terça-feira, 30 de junho de 2009

VERÔNICA (Brasil, 2008)


Direção: Maurício Farias. Com: Andréa Beltrão, Marco Ricca, Matheus de Sá, Giulio Lopes, Camila Amado, Flávio Migliacchio e Ailton Graça. 90 min.

Verônica (Andréa Beltrão) é professora há 20 anos e parece já estar cansada da rotina da sala de aula, pois não tem a mesma paciência com os alunos. Mas o menino Leandro (Matheus de Sá) reaviva nela a compaixão que ela havia perdido. Leandro tem os pais assassinados pelos bandidos do tráfico de drogas, por causa de um pen-drive que compromete tanto os bandidos, quanto alguns policiais corruptos. O pen-drive agora está com o menino que não conta com ninguém mais, além de Verônica. Ela que não teve filhos dedica a ele todo o amor e dedicação a fim de salvar sua vida. Abandona o emprego, sua casa e começa a fugir de todos já que ninguém parece confiável.

Andréa Beltrão dá um show de interpretação (como sempre), nesse filme dirigido por seu marido, Maurício Farias (O coronel e o lobisomem, A grande família) e participa de todas as cenas.

Verônica é produzido pela Globo Filmes, mas não parece uma novela da Rede Globo, como alguns outros da produtora. É um thriller empolgante que junta as mazelas de ser professor no Brasil (baixos salários e alunos desinteressados) com o problema do tráfico de drogas e a violência nas favelas do Rio de Janeiro. Mas o filme é mais do que isso. É sobre compaixão, determinação e abdicação de uma mulher para com uma criança órfã. Fiquei preso na história do início ao fim. (9,0)

FIM DOS TEMPOS (EUA, 2008)

Direção: M. Night Shyamalan. Com: Mark Wahlberg, Zoey Deschanel e John Leguizamo. 90 min.

Realmente M. Night Shyamalan se perdeu. Depois do grande e inesperado sucesso de “O sexto sentido” (1999) ele dirigiu os também bons, mas já criticados, Corpo fechado (2000), Sinais (2002) e A vila (2004), além do conto de fadas “A dama na água” (2006) pelo qual poucos se interessaram, nem o público, nem a crítica e muito menos eu. Agora ele vem com o suspense “Fim dos tempos”. É a história de uma toxina presente no ar da costa nordeste dos Estados Unidos que provoca o bloqueio de uma parte do cérebro que cuida da autodefesa do ser humano, então as pessoas começam a se suicidar.

O filme não perde tempo com apresentações dos personagens (como é de praxe nos filmes de catástrofes). Desde o início o suspense já está no ar quando algumas pessoas sem mais nem menos se matam. Mark Walberg vive Elliot, um professor de Ciências que se vê no meio desse turbilhão, junto com sua mulher Alma (Zoey Deschanel de “Sim senhor) que estão em crise no casamento por um motivo bobo. Junto deles está o amigo, também professor, Julian (John Leguizamo) e sua filha Jess.

É um tema forte, já que o suicídio é um tabu em qualquer lugar e nesse filme há vários suicídios. Trata-se de um suspense, já que não se tem certeza do que está causando esse caos, se terroristas ou a própria natureza. Mas é um suspense frouxo, já que depois de um tempo o espectador mata a charada e o filme já começa a cansar. Fica a esperança de que terá um final inesperado que contrarie o que parecia óbvio (apesar de estranho) mas nem isso. O título nacional também é equivocado. Fim dos tempos dá uma idéia de fim do mundo, mas como o problema só acontece em uma parte dos Estados Unidos, não procede. O título original: Happening (acontecimento) talvez fosse mais correto, apesar de vago e sem graça. Pelo menos o filme é curto e não passa de 90 minutos. Melhor sorte para M. Night Shyamalan da próxima vez. (6,0)

DIÁRIO PROIBIDO (Espanha, 2008)

Direção: Christian Molina, Com: Belén Fabra, Leonardo Sbaraglia, Llum Barrera, Ângela Molina e Geraldine Chaplin. 95 min.

Diário proibido é baseado no best seller erótico: Diário de uma ninfomaníaca de Valérie Tasso. É a história de Val (Belén Fabra), uma mulher viciada em sexo, que busca prazer com vários homens e nunca está satisfeita, até que se apaixona e o sexo deixa de ter tanta importância. Mas esse é só o começo dessa história que tem um clímax por volta de uma hora de filme, que dá a impressão de ser o fim, então toma um “fôlego” e dá uma reviravolta quando ela vai trabalhar em um prostíbulo.

