segunda-feira, 29 de agosto de 2016

A DESPEDIDA


Almirante (Nelson Xavier) tem 92 anos e as limitações que naturalmente vêm com a idade. Por isso, há muito tempo ele deixou de ir ver Morena (Juliana Paes), sua amante e o maior amor de sua vida. Um dia, ao acordar, o simples fato de estar com a fralda geriátrica limpa lhe traz felicidade e entusiasmo o suficiente para tentar ultrapassar sozinho as barreiras físicas e sair para resolver pendências, como a conta do bar, a relação com seu melhor amigo e com sua Morena.

A Despedida, de Marcelo Galvão, é baseado na história do avô do diretor, que teve uma amante bem mais nova durante muitos anos até o fim da vida.

Tudo o que o personagem do filme quer é juntar suas últimas forças para reviver prazeres de seu passado debon vivant e partir em paz. Depois de muito tempo fazendo tudo com ajuda, ele toma banho e se veste sozinho – sequência que demora e causa agonia, especialmente quando ele tenta calçar os sapatos. O insistente som abafado que incomoda nos primeiros minutos desaparece quando o personagem coloca o aparelho de surdez.

Para ele, o maior problema é ter plena consciência de sua fragilidade. Sua cabeça e sua libido contrastam fortemente com o corpo enrugado e debilitado. Mesmo assim, a visita a sua Morena é intensa e cheia de carinho. O filme quebra preconceitos ao mostrar com delicadeza o amor entre um idoso e uma mulher 55 anos mais jovem. A generosidade com que ela trata Almirante é tocante: para que ele não se sinta humilhado, ela finge não ver a dificuldade que ele tem de sair da banheira, por exemplo.

Ao mostrar a vulnerabilidade de Almirante, Galvão evidencia a fragilidade da nossa vida e do nosso corpo, do qual aos poucos vamos perdendo o controle. Mas mais que isso, ele confirma, sem ser piegas, o chavão de que o amor não tem idade.

A Despedida ganhou o Kikito de melhor diretor para Marcelo Galvão, melhor ator para Nelson Xavier, melhor atriz para Juliana Paes e melhor fotografia para Eduardo Makino.


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