sábado, 17 de dezembro de 2016

TRAJETÓRIA DE ROBERTO CARLOS SERÁ CONTADA NO CINEMA


Em breve, o Brasil ficará sabendo detalhes sobre a história do Rei Roberto Carlos.

Sim, um dos artistas brasileiros que mais zela pelo passado antes da fama vai tornar pública sua trajetória. Para quem não se recorda, em 2007 o cantor moveu uma ação judicial contra o jornalista Paulo César de Araújo e conseguiu que a biografia Roberto Carlos em Detalhes fosse recolhida das livrarias e tivesse venda proibida em todo o Brasil.

Mas agora será diferente.
A história de vida de Roberto Carlos, hoje com 75 anos, não será contada em livro - e sim em filme. A cinebiografia foi anunciada pela assessoria do artista nesta semana. De acordo com o Ego, a ideia surgiu da relação dele com o cinema, vivida nos anos 60 e 70, quando estrelou mais de dez filmes.

Ainda sem nome definido, a produção começa a ser gravada em breve. O argumento é assinado por Nelson Motta e Patrícia Andrade e a direção ficará a cargo de Breno Silveira - responsável pelos sucessos 2 Filhos de Francisco(2005) e Gonzaga: De Pai pra Filho(2012).

Segundo o site, o trio já se reuniu com o ícone da música nacional, que deve participar de todo o processo de produção – inclusive da escolha do elenco. Após a pré-seleção, Roberto Carlos deve acompanhar os testes com os finalistas.

Os atores serão escalados para viver o artista capixaba em diferentes fases de sua vida. Roberto também deve participar do filme no papel dele mesmo.

Uma boa notícia para o fãs: assuntos considerados tabus, como o acidente que o fez perder a perna direita, também serão abordados na produção. A assessoria garante:
"Ele vai contar tudo isso no filme, exatamente como aconteceu, e não vai omitir nada. Os fãs podem aguardar que vai vir a verdadeira história do maior ídolo da música brasileira.”
A previsão é de que o filme seja lançado dentro de um ano.


quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

CHATÔ SE JUNTA A AQUARIUS E PEQUENO SEGREDO NA DISPUTA PELO GLOBO DE OURO


Aquarius é o grande filme do cinema brasileiro em 2016. Por sua carreira internacional, surpreendeu a todos (após manifestações no tapete vermelho de Cannes e da rejeição de um membro da comissão do Oscar) a escolha do desconhecido Pequeno Segredo para representar o Brasil no prêmio da Academia. Três meses depois, os dois filmes estão juntos na briga pelo Globo de Ouro. Com um terceiro brazuca na disputa: o também controverso Chatô - O Rei do Brasil.




Isso foi possível porque as regras da  Associação de Correspondentes Estrangeiros de Hollywood são diferentes. Os requisitos são ser uma obra de ficção (documentários são inelegíveis), não ser uma animação (há uma categoria própria) e ter sido exibido entre 1º de outubro de 2015 e 31 de dezembro de 2016. E, claro, não há limite de filmes por país. Com isso, outros 82 longas-metragens, totalizando 52 países, estão na disputa pelo Globo de Ouro 2017 de Língua Estrangeira.


domingo, 11 de dezembro de 2016

A COR PÚRPURA - O FILME E O LIVRO - PARTE 2



A primeira regra da adaptação cinematográfica é seguida em parte por Steven Spielberg. Foram mantidos no filme a ingenuidade de Cellie, sua fé, a luta dos negros do início do século passado em se manter num mundo preconceituoso; as tragédias, tristezas e revelações de uma família. Já os desejos lésbicos de Cellie são abrandados a tal ponto que no filme ficou quase esquecido em uma única e discreta cena.