Geraldine Chaplin (filha de Charlie Chaplin) faz uma participação especial nos 25 primeiros minutos, falando francês, como a avó de de Val que lhe dá conselhos para aproveitar a vida e ter quantos homens quiser. É estranho ver o nome de Geraldine em um filme erótico, mas é ela quem dá dignidade ao filme e é sua personagem quem aconselha Val a escrever seus questionamentos em um diário parta tentar responde-los. Mas depois disso, o diretor se esquece desse artifício e ela nunca mais escreve nesse diário.

Val não deixa de se questionar. Todos a aconselham a aproveitar a vida, fazer o que tem vontade, mas às vezes ela percebe que o sexo, que ela tanto gosta, está lhe fazendo mal.

O filme tem cenas bem sensuais e é falado em espanhol, com exceção de dos diálogos entre Val e sua avó, que são em francês. É melhor do que eu esperava, apesar do tema central ser o sexo, não há só isso no filme, ele fala também de prazer, amor, casamento, frustrações e de vida. (7,5)

domingo, 28 de junho de 2009

UMA NOITE NO MUSEU 2 (EUA, 2009)



Direção: Shawn Levy, Com: Ben Stiller, Amy Adams, Owen Wilson, Hank Azaria, Robin Williams. 100 min.

O mesmo Shawn Levy que dirigiu a primeira aventura, está de volta no comando dessa continuação que traz de volta todo o elenco original e mais alguns acréscimos, com a diferença que o papel de Robin Williams – Theodore Rosevelt – aqui é bem menor que no anterior.

Larry Daley (Ben Stiller) agora não trabalha mais como vigia noturno do Museu de História Natural, pois virou inventor e dono de uma empresa de sucesso. Mas dessa forma não daria para criar uma história, então sem nenhuma explicação, ele resolve visitar o museu e descobre que o dono está revolucionando e vai mandar as atrações que ganham vida à noite para o depósito, pois acha que elas estão ultrapassadas. Um roubo acontece e os amigos de Larry, incluindo o cowboy em miniatura, Jedediah (Owen Wilson), vão parar em um complexo de 9 museus e todos precisam da ajuda do antigo vigia que não titubeia e parte para o resgate.

Agora o título nacional faz mais sentido, já que toda a ação acontece em uma única noite, ao contrário do primeiro que se desenrolava em várias noites, sendo mais apropriado “Noites no museu”. Há vários personagens novos, como a aviadora Amélia Earhart (Amy Adams) que se apaixona por Larry e em momentos românticos do casal, aparecem três anjinhos cupidos (dublados pelo grupo Jonas Brothers) cantando More than a woman e My heart will go on. Além dessas, ainda há outras duas músicas do grupo na trilha sonora e a animada “Let’s groove” de Earth, Wind and Fire, já no desenlace.

É um show de efeitos especiais. Agora é possível entrar em quadros na parede e participar das cenas. O mafioso Al Capone também aparece com sua gangue, toda em preto e branco, ao contrário do restante dos personagens, todos em busca da placa que veio do Egito e dá vida aos bichos, dinossauros e personagens de cera.

O primeiro filme de 2006, rendeu 250 milhões de dólares só nos Estados Unidos, enquanto este já fez mais de 2,3 milhões de espectadores nos cinemas brasileiros, nas 5 semanas em que está em cartaz. É um bom passatempo para qualquer idade, mas ao final deixa a impressão de piada velha e de já ter ouvido algo parecido antes, por isso ainda prefiro o primeiro filme. (7,0)

PERSÉPOLIS (França, 2007)

Não conhecia esse filme francês que me foi presenteado em DVD por uma amiga (Tacilda Aquino) do curso de Cinema e Educação. Foi indicado ao Oscar 2008 de melhor animação, mas perdeu para Wall-E da Disney/ Pixar e é baseado nas histórias em quadrinhos de Marjane Satrapi, que também assumiu a direção e o roteiro ao lado de Vincent Paronnaud. Marjane é também o nome da protagonista desse história, uma menina que cresceu no Irã durante a revolução islâmica, vendo a partir de sua inocência, guerras, perseguições, prisões e mortes (inclusive de parentes e conhecidos) e a obrigação do uso do véu pelas mulheres, que funciona como repressor para elas que se sentem inferiores aos homens. Com a intensificação da guerra que dura oito anos e deixa milhares de morto, sua família resolve manda-la a Viena (Áustria) para a casa de uma filósofa meio louca que tem um cachorro tarado. É em Viena que Marjane cresce, conhece o primeiro amor, depois revelado homossexual, um outro que a trai e um terceiro com quem se casa, mas também não é o homem de sua vida.

