

Chevy Chase e Beverly Dangelo em Férias Frutadas

Willian Holden e Kim Novak em Férias de amor

quinta-feira, 12 de julho de 2012

ENTREVISTA COM A CRÍTICA DE CINEMA TACILDA AQUINO - PARTE 2


Tacilda Aquino com seu sobrinho


Qual seu gênero preferido e de qual menos gosta?

Quando atuava sistematicamente, me via na obrigação de assistir todos os gêneros, até mesmo os besteiróis do estilo Todo Mundo em Pânico. Atualmente quando vejo o anúncio de um filme destes dou graças a Deus de não estar mais empregada. Além destas bobagens confesso que não gosto muito dos filmes de vampiros (não vi e nem sinto vontade de ver a trilogia Crepúsculo). Acho que gosto mais de drama porque ele, o drama, dá a chance de o cinéfilo apreciar grandes interpretações. Nos filmes de ação, o espetáculo geralmente fica por conta dos efeitos especiais.


Daniel Dantas e Andrea Beltrão em Pequeno Dicionário Amoroso
 O que você acha do cinema nacional? Será que um dia ele terá condições de concorrer com o cinema americano ou pelo menos de tornar-se uma indústria?

Temos grandes diretores e grandes filmes. Sempre tivemos. Desde os tempos da Vera Cruz, de Oscarito, Grande Otello, Glauber, Anselmo Duarte. Mas temos muita bobagem também. Acho que o maior pecado do cinema nacional ainda é o fato dele ser uma extensão da TV, da maior produtora ser ligada à maior rede de TV. Tenho uma certa preguiça de ir ao cinema e ver na telona os mesmo atores das novelas. Quando se tem a sorte de ver na tela uma história bem contada ainda dá, mas como a gente vê coisas como E aí.. Comeu? eu realmente fico triste. Mas temos bons filmes, e bons diretores e vale citar alguns que valem a pena rever, como de Walter Salles (Central do Brasil), Fernando Meireles (Cidade de Deus), José Padilha (Tropa de Elite 1 e 2), Karim Ainouz (O Céu de Suely), Jorge Furtado (Ilha das Flores), Eliane Café (Kenoma), Guel Arraes (O Auto da Compadecida). Entre os atores de TV que ainda valem a pena serem vistos na telona eu destaco o José Dumont, Selton Mello, Lázaro Ramos, Mateus Nachtergale, Marco Nanini. As atrizes, Fernanda Montenegro, Denise Fraga. Tem um filme brasileiro que gosto demais, chamado Pequeno Dicionário Amoroso, que a Sandra Werneck dirigiu em 1997, com Andrea Beltrão e Daniel Dantas, conhece? Gosto muito dele.


John C. Reilly, Jodie Foster, Christoph Waltz e Kate Winslet em O Deus da Carnificina
 Também adoro o Pequeno Dicionário Amoroso, Tacilda, mas com que freqüência você vê filmes? Diariamente, quando dá tempo, ou quando dá vontade?

Quando não dá para não deixar de ir. Quando estréia um filme de Polanski (O Deus da Carnificina), do Ridley Scott (Prometheus) ou uma nova aventura do Homem Aranha (meu super-herói predileto dos tempos em que lia HQs). Ou para ver a quantas anda o cinema nacional e descobrir que Assalto Ao Banco Central, de Marcos Paulo é uma grande roubada ou que E aí... Comeu? é de um tremendo mau-gosto. E tem a questão de quando tenho dinheiro também (risos)


Você vê mais filmes no cinema, em DVD ou na TV por assinatura? Qual deles é o seu preferido?

No cinema. DVD quase não vejo porque se não vejo na tela grande, baixo da internet e vejo na TV, aí quando sai o DVD já não tem muita graça ver de novo. No DVD vejo muitos shows musicais. Não existe nada que supere se assistir a um filme “no escurinho do cinema...”

Elenco de Law and order SVU
 Sei da sua paixão por séries de TV, que ultimamente estão com um padrão tão alto de qualidade que conseguem atrair atores do porte de Dustin Hoffman. Quais são suas séries preferidas?