No livro, Cellie se refere várias vezes ao amor que sente por Docí Avery, como quando ela deseja ir a seu show:

“Meu Deus, eu quero tanto ir. Num é pra dançar. Nem pra beber. Nem pra jogar baralho. Nem pra escutar Docí Avery cantar. Eu ficaria gradecida só de poder botar o olho nela.” (p. 36)

Ou em seguida quando Albert busca Docí, que está doente para cuidar dela. Cellie fica eufórica:

“Eu acho que meu coração vai vuar pra fora da minha boca quando eu vejo um pé dela aparecer.” (p. 57)

E quando finalmente as duas dormem juntas, Cellie reclama:

“Nunca ninguém gostou de mim, eu falei.
Ela falou, eu gosto de você, Dona Cellie. E aí ela virou e me beijou na boca.
Uhm, ela falou, como se tivesse ficado surpresa. Eu beijei ela de volta, falei, uhm, também. A gente beijou e beijou até que a gente num conseguia beijar mais. Aí a gente tocou uma na outra.
Eu num sei nada sobre isso, eu falei pra Docí.
Eu também num sei muita coisa, ela falou.
Aí eu senti uma coisa muito macia e molhada no meu peito, senti como a boca de um dos meu nenê perdido.
Um pouco depois, era eu que era também como um nenê perdido.” (p. 130)


No filme tudo ficou reduzido a uma troca de beijos (no rosto) entre as duas, carícias nas mãos e só.

Rubens Ewald Filho em seu livro “Dicionário de Cineastas” (2001, p. 679), fala sobre isso quando biografa Steven Spielberg. “Não tem para ele temas muito profundos. Pudico, não tem coragem de lidar com o homossexualismo (como provou em A cor púrpura, uma fita onde visivelmente ele seguiu um story-board que fez sem alma, porque não entende do problema do negro como demonstraria novamente naquele que é certamente seu pior filme como diretor, Amistad).”

A segunda regra da adaptação cinematográfica, também foi seguida em parte, já que Spielberg conseguiu captar grande parte do espírito do livro e de sua magia, que o havia tornado irresistível ao grande público leitor e o fez ganhar o prêmio Pulitzer. O filme tem cenas emocionantes e de grande dramaticidade.

A terceira regra não foi seguida. As mudanças feitas por Spielberg no abrandamento do lado lésbico de Cellie não foram exigência para que essa história funcionasse melhor como um filme e sim decisão de um diretor até então covarde, que tinha medo da reação do público conservador frente a esse tema tão espinhoso, ou que talvez quisesse ser melhor aceito pelos membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood (também conservadores), mas não adiantou muito, já que o filme não recebeu nenhuma estatueta.

As cartas de Celli não trazem muitas descrições de paisagens e lugares, ao passo que o filme tem uma belíssima fotografia bem colorida com os campos do interior dos Estados Unidos. As cartas de Nettie, irmã de Cellie, que vira missionária na África são bem mais detalhistas em relação a isso, mas essa parte foi quase cortada no processo de adaptação.

O filme bem como o livro exala música, já que além de Docí, que é cantora, Tampinha, a segunda mulher de Harpo também tem esse sonho. A trilha sonora do filme foi composta por Quincy Jones e a canção “Miss Cellies Blues”, ficou muito famosa, mas nem foi indicada ao Oscar.

A hoje milionária apresentadora Oprah Winfrey também estreou no cinema em A cor púrpura, onde vive a sofrida Sofia, mulher de Harpo, filho do marido de Cellie, que não aceita obedecê-lo e o abandona, briga com o prefeito, fica presa por vários anos e depois sai para trabalhar como mucama da primeira dama.

É muito interessante a experiência de ler o livro e logo em seguida ver o filme (ou vice-versa), pois todos os detalhes ainda estão vivos em nossa lembrança e é possível avaliar se o diretor foi fiel ao espírito do livro e quais mudanças foram necessárias para a transposição de um suporte a outro.