Apesar de ser um desenho animado, Persépolis não é destinado às crianças. É um filme com tema forte e às vezes desagradável e é em preto e branco, com exceção de algumas cenas atuais com Marjane. Em um primeiro momento, a animação parece precária e os desenhos meio infantis, como se fossem feitos por uma criança mesmo, mas isso foi intencional para transmitir a inocência daquela criança crescendo em um mundo selvagem o qual ela não entende completamente.

Há vários momentos singelos, como a ligação de Marjane com sua avó, que a ensina como manter o seios sempre redondos e a ficar sempre perfumada, colocando jasmins no sutiã.

O filme é carregado de cultura pop americana. Marjane é apaixonada por Iron Maiden e arrisca a pele para comprar uma fita cassete do grupo; suas colegas têm LPs do Bee Gees e do ABBA e em uma das cenas mais belas do filme, ela canta Eye of the tiger (do filme Rocky – Um lutador) quando consegue finalmente sair da depresssão.

Chiara Mastroianni (filha de Marcelo Mastroianni) e Catherine Deneuve dublam respectivamente, Marjane e sua mãe, nesse filme muito interessante que além de divertir ainda ensina sobre a história do Irã, do islamismo e de uma guerra que como todas as outras, a gente não entende muito bem porque começou e qual a sua utilidade. O DVD infelizmente não traz nenhum extra. (8,0)

JOHNNY VAI Á GUERRA (EUA, 1971)

“Existe alguém que está contando com você
Pra lutar em seu lugar
Já que nessa guerra não é ele que vai morrer.”
Renato Russo

Direção: Dalton Trumbo. Com: Timothy Bottons, Donald Sutherland e Jason Robards. 106 min.

Johnny vai à guerra foi o único filme dirigido por Dalton Trumbo, que foi perseguido pelo MacCarthismo e fez roteiros para vários filmes com pseudônimo. Este também tem roteiro seu a partir de um romance de sua autoria. Joe (Timothy Bottons) tem uma namorada, com quem tem a primeira noite de amor antes de ser enviado à 1ª guerra mundial. Já no front é ferido em uma explosão e tem que ser internado em um hospital militar, quando se dá conta que a explosão fez com que ele perdesse os braços, as pernas e o rosto (boca, nariz, olhos, ouvidos), não pode ouvir, não pode falar, escrever ou gesticular e mesmo assim quer e precisa se comunicar com os outros, pois seu cérebro continua funcionando perfeitamente, apesar dos médicos duvidarem. Mas como se comunicar?

As cenas no quarto do hospital são em preto e branco, para dar um ar mais desolador e sem esperanças, já as lembranças e delírios (sonhos) são coloridas. Joe relembra o amor por sua namorada, sua mãe, os amigos, um passeio com o pai e a estima que este tinha por uma vara de pescar e pela guerra, pois achava que morrer pela pátria era enobrecedor para qualquer pessoa, o que talvez tenha influenciado o filho a lutar na guerra.

Johnny vai à guerra é um filme difícil e triste, pelo tema e também pela falta de perspectivas, pois o espectador desde o início tem a impressão de que aquela história não vai terminar bem, mas não como negar sua originalidade na forma como Trumbo escolheu para denunciar o absurdo de todas as guerras e a falta de sentido em se lutar com outras pessoas sem nem saber o porque. Os soldados morrem ou ficam deformados enquanto a “pátria” e os políticos enriquecem. Um letreiro ao final mostra que desde 1914 (até 1971) já morreram 80 milhões de pessoas nas guerras, enquanto outros 150 milhões foram feridos ou desapareceram.

Há um alento de esperança quando chega ao hospital uma enfermeira que consegue gostar de Joe e a compreendê-lo. A comunicação parece possível quando ela “escreve” com os dedos em seu peito e ele começa a se comunicar por código morse. Mas nem tudo é tão simples. A questão não é só entender e sim compreender e ajudar a superar os traumas.

