Sempre soube que “noite americana” é
um filtro especial da câmera que faz as cenas filmadas durante o dia, parecerem
noturnas, mas nunca entendi porque não esperar a noite para fazer essas cenas e
deixar tudo mais natural. Mas aí está a mágica do cinema: contar uma mentira
tão bem contada que parece até verdadeira. E é essa também a explicação para o
título do filme.
Uma verdadeira declaração de amor ao
cinema. Bem maior que a nossa, que somos apenas espectadores, falando de gente
que trabalha com cinema e faz disso sua vida. tudo é meio autobiográfico.
François Truffaut que é o diretor, também faz o diretor do filme “A chegada de
Pamela” ou “Eu vos apresento Pamela” como preferem alguns tradutores;
Jacqueline Bisset interpreta uma personagem inspirada em Julie Christie , que
fez Farenheit 451 com Trauffaut e cita a catapora que era a doença que tinha a
personagem do filme que a revelou (Um caminho para dois); a morte do ator
principal durante as filmagens foi uma lembrança de Françoise Dorléac que fez
com ele, “Um só pecado” e tantas outras referências.
O diretor tem que lidar com os egos
exaltados de sua estrela, que teve anteriormente um colapso nervoso (Bisset),
seu astro apaixonado por uma assistente (Jean Pierre Aumont), uma atriz que não
consegue decorar as falas (Valentina Cortese, que venceu o Oscar de atriz
coadjuvante); o galã veterano que assume ser gay... Mas sempre fazendo relação
entre o cinema e a vida real. O próprio diretor assume que a vida é muito mais
importante que o cinema, ao passo que a aplicada assistente de direção diz que
jamais abandonaria um filme por um homem, como fez uma outra assistente. E
depois quando o contra-regra diz a um repórter que não houve nenhum problema
durante as filmagens e que tomara que o público goste tanto de assistir ao
filme quanto eles gostaram de fazê-lo.
O cinema é isso: às vezes filmagens
atribuladas ou brigas entre o elenco geram verdadeiras bombas, outras vezes
geram filmes primorosos, mas não há como prever isso e é aqui que entramos nós,
os espectadores (e também os críticos) que determinam o sucesso ou o fracasso
ou se o filme é bom ou ruim.
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