Vários autores concordam que nem sempre a adaptação mais fiel é a melhor e isso é verdade. Steven Spielberg foi fiel em quase todos os pontos relevantes do livro, com exceção do lesbianismo e mesmo assim o seu filme não é tão bom quanto poderia ser. O livro é melhor (sem preconceitos de achar que a literatura é uma arte superior), mais emocionante, mais detalhista, mais humano, mas mesmo assim o filme merece ser visto.



quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

A COR PÚRPURA - O FILME E O LIVRO



Em 1982, a escritora americana Alice Walker lançou o romance autobiográfico, “A cor púrpura”, ganhador do prêmio Pulitzer. Romance esse lançado no Brasil em 1986, pela Editora Marco Zero depois do sucesso do filme homônimo de Steven Spielberg de 1985. A capa do livro inclusive traz um esboço de Whoopi Goldberg (protagonista do filme) sentada em uma cadeira de balanço enquanto lê uma carta.

Steven Spielberg nunca tinha sido levado muito a sério até então, pois a crítica o achava meio infantilóide e capaz de dirigir filmes apenas escapistas, como “Tubarão” (1975), “Os caçadores da arca perdida” (1981) e ET – O extraterrestre (1982), filmes esses de grande sucesso e queridos pelo público, mas faltava algo em sua carreira: o respeito da crítica. Então em 1985, ele produziu e dirigiu a adaptação cinematográfica do romance de Alice Walker. “A cor púrpura” (The color purple) é considerado seu primeiro filme adulto. Recebeu 11 indicações para o Oscar, mas estranhamente não levou nenhuma estatueta, nem para a bela interpretação de Whoopi Goldberg em sua estréia no cinema, em papel dramático, que é raro em sua carreira, que se notabilizou por papéis cômicos como a falsa freira de “Mudança de Hábito”, a babá de “Corina – Uma babá perfeita” e a médium picareta de “Ghost – Do outro lado da vida”, que finalmente lhe deu o Oscar, dessa vez como melhor atriz coadjuvante.

A cor púrpura conta a história de Cellie, uma mulher negra que escreve cartas para Deus contando sua vida: como foi estuprada pelo suposto pai e teve dois filhos dele; o sofrimento por viver três décadas afastada de sua irmão Nettie e de seus filhos; o casamento forçado com Albert, um homem violento; a submissão frente aos preconceitos da sociedade e o amor incondicional que sente pela cantora Docí Avery (que no filme virou Shug Avery).

O livro é narrado em primeira pessoa por Cellie, que quase não estudou e os termos e palavras usados por ela, são a transcrição de seu jeito humilde e interiorano de falar. Ela possui uma grande fé e escreve cartas para Deus. Quase todos os capítulos se iniciam com “Querido Deus”, com exceção daqueles em que Celli descobre as cartas de sua irmã que foram escondidas por seu marido, então cada capítulo passa a ser cada uma das cartas entre as duas irmãs.

A fé é um ponto marcante em “A cor púrpura”. Cellie precisa de Deus para superar suas tristezas e frustrações. O título do livro é explicado durante uma conversa entre Cellie e Docí Avery, que discutem a existência de Deus e sua forma. Docí retruca:

“Eu acho que Deus deve ficar fora de si se você passa pela cor púrpura num campo qualquer e nem repara.” (p. 217) e depois Cellie:

“Eu vivi tão ocupada pensando Nele queu na verdade nunca reparei nada do que Deus faz. Nem na espiga de milho (como será que Ele faz isso?) nem na cor púrpura (de onde será que ela vem?) nem nas florzinha silvestre. Nada. (p. 218)

No filme isso foi mantido ao menos na primeira parte, onde a voz em off de Cellie narra suas desventuras, com um texto bastante idêntico ao do livro.


Os personagens são dinâmicos, em especial, a protagonista, que no início é condescendente ao marido, faz tudo o que ele quer e até apanha calada, mas consegue se libertar com o tempo, falando o que pensa e até saindo de casa.