Trumbo não fez com esse filme apenas um manifesto contra a guerra, fez também uma parábola sobre a incomunicabilidade do ser humano. As pessoas estão tão próximas umas das outras, mas não conseguem se entender, não querem ouvir o que o outro tem a dizer e quando ouvem não podem ajudar ou não querem. Em um diálogo, Joe desabafa: “Se eu tivesse braços, me mataria, se eu tivesse pernas, fugiria; se eu pudesse falar eu gritaria para as pessoas, mas elas não me ouviriam, nem Deus ouviria, pois Ele não existe mais.” (7,5)

sexta-feira, 26 de junho de 2009

MENINO DE ENGENHO (BRASIL, 1965)

Direção: Walter Lima Jr. Com: Geraldo D’el Rey, Sávio Rolim, Antonio Pitanga, Maria Lúcia Dahl, Anecy Rocha e Rodolfo Arena. 110 min.
Li há alguns anos o romance Menino de Engenho de José Lins do Rego que conta a história de Carlinhos, um menino que vai para o engenho do avô depois da morte de sua mãe e ali encontra outros parentes que preenchem a sua carência paterna, se apaixona, tem a iniciação sexual, encontra amigos e ao final amadurece.

Morria de vontade de assistir a este que foi o primeiro filme dirigido por Walter Lima Jr. (A ostra e o vento) em 1965 e qual não foi minha surpresa ao perceber que o filme é bem inferior ao livro e não traz as mesmas emoções. Tudo é meio corrido e o personagem de Carlinhos (Sávio Rolim) parece um coadjuvante frente aos adultos Geraldo D’el Rey, Maria Lúcia Dahl (em um de seus primeiros filmes) e Anecy Rocha (irmã de Glauber Rocha). Glauber (Terra em transe) aqui assume a função de produtor, mas eu não sei a que se deve a frieza e falta de emoção no filme. O cinema novo estava começando e Walter estreou aqui depois de ser assistente de Glauber em Deus e o diabo na terra do sol. Este filme foi muito elogiado, recebeu vários prêmios em festivais de todo o Brasil e foi restaurado recentemente, mas não me tocou nem um pouco, talvez porque eu não goste muito dos filmes do cinema novo, mas se você gostar, arrisque. (4,0)

TERRITÓRIO RESTRITO (EUA, 2009)

Direção: Wayne Kramer. Com: Harrison Ford, Ray Liotta, Ashley Judd, Jim Sturges, Alice Braga e Alice Eve. 113 min.

Mais um discípulo de Short Cuts – Cenas da vida (1993), Magnólia (1999) e Crash – No limite (2004): um monte de histórias desconexas que vão se entrelaçando aos poucos e no final provam que tem mais em comum do que aparentavam.

Território restrito fala da imigração nos Estados Unidos e da história de vários personagens que trabalham com isso ou que passam por esse problema. Harrison Ford vive Max, um agente do governo encarregado de prender imigrantes ilegais e invade a fábrica onde trabalha a mexicana Mireya Sanchez (Alice Braga, sobrinha de Sonia Braga) que foge desesperada. O cartaz do filme destaca tanto o nome da atriz que me espantei ao perceber que ela participa de uma única cena. Com certeza o cartaz foi modificado para o lançamento nacional, apesar de seu personagem ser importante, apesar de aparecer tão pouco. Max tem bom coração e aceita procurar o filho dela e entrega-lo para os avós no México.

Ashley Judd vive Denise Frankel, uma advogada de direitos humanos que não tem filhos e trabalha com adoção. Há uma menina africana que espera há anos por ser adotada e Denise quer fazer isso, mas seu marido Cole (Ray Liotta), que trabalha dando vistos de permanência nos Estados Unidos, não está nem um pouco interessado já que está tendo um caso com uma moça australiana que aceita o caso, pois almeja carreira de atriz no país.

Há também uma menina muçulmana que comete o erro de defender os terroristas que derrubaram o World Trade Center em um texto lido em sala de aula e passa a ser perseguida juntamente com sua família por causa disso. Existem outros personagens menores também envolvidos com imigração e o mistério de uma personagem assassinada.

