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sábado, 4 de dezembro de 2010

TEMPESTADE SENTIMENTAL

Gilberto Carlos


Meu coração machucado confunde os sentimentos
Acelera quando te vê
Mesmo sem saber o que sente por você
Se amor, paixão ou só desejo.

Nesse turbilhão, os sentimentos se transformam:
O amor pode virar ódio
A paixão se transformar em desprezo
E o desejo se mutar em asco
Dependendo das suas atitudes.

Só resta saber se você merece tanto querer
Se não vai desfazer do meu afeto
E se um dia vai dizer:
- Não posso mais ficar longe de você!





domingo, 14 de novembro de 2010

CIDADEZINHA CHEIA DE GRAÇA



Sempre gostei muito do poema "Cidadezinha cheia de graça" de Mário Quintana que me faz lembrar da minha cidade que é pequena, mas todos adoram e hoje completa mais um ano. Parabéns!

CIDADEZINHA CHEIA DE GRAÇA
Mário Quintana
 

Cidadezinha cheia de graça...
Tão pequenina que até causa dó!
Com seus burricos a pastar na praça...
Sua igrejinha de uma torre só...

Nuvens que venham, nuvens e asas,
Não param nunca nem um segundo...
E fica a torre sobre as velhas casas,
Fica cismando como é vasto o mundo!...

Eu que de longe venho perdido
Sem pouso fixo (a triste sina!)
Ah, quem me dera ter lá nascido!

Lá toda a vida pode morar!
Cidadezinha...tão pequenina
Que toda cabe num só olhar...

de
A Rua dos Cataventos




segunda-feira, 8 de novembro de 2010

JOSÉ

Carlos Drummond de Andrade

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio – e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

A IGNORÂNCIA

Gilberto Carlos



A ignorância é uma benção
Benditos são aqueles que desconhecem
A complexidade de todas as coisas
Pensam que tudo é simples
E são felizes
Enquanto podem...

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

A IMPOSSIBILIDADE

Gilberto Carlos



Quase pude tocar a impossibilidade
De tão palpável que ela tinha se tornado
E logo eu que acredita que isso nem existisse
Vi que ela é um fantasma que persegue as pessoas
Lembrando-as que algumas coisas não hão de ser.

Mesmo que as probabilidades indiquem
As circunstâncias da vida impedem
E o escravo de todas as situações
Não pode fazer nada
A não ser, aceitar.

sábado, 7 de agosto de 2010

MEU PAI

Gilberto Carlos

Meu pai não é de falar muito
Mas eu consigo entender os seus silêncios
Todos eles
E sei respeitá-los.

Às vezes acho que há um oceano entre nós
Que impede a comunicação e o entendimento
Depois percebo que só há um corregozinho
Facinho de transpor e que somos muito parecidos.

Nas horas em que eu não quero ver ninguém
Posso entender o seu isolamento
E sua revolta pelas coisas imutáveis
Se é que elas existem

Já cheguei a duvidar do seu amor
Por ele não ser explícito como o de mamãe
Mas é porque ele tem dificuldades para lidar com os sentimentos
E guarda tudo para si.

Talvez por isso sofra tanto:
por não conseguir demonstrar o que sente
Sabendo disso posso amá-lo como ele é
E chegar até o seu coração.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

TEUS OLHOS

Gilberto Carlos

Teus olhos dizem tudo
E parecem querer devorar-me
Pena que tua boca não diz nada

Minha alma alimenta-se dos teus olhares
Mas agora isso parece não ser mais o bastante
As migalhas que vem de você
Hoje ameaçam matar-me de fome

Eu que também sei falar com os olhos
Prefiro usar a boca para revelar
Tudo aquilo que está guardado
E aprisionado, lutando para ganhar os teus ouvidos.

Sonho com o dia em que você
Também seja capaz de usar as palavras
E assumir o que sente
Sem medo de nada...

sexta-feira, 14 de maio de 2010

SONHO DE PEIXE


Sonhei que era um peixe
Só que não sabia nadar
Ficava o tempo inteiro na água
E tinha certeza que ali era o meu lugar
Mas nunca me afastava da margem
Nem ia para os lugares mais profundos
Pois tinha medo de me afogar
E esse medo era terrível e me consumia
Não adiantava nada me dizerem
[que eu havia nascido pr’aquilo
Eu tentava e não conseguia aprender
Todos pareciam ter tanta facilidade
E faziam acrobacias impressionantes
Enquanto eu sempre passeava pelos mesmos lugares
Sentindo-me incompleto e perdido
Devido a isso parei de tentar
Mesmo sabendo que as maiores alegrias me aguardavam
Eu não conseguia sentí-las
Morria um pouco por dia sem esperanças
Achava-me o pior de todos os peixes
E culpava os outros pelo que eu poderia ter sido
Sem saber que a culpa maior era minha
De ter medo do desconhecido.
Quando perdi esse medo, aprendi a nadar,
Conheci todos os lugares que eu antes temia
E pude experimentar uma alegria quase insuportável
De saber-me capaz de tudo o que eu quisesse.

(Mas tudo foi só um sonho... Ou será que não?)