Apesar da metragem de 156 minutos, várias coisas foram reduzidas no processo de elisão da adaptação cinematográfica. A primeira metade transcorre com mais detalhes, já a segunda é mais apressada, desde quando Cellie descobre as cartas de sua irmã até a volta desta para casa. Como a história percorre mais de 30 anos na vida das personagens, é compreensível essas omissões. Mas mesmo assim, há o acréscimo do personagem do pai de Albert que não aparecia no livro.

Continua...



segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

ENTREVISTA COM A CRÍTICA DE CINEMA TACILDA AQUINO - PARTE 2


Você deve ter conhecido muitos países em tantas coletivas de imprensa que participou. Cite Alguns...

Por incrível que pareça as viagens que fiz para o exterior como jornalista não se relacionaram a coberturas de festivais de cinema ou eventos culturais. Os jornais de Goiânia não tinham essa cultura de enviar jornalistas para estas coberturas e as distribuidoras também não pagavam por viagens de lançamentos de filmes, como fazem atualmente.  O máximo que a gente tinha era a chance de assistir os filmes antes de ele entrar em cartaz, geralmente na sala do antigo Cine Capri, na Avenida Anhanguera (que se transformou em igreja evangélica). As viagens que fiz ao exterior a trabalho foram em sua maioria, para a área de informática.


Qual o seu cinema preferido? Qual sala que mais freqüenta?

Não tenho preferência por salas. Quero ver o filme se a única opção for as salas do Banana Shopping (as mais deficitárias), o jeito é enfrentar. 


Você prefere o cinema clássico ou o atual?

Não tenho preferência. Já vi muito clássico, do tempo do cinema mudo, do cinema falado, dos filmes em 3D... Prefiro dizer que gosto de histórias bem contadas, como O Artista e A Invenção de Hugo Cabret. 


Qual seu gênero preferido e de qual menos gosta?

Quando atuava sistematicamente, me via na obrigação de assistir todos os gêneros, até mesmo os besteiróis do estilo Todo Mundo em Pânico. Atualmente quando vejo o anúncio de um filme destes dou graças a Deus de não estar mais empregada. Além destas bobagens confesso que não gosto muito dos filmes de vampiros (não vi e nem sinto vontade de ver a trilogia Crepúsculo). Acho que gosto mais de drama porque ele, o drama, dá a chance de o cinéfilo apreciar grandes interpretações. Nos filmes de ação, o espetáculo geralmente fica por conta dos efeitos especiais.


O que você acha do cinema nacional? Será que um dia ele terá condições de concorrer com o cinema americano ou pelo menos de tornar-se uma indústria?

Temos grandes diretores e grandes filmes. Sempre tivemos. Desde os tempos da Vera Cruz, de Oscarito, Grande Otello, Glauber Rocha, Anselmo Duarte. Mas temos muita bobagem também. Acho que o maior pecado do cinema nacional ainda é o fato dele ser uma extensão da TV, da maior produtora ser ligada à maior rede de TV. Tenho uma certa preguiça de ir ao cinema e ver na telona os mesmo atores das novelas. Quando se tem a sorte de ver na tela uma história bem contada ainda dá, mas como a gente vê coisas como E aí.. Comeu? eu realmente fico triste. Mas temos bons filmes, e bons diretores e vale citar alguns que valem a pena rever, como de Walter Salles (Central do Brasil), Fernando Meireles (Cidade de Deus), José Padilha (Tropa de Elite 1 e 2), Karim Ainouz (O Céu de Suely), Jorge Furtado (Ilha das Flores), Eliane Café (Kenoma), Guel Arraes (O Auto da Compadecida). Entre os atores de TV que ainda valem a pena serem vistos na telona eu destaco o José Dumont, Selton Mello, Lázaro Ramos, Mateus Nachtergale, Marco Nanini. As atrizes, Fernanda Montenegro, Denise Fraga. Tem um filme brasileiro que gosto demais, chamado Pequeno Dicionário Amoroso, que a Sandra Werneck dirigiu em 1997, com Andrea Beltrão e Daniel Dantas, conhece? Gosto muito dele.