O filme foi muito criticado quando de seu lançamento, mas eu gostei bastante e me emocionei por várias vezes com os dramas dos personagens oprimidos e infelizes. Com certeza é muito patriótico e os personagens se vangloriam por ser americanos. Em uma cena alguém canta o hino nacional com todos os outros emocionados, como se a única forma de ser feliz é ter nascido ou se tornar americano. Mas se você esquecer esse detalhe ufanista, também vai se emocionar e gostar do filme. (9,0)






quarta-feira, 24 de junho de 2009

DIVÃ (Brasil, 2009)


Direção: José Alvarenga Jr. Com: Lilia Cabral, José Mayer, Alexandra Richter, Reynaldo Gianechini, Cauã Reymond e Elias Gleizer. 90 min.

Divã é o primeiro filme protagonizado por Lilia Cabral, depois de vários anos interpretando coadjuvantes em filmes como Dias melhores virão (1989), Stelinha (1990) e A partilha (2001) ou em novelas como Tieta (1989), Páginas da vida (2006) e A favorita (2008). O filme é dela e talvez não tivesse a mesma graça com outra atriz. Ela também participou da peça Divã que ficou em cartaz por três anos, viajando por todo o país e fazendo muito sucesso. Agora José Alvagenga Jr. (Os normais – O filme), a adapta para o cinema

Conta a história de Mercedes (Lilia Cabral), uma mulher de mais de 40 anos, aparentemente bem casada e feliz que resolve fazer análise e a partir daí começa a repensar sua vida e o casamento com Gustavo (José Mayer) que já dura 20 anos e apesar de haver amor, parece meio sem graça. É quando ela conhece Téo (Reynaldo Gianechini) um homem mais novo que serve para que ela perceba que está precisando mesmo de uma sacudida em sua vida. O romance não dura muito e o casamento também acaba. Então ela começa um namoro com o personagem de Cauã Reymond que a leva para a balada, mas que também não é muito duradouro.

Mercedes fica o tempo todo conversando com seu terapeuta (do qual nunca chegamos a ver o rosto ou ouvir a voz) contando sobre suas frustrações e esperanças, mas a personagem com quem ela mais se identifica e que também é sua confidente, é sua melhor amiga, Mônica (Alexandra Richter). A amizade entre as duas é a coisa mais forte do filme, mais até do que o romance com os dois galãs mais novos.

É fácil rir com as agruras e os problemas de Mercedes, que busca emoções mais fortes para sua vida. O filme provoca risos quase o tempo todo, até o momento em que uma doença surge na vida de um dos personagens e o clima fica mais pesado. É meio estranho, quando de repente tudo desaba, pois não esperamos por uma má notícia, mas na vida real também é assim: não acontecem só coisas boas e ao final tudo serve como aprendizado.

Em um momento, Mercedes fala com Gustavo da importância de falar e não guardar nada para si. Essa fala funciona como uma explicação para o filme, pois é através da terapia que Mercedes percebe que sua vida não está tão boa e tenta fazer com que ela fique mais emocionante. Fale você também e não deixe de assistir a esse filme que já foi visto por mais de 1,8 milhão de pessoas nos cinemas. (8,0)


Download do filme Divã

segunda-feira, 22 de junho de 2009

AO ENTARDECER (EUA, 2007)

Amor, família, amizade, solidão, casamento e morte são temas universais e constituem o emaranhado de situações que formam "Ao entardecer".
Ann (Vanessa Redgrave) está á beira da morte (um grande problema do filme é que não se explica qual a sua doença e porque ela está morrendo) e resolve contar às suas filhas a história do grande amor de sua vida, Harris. Então Claire Danes (como Ann jovem) chega a uma casa de praia para o casamento da amiga Lilá (Mamie Grummer, que é filha de Meryl Streep) e conhece Harris (Patrick Wilson), um amigo de infância que agora é médico e por ele se apaixona. Harris também é o grande amor de Lilá que está prestes a se casar com Carl. Buddy também é apaixonado por Ann, mas uma grande tragédia impede que ele lute por esse amor. Esse acontecimento também muda a vida de outros personagens.

