Em 1982, a escritora americana Alice Walker lançou
o romance autobiográfico, “A cor púrpura”, ganhador do prêmio Pulitzer. Romance
esse lançado no Brasil em 1986, pela Editora Marco Zero depois do sucesso do
filme homônimo de Steven Spielberg de 1985. A capa do livro inclusive traz um esboço
de Whoopi Goldberg (protagonista do filme) sentada em uma cadeira de balanço
enquanto lê uma carta.
Steven Spielberg nunca tinha sido levado muito a sério até então, pois a
crítica o achava meio infantilóide e capaz de dirigir filmes apenas escapistas,
como “Tubarão” (1975), “Os caçadores da arca perdida” (1981) e ET – O
extraterrestre (1982), filmes esses de grande sucesso e queridos pelo público,
mas faltava algo em sua carreira: o respeito da crítica. Então em 1985, ele
produziu e dirigiu a adaptação cinematográfica do romance de Alice Walker. “A
cor púrpura” (The color purple) é considerado seu primeiro filme adulto.
Recebeu 11 indicações para o Oscar, mas estranhamente não levou nenhuma
estatueta, nem para a bela interpretação de Whoopi Goldberg em sua estréia no
cinema, em papel dramático, que é raro em sua carreira, que se notabilizou por
papéis cômicos como a falsa freira de “Mudança de Hábito”, a babá de “Corina –
Uma babá perfeita” e a médium picareta de “Ghost – Do outro lado da vida”, que
finalmente lhe deu o Oscar, dessa vez como melhor atriz coadjuvante.
A cor púrpura conta a história de Cellie, uma mulher negra que escreve cartas
para Deus contando sua vida: como foi estuprada pelo suposto pai e teve dois
filhos dele; o sofrimento por viver três décadas afastada de sua irmão Nettie e
de seus filhos; o casamento forçado com Albert, um homem violento; a submissão
frente aos preconceitos da sociedade e o amor incondicional que sente pela
cantora Docí Avery (que no filme virou Shug Avery).
O livro é narrado em primeira pessoa por Cellie, que quase não estudou e os
termos e palavras usados por ela, são a transcrição de seu jeito humilde e
interiorano de falar. Ela possui uma grande fé e escreve cartas para Deus.
Quase todos os capítulos se iniciam com “Querido Deus”, com exceção daqueles em que Celli descobre as
cartas de sua irmã que foram escondidas por seu marido, então cada capítulo
passa a ser cada uma das cartas entre as duas irmãs.
A fé é um ponto marcante em “A cor púrpura”. Cellie precisa de Deus para
superar suas tristezas e frustrações. O título do livro é explicado durante uma
conversa entre Cellie e Docí Avery, que discutem a existência de Deus e sua
forma. Docí retruca:
“Eu acho que Deus deve ficar fora de si se você passa pela cor púrpura num
campo qualquer e nem repara.” (p. 217) e depois Cellie:
“Eu vivi tão ocupada pensando Nele queu na verdade nunca reparei nada do que
Deus faz. Nem na espiga de milho (como será que Ele faz isso?) nem na cor
púrpura (de onde será que ela vem?) nem nas florzinha silvestre. Nada. (p. 218)
No filme isso foi mantido ao menos na primeira parte, onde a voz em off de
Cellie narra suas desventuras, com um texto bastante idêntico ao do livro.
Os personagens são dinâmicos, em especial, a protagonista, que no início é
condescendente ao marido, faz tudo o que ele quer e até apanha calada, mas
consegue se libertar com o tempo, falando o que pensa e até saindo de casa.
Apesar da metragem de 156 minutos, várias coisas foram reduzidas no processo de
elisão da adaptação cinematográfica. A primeira metade transcorre com mais
detalhes, já a segunda é mais apressada, desde quando Cellie descobre as cartas
de sua irmã até a volta desta para casa. Como a história percorre mais de 30
anos na vida das personagens, é compreensível essas omissões. Mas mesmo assim,
há o acréscimo do personagem do pai de Albert que não aparecia no livro.
Continua...
Um dos filmes mais dramáticos que eu já vi!
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