Também adoro o Pequeno Dicionário Amoroso, Tacilda, mas com que freqüência você vê filmes? Diariamente, quando dá tempo, ou quando dá vontade?

Quando não dá para não deixar de ir. Quando estréia um filme de Polanski (O Deus da Carnificina), do Ridley Scott (Prometheus) ou uma nova aventura do Homem Aranha (meu super-herói predileto dos tempos em que lia HQs). Ou para ver a quantas anda o cinema nacional e descobrir que Assalto Ao Banco Central, de Marcos Paulo é uma grande roubada ou que E aí... Comeu? é de um tremendo mau-gosto. E tem a questão de quando tenho dinheiro também (risos)


Você vê mais filmes no cinema, em DVD ou na TV por assinatura? Qual deles é o seu preferido?

No cinema. DVD quase não vejo porque se não vejo na tela grande, baixo da internet e vejo na TV, aí quando sai o DVD já não tem muita graça ver de novo. No DVD vejo muitos shows musicais. Não existe nada que supere se assistir a um filme “no escurinho do cinema...”


Sei da sua paixão por séries de TV, que ultimamente estão com um padrão tão alto de qualidade que conseguem atrair atores do porte de Dustin Hoffman. Quais são suas séries preferidas?

Não gostei da séria estrelada por Dustin Hoffman. Assisti somente dois episódios. Gosto imensamente de Law & Order SVU, The Good Wife, Dexter, o serial killer que a gente odeia amar, mas não consegue evitar e Smash, cuja ação se passa nos bastidores de um musical da Broadway. Ocasionalmente vejo The Big Bang Theory e os clássicos Friends e Seinfeld.


Você ainda trabalha com crítica cinematográfica? Como é a sua rotina?

Não estou mais trabalhado. 30 anos de jornalismo me renderam uma boa LER (Lesão Por Esforço Repetitivo) e tenho dores crônicas nos dedos quando digito por muito tempo. Mas ainda gosto de escrever e quando quero matar a saudade, cometo algum comentário para meu blog (www.tacilda-aquino.blogspot.com) e para o Jornal Opção (www.jornalopcao.com.br)


Tacilda, obrigado pela honra de me conceder essa entrevista. Foi a minha primeira. Não imagina o quanto sinto saudades daqueles tempos da pós-graduação em que estudávamos e depois sempre dávamos um jeito de nos reunir e jogar conversa fora, sobre cinema ou coisas afins.


Grande abraço.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

ENTREVISTA COM A CRÍTICA DE CINEMA TACILDA AQUINO


Hoje apresento a vocês a entrevista que fiz com a crítica de cinema (e amiga) Tacilda Aquino. Conhecemos-nos no curso de Especialização em Cinema e Educação e devo confessar que aprendi muito com ela, já que ela fez da crítica cinematográfica a sua vida, trabalhando por mais de 30 anos no jornal de maior circulação no estado de Goiás, “O Popular”. E é alguém que entende muito mais de cinema do que eu...


Como começou sua paixão por cinema?

Não sei bem. Acho que veio do meu pai. Ele era alfaiate em Barreiras, na Bahia e quando veio para Goiás se empregou no antigo Cine Santa Maria (no Centro de Goiânia) como porteiro. E assistia aos filmes que podia. Quando nasci, estava em cartaz Floradas na Serra, que tinha sido lançado dois anos antes. O filme era dirigido pelo italiano Luciano Salce com roteiro baseado em romance homônimo de Dinah Silveira de Queiroz, produzido pelos estúdios Vera Cruz. O filme era estrelado por Cacilda Becker e Jardel Filho. Meu pai queria me registrar como Cacilda, em homenagem a Cacilda Becker, mas como já tinha meu irmão Tackson, minha mãe o convenceu a trocar o C pelo T.