No presente Lila (agora Meryl Streep) vai visitar Ann em uma cena comovente com dois monstros sagrados do cinema: Meryl e Vanessa Redgrave. A cena é emocionante onde as duas relembram o passado e contam o que fizeram de suas vidas, mas as expectativas deixadas pela capinha do DVD eram maiores e achei que seria revelado algum segredo que mudaria todo o rumo da história, o que não acontece, mas a visita faz bem a Ann que então pode descansar. O elenco é um dos pontos altos do filme e conta ainda com Toni Collete, Natasha Richardson (que é filha de Vanessa Redgrave e morreu em um acidente enquanto esquiava no início desse ano), Glenn Close, Claire Danes, Patrick Wilson e Hugh Dancy.
O papel de Glenn Close é pequeno mas ela dá um show como a mãe de Buddy em uma cena em que ela recebe uma péssima notícia. O mesmo Buddy de início aparenta ser homossexual, pois beija Harris na boca e depois conta que é apaixonado por ele, mas depois revela seu amor por Ann, quando conta que guarda por quatro anos no bolso um bilhete que ela escreveu.
Há algumas referências a estrelas quando Ann e Harris dão seus nomes a algumas delas, então vem à mente outro filme que Claire Danes fez no mesmo ano, o belo: Stardust – O mistério da estrela.

Ao entardecer é um filme singelo e emocionante, que faz pensar sobre nossas vidas e como as coisas ás vezes (ou quase sempre) não acontecem como queremos; sobre o medo da solidão e a inevitabilidade da morte. Vale a pena assistir! (7,5)

domingo, 21 de junho de 2009

SEXTA-FEIRA 13 (EUA, 2009)

“Sempre mais do mesmo,
não era isso que você queria ouvir.”
Renato Russo
Direção: Marcus Nispel. Com: Jared Padalecki, Danielle Panabaker, Amanda Rigetti. 97 min.


Será que o cinema precisava de mais uma Sexta-feira 13? Já foram feitos desde 1980, 10 filmes com o afogado Jason Voorhees e um outro que junto este com Freddy Krueger da série “A hora do pesadelo”, (Freddy X Jason, EUA, 2003). Então tiveram a idéia de refilmar o primeiro filme, feito em 1980, por Sean S. Cunningham, que aqui assume como produtor.

O filme pretende apresentar Jason às novas gerações e por causa disso é bem movimentado e tem toques de crueldade e violência feitos para agradar os jovens que são o público principal desse tipo de filme, além de um orçamento bem mais polpudo. Mas 1980 não foi há tanto tempo atrás e essas “novas gerações” poderiam muito bem conhecer o filme original, apesar dele ter sido o menos reprisado pelas Tvs, mas foi lançado em VHS no final dos anos 80 e mais recentemente em DVD.
Refilmar os filmes de terror dos anos 80 agora é moda. Primeiramente o mesmo Marcus Nispel que dirige este, refilmou “O massacre da serra elétrica” (2003), feito originalmente por Tobe Hopper em 1974; Rob Zombie fez Halloween: O início (2007), a partir do original de John Carpenter (1978); já em 2009, Patrick Lussier refez “Dia dos namorados macabro”, cujo original de 1981, nem era memorável, não teve continuação e poucos se lembram dele. Simultaneamente a esta nova versão, foi lançado este Sexta-feira 13.
No início do filme, um flashback mostra como a mãe de Jason foi morta e como este morreu afogado no lago Crystal, sem que ninguém pudesse ou quisesse salva-lo. Vários anos depois um jovem procura por sua irmã desaparecida e acaba encontrando com um grupo de jovens que está indo passar as férias em uma cabana no lago Crystal e o espectador tem certeza que quase todos eles serão assassinados pelo vingativo Jason. Então não há nenhuma novidade, é sempre mais do mesmo: é só aguardar pela próxima morte e o inevitável fim, que deixa as portas abertas para uma continuação.
O elenco é formado por nomes desconhecidos, mas só o tempo dirá se algum deles chegará ao estrelato, como aconteceu como Kevin Bacon que estrelou a primeira versão desse filme. Ainda não assisti ao filme de 1980, mas não fiquei nem um pouco impressionado com este, que é igual a todos os outros 11 já feitos, mas os fãs de terror podem gostar, só não aprenderão nada de novo. (5,0)

ÚLTIMA PARADA: 174 (Brasil, 2008)