Não gostei da séria estrelada por Dustin Hoffman. Assisti somente dois episódios. Gosto imensamente de Law & Order SVU, que vai entrar na décima quarta temporada, The Good Wife, Dexter, o serial killer que a gente odeia amar, mas não consegue evitar e Smash, cuja ação se passa nos bastidores de um musical da Broadway. Ocasionalmente vejo The Big Bang Theory e os clássicos Friends e Seinfeld.


Você ainda trabalha com crítica cinematográfica? Como é a sua rotina?

Não estou mais trabalhado. Trinta anos de jornalismo me renderam uma boa LER (Lesão Por Esforço Repetitivo) e tenho dores crônicas nos dedos quando digito por muito tempo. Mas ainda gosto de escrever e quando quero matar a saudade, cometo algum comentário para meu blog (www.tacilda-aquino.blogspot.com) e para o Jornal Opção (www.jornalopcao.com.br)


Tacilda, obrigado pela honra de me conceder essa entrevista. Foi a minha primeira. Não imagina o quanto sinto saudades daqueles tempos da pós-graduação em que estudávamos e depois sempre dávamos um jeito de nos reunir com os colegas e jogar conversa fora, sobre cinema ou coisas afins.

Grande abraço.


segunda-feira, 9 de julho de 2012

ENTREVISTA COM A CRÍTICA DE CINEMA TACILDA AQUINO


Tacilda Aquino


Hoje apresento a vocês a entrevista que fiz com a crítica de cinema (e amiga) Tacilda Aquino. Conhecemos-nos no curso de Especialização em Cinema e Educação e devo confessar que aprendi muito com ela, já que ela fez da crítica cinematográfica a sua vida, trabalhando por mais de 30 anos no jornal de maior circulação no estado de Goiás, “O Popular”. E é alguém que entende muito de cinema.


Cacilda Becker em Floradas na Serra
 Gilberto - Como começou sua paixão por cinema?

Tacilda Aquino - Não sei bem. Acho que veio do meu pai. Ele era alfaiate em Barreiras, na Bahia e quando veio para Goiás se empregou no antigo Cine Santa Maria (no Centro de Goiânia) como porteiro. E assistia aos filmes que podia. Quando nasci, estava em cartaz Floradas na Serra, que tinha sido lançado dois anos antes. O filme era dirigido pelo italiano Luciano Salce com roteiro baseado em romance homônimo de Dinah Silveira de Queiroz, produzido pelos estúdios Vera Cruz. O filme era estrelado por Cacilda Becker Jardel Filho. Meu pai queria me registrar como Cacilda, em homenagem a Cacilda Becker, mas como já tinha meu irmão Tackson, minha mãe o convenceu a trocar o C pelo T.


Quando cursou jornalismo, você já pensava em trabalhar como crítica de cinema ou foi algo que surgiu com o tempo?

Na realidade não. Sempre gostei de jornalismo cultural, mas passei por todas as editorias no jornal e também trabalhei em rádio, no jornalismo e na produção executiva de programação. A crítica apareceu como uma das diversas atividades quando fui para o Caderno Dois, primeiro no jornal Folha de Goyaz e depois em O Popular. Quando o Tadeu Porto, que era o titular da coluna de cinema de O Popular deixou o jornal, fiquei escrevendo no lugar dele e fui ficando. Tempos depois, quando fui transferida pela a editoria de Informática, continuei escrevendo para o Caderno 2.


Betty Faria em Bye Bye Brasil
 Além de A noite americana, quais seus filmes preferidos?