Quando cursou jornalismo, você já pensava em trabalhar como crítica de cinema ou foi algo que surgiu com o tempo?

Na realidade não. Sempre gostei de jornalismo cultural, mas passei por todas as editorias no jornal e também trabalhei em rádio, no jornalismo e na produção executiva de programação. A crítica apareceu como uma das diversas atividades quando fui para o Caderno Dois, primeiro no jornal Folha de Goyaz e depois em O Popular. Quando o Tadeu Porto, que era o titular da coluna de cinema de O Popular deixou o jornal, fiquei escrevendo no lugar dele e fui ficando. Tempos depois, quando fui transferida pela a editoria de Informática, continuei escrevendo para o Caderno 2.


Além de A noite americana, quais seus filmes preferidos?

Difícil eleger um filme predileto. Tenho alguns que me tocaram mais e tiveram significados especiais porque foram visto em momentos especiais de minha vida.  A pergunta remete à anterior. Para você ter uma idéia, em 1977 (ano em que entrei na faculdade) assisti A Garota do Adeus, de Herbert Ross e me apaixonei por Marsha Mason e Richard Dreyfuss. E antes de entrar na faculdade já tinha me apaixonado por Clint Eastwood em Dirty Harry, que apareceu pela primeira vez na telona em 1971. E também por Perversa Paixão que já revelava Eastwood como um diretor que prometia. Adoro Bye bye Brasil, de Cacá Diegues, A Hora da Estrela, principalmente pela interpretação de Marcela Cartaxo, de Mulher Objeto, de Sílvio de Abreu, O Homem do Pau Brasil, de Joaquim Pedro de Andrade.

Gosto muito de um filme do Neil Jordan, de 1981, chamado O Doce Sabor de um Sorriso (Only When I Laugh), com Marsha Mason, que fala do relacionamento entre uma atriz alcoólatra que está tentando parar de beber e a sua filha adolescente. Este filme foi feito dois anos depois de A Garota do Adeus, com a mesma Marsha Mason e Richard Dreyfuss.

Adoro os filmes de Krzysztof Kiéslowski, principalmente Não Matarás, e Não Amarás. Gosto de um filme iraniano A Caminho de Kandahar de Mohsen Makhmalbaf, O Jarro do também iraniano Ebrahim Foruzesh. Gostei imensamente de Precisamos Falar Sobre o Kevin de Lynne Ramsay com Tilda Swinton, que está excepcional. Não entendi porque ela não foi indicada ao Oscar. Tá vendo o gosto é diversificado. Assim fica difícil dizer que esse ou aquele é o predileto.


Conte-nos sobre os atores e diretores que conheceu. Quais os que mais te impressionaram por sua simpatia e quais os que te decepcionaram?

Ninguém me decepcionou porque na verdade não esperava nada além do que eles tinham para dar. Estavam aqui para divulgar seus filmes e sempre eram simpáticos. Gostei imensamente de conversar com Alan Parker quando da realização de Coração Satânico (1987). Ele estava trabalhando na pré-produção de Mississipi em Chamas, que realizaria no ano seguinte e conversamos despretensiosamente sobre o filme e também sobre A Chama que Não se Apaga (Shoot The Moon), que ele tinha feito em 1982 e não tinha alcançado o resultado esperado. Eu tinha gostado muito do filme e Parker disse que era um de seus prediletos. Isso rendeu boas conversas. Claro que adorei conversar com a musa de A Noite Americana, Jacqueline Bisset. Infelizmente não tinha sido por conta do filme. A conversa foi sobre Hig Season (1988), de Clare Peploe, esposa de Bernardo Bertollucci, que estava se aventurando na direção. O interessante é que o filme tinha uma ponta de Kenneth Branagh. Gostei demais de conversar com C. C. H. Pounder, de Bagdá Café, que infelizmente não deslanchou na telona, mas que pode ser vista na TV.

 Continua...