"Quem vai tomar conta dos doentes
Quando tem chacina de adolescentes?"
Renato Russo
Direção: Bruno Barreto. Com: Michel Gomes, Cris Viana, Marcelo Melo Jr., Ana Cotrim. 110 min.
No dia 12 de junho de 2000, o paulista Sandro do Nascimento seqüestrou um ônibus no centro do Rio de Janeiro com vários reféns. O evento foi coberto ao vivo, por várias emissoras de TV do Brasil e do exterior. É a vida desse jovem que o novo filme de Bruno Barreto conta. Vemos desde a sua infância e a de um quase homônimo seu, Alessandro, de como cresceram e se envolveram com a marginalidade. Até o dia fatídico em que Sandro seqüestra o ônibus 174 e ameaça os passageiros caso não tenha suas solicitações atendidas, mas na verdade ele não quer matar ninguém e até pede para uma das reféns se fingir de morta. Tudo resulta de um imbróglio em que Sandro se vê envolvido depois que um dos passageiros o denuncia por estar portando uma arma. Apesar do título do filme, o seqüestro do ônibus é só mais um dos eventos retratados na vida de Sandro e só ocupa uns 15 minutos do filme. Acompanhamos a luta de sua suposta mãe para encontra-lo; a dedicação de Valquíria com os menores abandonados; o amor de Sandro por uma prostituta e sua amizade com seu xará Alê. O elenco é formado em sua maioria por atores desconhecidos do grande público, mas todos desempenhando muito bem o seu papel. O único problema do filme é que ele é uma ficção, apesar de baseado em fatos reais e alguns personagens e situações foram criados pelo roteirista Bráulio Mantovani. Então ficamos sem saber o que aconteceu realmente e o que foi criado para o filme. Então vem a vontade de ver o documentário “Ônibus 174” (2002) de José Padilha. Mas esse é só um detalhe e não atrapalha a apreciação do filme, que é empolgante do início ao fim e merece ser visto. (8,0).

ENTRE OS MUROS DA ESCOLA (França, 2008)









Direção: Laurent Cantet. Com: François Begaudeau, Nassim Amrabt, Laura Baquela. 128 min.


É Impressionante como os filmes sobre professores dedicados sempre conseguem empolgar. Desde “Ao mestre com carinho” (EUA - 1966), até este “Entre os muros da escola”, que conta a história de um professor de francês e sua luta para que os alunos aprendam o conteúdo. O filme transcorre todo na sala de aula desse professor e nos corredores dessa escola. Há uma leve discussão sobre sexualidade quando um dos alunos pergunta se o professor é gay, mas como ele nega, o assunto é deixado para trás. O filme foge um pouco dos clichês do gênero, por contar só com alunos interessados, sendo os dois maiores conflitos, quando um dos alunos o desrespeita e vai para o conselho a fim de que decidam se ele será expulso ou não e o outro de um desentendimento com uma aluna que conversa durante uma reunião e se sente ofendida quando o professor a critica. O filme transcorre tranquilamente até o final meio pessimista em que uma aluna diz que ao contrário dos outros, não aprendeu nada. Depois a câmera fixa mostra as cadeiras vazias e deixa a impressão que o professor poderia ter provado à aluna que ela aprendeu sim, mesmo que seja no convívio com seus colegas. Um filme francês indicado a professores, alunos e a todos aqueles que se interessam por educação ou que querem simplesmente ver uma bela história de dedicação e perseverança. (8,0)

CORRA LOLA, CORRA (Alemanha, 1998)









(Lola Rennt) 1998, Direção: Tom Tykwer, Com Franka Potente, Moritz Bleibtreu, Herbert Knaup, Nina Petri. 80 min.




Lola recebe uma ligação do namorado Manni, que está desesperado por ter sido roubado por um mendigo, perdendo assim 100 mil marcos de seu chefe, então pede que sua namorada arrume esse dinheiro. Lola sai correndo pelas ruas já que só tem 20 minutos para conseguir esse montante. O filme oferece à personagem central a chance que todos nós gostaríamos de ter: voltar no tempo e fazer as coisas diferentes até se chegar ao final feliz. Na primeira chance, Lola logo pensa em seu pai para ajudá-la e vai até a empresa dele. Chegando lá o pega em flagrante com a sua amante. Ele diz que vai se separar, que não é seu pai e a expulsa. Quando o relógio marca meio dia e Lola não chega com o dinheiro, Manni resolve assaltar um supermercado. Lola chega para ajudá-lo, mas a polícia os cerca e atira nela, que relembra o amor que sente por Manni, então faz tudo de novo a fim de resolver o problema e evitar sua morte. Da segunda vez não é muito diferente: Lola vai novamente à procura do pai, que está gritando com a amante. Lola diz que precisa de 100 mil marcos e ameaça o pai e um de seus funcionários com uma arma até conseguir o que quer. Depois sai correndo até Manni, mas este é atropelado por um carro do corpo de bombeiros e fica estendido no chão à beira da morte. Nas lembranças em vermelho berrante Manni pergunta o que Lola faria se ele morresse. Ela retruca que ele não morreu ainda e faz tudo de novo para evitar a sua morte. Na terceira chance quase tudo dá certo, Manni recupera o dinheiro que foi roubado pelo mendigo e o devolve o seu chefe, enquanto Lola ganha uma bolada no cassino. Os dois se abraçam e podem enfim descansar. O único inconveniente é com seu pai que sofre um acidente de carro, mas ela nem se dá conta disso até que o filme termine. Quem dera pudéssemos ser como Lola: voltar no tempo e consertar nossos erros até que tudo desse certo e pudéssemos ser completamente felizes.

