sexta-feira, 2 de novembro de 2012

MORRER: OS QUE NÃO SE IMPORTAM E OS QUE SE IMPORTAM



QUANDO VIER A PRIMAVERA
Fernando Pessoa

Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.
Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma

Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.

Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.




                            SE EU MORRESSE AMANHÃ
Álvares de Azevedo


Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã;
Minha mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã!

Quanta glória pressinto em meu futuro!
Que aurora de porvir e que manhã!
Eu perdera chorando essas coroas
Se eu morresse amanhã!

Que sol! que céu azul! que doce n'alva
Acorda a natureza mais louçã!
Não me batera tanto amor no peito
Se eu morresse amanhã!

Mas essa dor da vida que devora
A ânsia de glória, o dolorido afã...
A dor no peito emudecera ao menos
Se eu morresse amanhã!





E para que outras pessoas não morram doe sua medula:

5 comentários:

  1. Oi Gilberto!
    Eu me importo duplamente,tenho muita consideração por aqueles que já se foram e considero minha própria morte.
    Sei que a morte é uma certeza,mas que ela demore pra chegar e me pegue bem velhinho depois de eu ter feito tudo que desejar.
    Gostei da escolha dos poemas,Fernando Pessoa e Álvares de Azevedo são brilhantes.
    Abraço!

    Bruno

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  2. Olá, Gilberto. Grandes poetas, heim, amigo. Que bom compartilhas isso aqui. Um abraço...

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Houve um tempo em que não tinha um dia que eu não acordava já pensando na morte, com medo dela. Demorou um pouco, mas me dei conta de que eu estava vivendo mais preocupada com a morte do que com a vida. "Eu estou viva, porque fico pensando na morte?" pensei. Coisas da solidão. Hoje, minha preocupação é preparar, o melhor que eu posso, a minha filha para o mundo, e ter tudo em ordem e em dia na minha própria vida. Não penso mais na morte, apenas vivo, vivo com tudo de bom que tenho, e sou muito grata por tudo.

    Belíssimos poemas de seus poetas maravilhosos.

    Um abraço pra você, Gilberto.

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  5. O texto de Fernando Pessoa é singular, como é singular a capacidade que alguns autores tem de transformar um tema como a morte em poesia. Um abraço!

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