Almirante (Nelson Xavier) tem 92
anos e as limitações que naturalmente vêm com a idade. Por isso, há muito tempo
ele deixou de ir ver Morena (Juliana Paes), sua amante e o maior amor de sua
vida. Um dia, ao acordar, o simples fato de estar com a fralda geriátrica limpa
lhe traz felicidade e entusiasmo o suficiente para tentar ultrapassar sozinho
as barreiras físicas e sair para resolver pendências, como a conta do bar, a
relação com seu melhor amigo e com sua Morena.
A Despedida, de Marcelo Galvão, é
baseado na história do avô do diretor, que teve uma amante bem mais nova
durante muitos anos até o fim da vida.
Tudo o que o personagem do filme
quer é juntar suas últimas forças para reviver prazeres de seu passado debon
vivant e partir em paz. Depois de muito tempo fazendo tudo com ajuda, ele
toma banho e se veste sozinho – sequência que demora e causa agonia,
especialmente quando ele tenta calçar os sapatos. O insistente som abafado que
incomoda nos primeiros minutos desaparece quando o personagem coloca o aparelho
de surdez.
Para ele, o maior problema é ter
plena consciência de sua fragilidade. Sua cabeça e sua libido contrastam
fortemente com o corpo enrugado e debilitado. Mesmo assim, a visita a sua
Morena é intensa e cheia de carinho. O filme quebra preconceitos ao mostrar com
delicadeza o amor entre um idoso e uma mulher 55 anos mais jovem. A
generosidade com que ela trata Almirante é tocante: para que ele não se sinta
humilhado, ela finge não ver a dificuldade que ele tem de sair da banheira, por
exemplo.
Ao mostrar a vulnerabilidade de
Almirante, Galvão evidencia a fragilidade da nossa vida e do nosso corpo, do
qual aos poucos vamos perdendo o controle. Mas mais que isso, ele confirma, sem
ser piegas, o chavão de que o amor não tem idade.
A Despedida ganhou o Kikito
de melhor diretor para Marcelo Galvão, melhor ator para Nelson Xavier, melhor
atriz para Juliana Paes e melhor fotografia para Eduardo Makino.
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