O filme “Corra Lola, corra” é empolgante e prende a atenção do início ao fim pelo ritmo acelerado de suas imagens e a mistura de cenas com atores e desenho animado, cores com preto e branco e fotografias que contam a vida de alguns personagens com os quais a protagonista cruza, além da música vertiginosa, que é como se fosse um compasso para a correria de Lola (Franka Potente) pelas ruas da Alemanha. A montagem nervosa não dá tempo para se distrair, bem ao gosto do grande público, o que é lugar comum nos blockbusters atuais, com a diferença que aqui há uma boa história a ser contada e que serviu também para colocar o alemão de novo em voga. Um ótimo filme para ver e rever várias vezes a fim de absorver todos os detalhes. Corra agora mesmo para a locadora e alugue ou compre o filme para a sua filmoteca. São 80 minutos de pura diversão. Este foi um dos primeiros filmes dirigidos pelo alemão Tom Tykwer. Em seguida ele fez o muito criticado “Paraíso” (2002) que era um projeto de Krzysztof Kieslowski. Já Franka Potente foi para os Estados Unidos e participou dos dois primeiros filmes da trilogia Bourne (A Identidade Bourne e A Supremacia Bourne) com Matt Damon.



SONINHA TODA PURA (Brasil, 1971)

"Cada um de nós imerso em sua própria arrogância,
esperando por um pouco de afeição."
Renato Russo




Direção: Aurélio Teixeira. Com: Adriana Pietro, Carlo Mossy, Elza de Castro, Zélia Hoffman e Aurélio Teixeira. 72 min.


“Soninha toda pura” é um filme psicológico disfarçado de pornochanchada. Conta a história de Soninha (Adriana Pietro) que vai passar um final de semana na casa de praia da família com sua amiga Nanan (Elza de Castro), a mãe de Soninha, Malena (Zélia Hoffman) e seu amante Bentinho (Carlo Mossy).Quase todo o filme se passa nessa casa em Cabo Frio ou na praia com exceção de uma cena que tem a participação do diretor Aurélio Teixeira, bem no início da história. A psicologia dos personagens vai sendo desenvolvida aos poucos em conversas ou revelações. Soninha é ingênua, nunca foi beijada, nem amou e não percebe que está sendo seduzida pela amiga Nanan, que nutre um amor secreto por ela e usa os ensaios da peça Romeu e Julieta para se aproveitar das situações e das cenas românticas. Adriana Pietro, aos 21 anos exala beleza e ingenuidade impressionantes como a mocinha virgem e despreparada para o amor. É triste pensar que ela morreria quatro anos depois em um acidente de automóvel. Carlo Mossy (com as falas dubladas por outro ator), pouco antes de se tornar um dos ícones da pornochanchada, com filmes como “Quando as mulheres querem provas” (1975) e Giselle (1980), vive o cafajeste sustentado por Malena, mas que nutre uma paixão por Soninha e desejo sexual por Nanan. Já Malena se sente insegura com o namorado quando percebe que ele só quer o seu dinheiro e ainda está interessado em sua filha, da qual ela quer preservar a pureza.

É possível perceber o desejo latente dos personagens: de Nanan por Soninha, que a ama, mas não tem coragem de revelar esse amor; de Soninha em descobrir o amor e ser amada, por quem quer que seja; e de sua mãe que ama Bentinho, mas sente que o está perdendo. Há na trilha sonora belas músicas internacionais como “Lonely days” do Bee Gees. A censura ainda era ferrenha e a única cena de sexo (um estupro) acontece com os dois personagens vestidos. O único defeito do filme é ser curto (72 minutos) e deixar a impressão de que algumas das situações poderiam ser melhor desenvolvidas. (7,5)