quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

O TEMPO QUE RESTA


O que fazer quando não há nada a ser feito nem mesmo tempo para se fazer? Um fotógrafo de 31 anos (Melvin Poupaud) descobre que tem um câncer inoperável e poucos meses de vida, então se recusa a fazer quimioterapia pelo sofrimento que isso causaria e pelas ínfimas chances de sucesso.

Muitos filmes já trataram sobre esse tema, falando de pessoas que resolvem aproveitar ao máximo o tempo que lhes resta: viajam, amam ou tentam fazer as outras pessoas felizes. O que não é o caso de nosso protagonista que se fecha, briga com o namorado e com os pais, humilha a irmã e só tem coragem de contar que vai morrer para a avó (a diva Jeanne Moreau) que também está perto do mesmo fim. O fato de contar aos mais próximos sobre sua doença, não resolveria o problema, mas poderia ajudá-lo a conviver melhor com ele, pelo apoio que eles lhe forneceriam. Mas ninguém pode condená-lo por seus atos, pois esse é um assunto que todos evitam.


Melvin Poupaud e Jeanne Moreau

O que cada um de nós faria se estivesse no lugar desse fotógrafo? Viajaria pelo mundo? E se não houvesse dinheiro para pagar essas viagens? Reuniria os amigos para uma festa inesquecível? E se não houvessem amigos para serem convidados? Amaria todos que cruzassem seu caminho? Faria sexo com todo mundo que te atraísse e com os que não te atraíssem também? Ou simplesmente enlouqueceria? A última opção é uma das mais prováveis, pois mesmo sabendo que vamos morrer um dia, nos conformamos em saber que não vai ser agora ou pelo menos rezamos (oramos) para que quando esse dia chegar que seja rápido e sem dor.



Apesar do tema triste, O tempo que resta nos faz refletir sobre essa questão tão delicada. O protagonista descobre aos poucos e à sua maneira como aproveitar o tempo: a possibilidade de ter um filho, a conversa emocionante com o pai, um dia na praia... François Ozon (Oito mulheres, Gotas d’água em pedras escaldantes) construiu um filme conciso (77 minutos) que consegue emocionar e passar a sua mensagem: aproveite o seu tempo, mesmo porque você não sabe quanto dele ainda lhe resta.






 

6 comentários:

  1. Sempre que ouço ou leio uma história assim, fico imaginando o que eu faria.Pelo que conheço de mim, ficaria tão deprimida que morreria antes, ou não, sou meio imprevisível. Muitas vezes, em situações que me deixam ansiosa e com medo, quando chega na hora H, o medo se transforma em coragem, acabo por enfrentar o meu medo. Fiz isso recentemente. Lembrei agora das onze coisas pelas quais acho que vale a pena viver. Quero poder fazer as coisas que ainda tenho pra fazer.

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    1. É Ligeia, realmente nos momentos difíceis a gente encontra forças para lutar, mesmo sem saber de onde a tiramos. Também tenho muitas coisas para fazer. Tomara que dê tempo...

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  2. Minha avó materna foi acometida de câncer no útero, em 1990, aos 68 anos. O médico falou com a minha mãe que ela teria uns 6 meses de vida. Ela não precisou fazer quimioterapia. Se não me engano, fez radioterapia. Ficou curada. Morreu 8 anos depois, de parada cardíaca, dormindo...

    Creio que se eu estivesse na pele do protagonista desse filme, me suicidaria. O problema é a coragem para fazer tal ato. Creio que o modo menos indolor seja a forca. No entanto, tem que ser bem feito, pois se não for, sofremos muito antes de morrermos.

    Mas, pode-se dizer que estou vivendo como se tivesse uma doença terminal, já que, vivo de uma renda que tenho na caderneta de poupança, que terminará antes de dois anos. Não penso mais em trabalhar. Opções: morar na casa de alguém de favor, ir para uma espécie de asilo, se tornar mendigo. Nada disso me agrada, nem um pouco. A outra opção, é a morte, mas, repito, haja coragem para se matar.

    Na verdade, há anos que estou morto. Há uns três anos atrás, parecia que eu me ressuscitaria, porém foi tudo um ledo engano! Continuo morto.rs

    Perdão pelo prolixo desabafo, Gilberto.

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    1. Roderick, seu comentário não foi prolixo. Gosto de desabafos. Também gosto de fazê-los para ver se me sinto mais leve.

      Acho que as coisas deveriam ser mais simples e se a morte se tornar inevitável, que seja logo e sem dor (o que é quase impossível) como foi a da sua avó. Quanto ao suicídio não sei se é a melhor solução, pois fico imaginando o sofrimento advindo dele, pois dizem que os suicidas não conseguem se salvar e eu acredito na salvação. Mas eu torço de coração para que você supere esses momentos difíceis.

      Mas por que será que temos que sofrer tanto?

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  3. Prezado Gilberto,

    Se o suicida tem um destino igual ao que os espíritas dizem, nossa, nem é bom pensar... Mas, mesmo outras religiões condenando tal ato. Penso que cada um decide sobre si. E que livre-arbítrio é esse? Ora, não é preferível matar a si mesmo que matar outras pessoas?

    E como eu sempre achei que as coisas deveriam ser mais simples, mas não são; e há quem pense que são...

    "Mas por que será que temos que sofrer tanto?" "O sofrimento é a lei de ferro da natureza"(Eurípedes).

    Somos impotentes. O jeito , o "consolo", é seguir o barco, até que ele afunde de vez.

    Te agradeço muito à paciência e às palavras de conforto.

    Felicidades!

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