Difícil eleger um filme predileto. Tenho alguns que me tocaram mais e tiveram significados especiais porque foram visto em momentos especiais de minha vida.  A pergunta remete à anterior. Para você ter uma idéia, em 1977 (ano em que entrei na faculdade) assisti A Garota do Adeus, de Herbert Ross e me apaixonei por Marsha Mason e Richard Dreyfuss. E antes de entrar na faculdade já tinha me apaixonado por Clint Eastwood em Dirty Harry, que apareceu pela primeira vez na telona em 1971. E também por Perversa Paixão que já revelava Eastwood como um diretor que prometia. Adoro Bye bye Brasil, de Cacá Diegues, A Hora da Estrela, principalmente pela interpretação de Marcela Cartaxo, de Mulher Objeto, de Sílvio de Abreu, O Homem do Pau Brasil, de Joaquim Pedro de Andrade.

Gosto muito de um filme do Neil Jordan, de 1981, chamado O Doce Sabor de um Sorriso (Only When I Laugh), com Marsha Mason, que fala do relacionamento entre uma atriz alcoólatra que está tentando parar de beber e a sua filha adolescente. Este filme foi feito dos anos depois de A Garota do Adeus, com a mesma Marsha Mason e Richard Dreyfuss.


Adoro os filmes de Krzysztof Kiéslowski, principalmente Não Matarás, e Não Amarás. Gosto de um filme iraniano A Caminho de Kandahar de Mohsen Makhmalbaf, O Jarro do também iraniano Ebrahim Foruzesh. Recentemente gostei imensamente de Precisamos Falar Sobre o Kevin de Lynne Ramsay com Tilda Swinton, que está excepcional. Não entendi porque ela não foi indicada ao Oscar. Tá vendo o gosto é diversificado. Asssim fica difícil dizer que esse ou aquele é o predileto.
















Conte-nos sobre os atores e diretores que conheceu. Quais os que mais te impressionaram por sua simpatia e quais os que te decepcionaram?

Ninguém me decepcionou porque na verdade não esperava nada além do que eles tinham para dar. Estavam aqui para divulgar seus filmes e sempre eram simpáticos. Gostei imensamente de conversar com Alan Parker quando da realização de Coração Satânico (1987). Ele estava trabalhando na pré-produção de Mississipi em Chamas, que realizaria no ano seguinte e conversamos despretensiosamente sobre o filme e também sobre A Chama que Não se Apaga (Shoot The Moon), que ele tinha feito em 1982 e não tinha alcançado o resultado esperado. Eu tinha gostado muito do filme e Parker disse que era um de seus prediletos. Isso rendeu boas conversas. Claro que adorei conversar com a musa de A Noite Americana, Jacqueline Bisset. Infelizmente não tinha sido por conta do filme. A conversa foi sobre Hig Season (1988), de Clare Peploe, esposa de Bernardo Bertollucci, que estava se aventurando na direção. O interessante é que o filme tinha uma ponta de Kenneth Branagh. Gostei demais de conversar com C. C. H. Pounder, de Bagdá Café, que infelizmente não deslanchou na telona, mas que pode ser vista na TV.

C. C. H. Pounder

Você deve ter conhecido muitos países em tantas coletivas de imprensa que participou. Cite Alguns...

Por incrível que pareça as viagens que fiz para o exterior como jornalista não se relacionaram a coberturas de festivais de cinema ou eventos culturais. Os jornais de Goiânia não tinham essa cultura de enviar jornalistas para estas coberturas e as distribuidoras também não pagavam por viagens de lançamentos de filmes, como fazem atualmente.  O máximo que a gente tinha era a chance de assistir os filmes antes de ele entrar em cartaz, geralmente na sala do antigo Cine Capri, na Avenida Anhanguera (que se transformou em igreja evangélica). As viagens que fiz ao exterior a trabalho foram em sua maioria, para a área de informática.


Qual o seu cinema preferido? Qual sala que mais freqüenta?

Não tenho preferência por salas. Quero ver o filme se a única opção for as salas do Banana Shopping (as mais deficitárias), o jeito é enfrentar.

A invenção de Hugo Cabret
 Você prefere o cinema clássico ou o atual?

Não tenho preferência. Já vi muito clássico, do tempo do cinema mudo, do cinema falado, dos filmes em 3D... Prefiro dizer que gosto de histórias bem contadas, como os recentes O Artista e A Invenção de Hugo Cabret.

Continua...