Grande Otelo e Oscarito em De pernas pro ar |
Sabe aquele ditado popular: "Não diga dessa água não
beberei"? É a mais pura verdade. Apesar de amar o cinema brasileiro, eu
repudiava as chanchadas e fugia delas sempre que passavam no Canal Brasil.
Cheguei a escrever uma crítica detonando o filme "Garotas e Samba",
mas agora estou vendo uma depois da outra e gostando demais. Até comprei o
livro "Este mundo é um pandeiro" de Sérgio Augusto, lançado em
1989 pela Companhia das Letras, o livro “O mundo é um pandeiro” que conta
a história do gênero e é uma das fontes mais consultadas quando se fala em
chanchada.
Eliana e Anselmo Duarte em Aviso aos navegantes |
A chanchada foi um gênero cinematográfico de grande
aceitação popular que dominou o cinema brasileiro nos anos 30, 40 e
principalmente 50. enfrentava os filmes americanos que faziam muito sucesso
desde aquela época.
Foi muito criticada, pois se achava que ela não tinha nada
a dizer e isso vem da origem do nome cianciata,
que significa um discurso sem sentido, uma coisa vulgar, um argumento falso. Em
espanhol chanchada significa “porcaria”, mas isso não era verdade, sempre havia
algo por trás daquelas histórias ingênuas e algo maliciosas.
No início, serviam para divulgar as marchinhas
carnavalescas e vários filmes traziam a palavra carnaval no próprio nome, como
“Alô, alô, carnaval” (35), “Carnaval no fogo (49), Carnaval Atlântida (53) e
Carnaval em Marte (55). Com o decorrer do tempo, as histórias ficaram mais
complexas com a introdução de novas situações dramáticas, abandonando um pouco
seu lado teatral e radiofônico.
A maior produtora de chanchada foi a Atlântida, fundada em
1941 pelos irmãos José Carlos Burle e Paulo Burle que produziu sucessos como
“Não adianta chorar”, “Esse mundo é um pandeiro”, “E o mundo se diverte”,
“Carnaval no fogo”, “Aviso aos navegantes”, “Nem Sansão nem Dalila”, “Matar ou
correr” e “O homem do Sputinik”. Em 1962, com o começo da derrocada do gênero,
a empresa fechou as portas, só realizando em seguida algumas co-produções. Em
1975, Carlos Manga, um dos astros do gênero, dirigiu um documentário sobre o
estúdio: Assim era a Atlântida.
José Lewgoy |
Foram vários os astros e estrelas daquele período, com
destaque, como Oscarito, Grande Otelo, Dercy Gonçalves, Eliane, Anselmo Duarte,
José Lewgoy, Zezé Macedo, Cyll Farney e Fada Santoro.
As produções eram baratas e tinham retorno garantido de
público que lotava os cinemas, mas no começo da década de 60,
a fórmula
já estava desgastada e o gênero começava a dar seus últimos suspiros, depois de
quase três décadas de sucesso.
Acho que é impossível gostar de cinema brasileiro e ignorar
algum gênero específico. Se ainda não conhece (o que é bem improvável), passe a
conhecer também.
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