Direção: Fernando Cony Campos. Com:
Karin Rodrigues, Jofre Soares, Fábio Porchat, Vera Viana, Walter Forster,
Tallulah Campos, Esmeralda Barros, Fernando Campos e Joel Barcelos. 96 min.
Cinema underground.
Baseado em dois capítulos do livro
“Memórias póstumas de Brás Cubas” (O delírio e O senão do livro), um personagem
(Jofre Soares) do conto “O vôo” de Carlos Augusto de Góes e na leitura e
meditação de alguns livros de Simone Weil, “Viagem ao fim do mundo” é o filme
mais literário que eu já vi. Cheio de citações de atores famosos, como
Chesterton, T. S. Elliot e Jorge de Lima, além de Machado de Assis, citações
essas que aparecem na narração em off nas vozes de Echio Reis, Paulo Martins,
Hércio Machado e Paulo César Pereio. A narração perpassa quase todo o filme,
com pequenas interrupções para algumas falas.
A história se passa durante uma
viagem de avião onde vários personagens sem ligação aparente se cruzam.
Enquanto espera o embarque do avião, um homem compra em uma banca o livro
“Memórias póstumas de Brás Cubas”, o qual lê até o capítulo “O delírio”, onde
visualiza Pandora (a mulher que guarda os segredos do mundo em uma caixa), como
uma mulher nua na praia, que lhe revela o futuro da humanidade com guerras, Stalin,
Hitler e outras desgraças; uma freira duvida da existência de Deus e se deve ou
não permanecer na igreja (uma das personagens que mais aparece na história já
que é feita por Tallulah Campos que também é produtora e diretora de dublagem e
a quem o filme é dedicado); um jogador com um futuro incerto em seu novo time;
um senhor ansioso (Jofre Soares); uma modelo de publicidade (Vera Viana) que
trai o marido (Walter Forster) com outro passageiro do avião. Em comum todos
esses personagens têm medo da vida e de não conseguirem aceitar com
naturalidade o que acontece com eles, mas quem aceita?
Caetano Veloso canta seis canções da
trilha sonora, incluindo “Alegria, alegria”, que abre a história e é uma das
músicas brasileiras mais usadas como tema de filmes e novelas.
Fernando Cony Campos (Ladrões de
cinema – 1977) sempre dirigiu filmes experimentais em que seu lado autor ficava
evidente e aqui não é diferente. Não é destinado ao público médio de cinema,
mas a quem quer experimentar novas experiências, claro que exige um certo nível
de paciência, pois com o tempo as cenas sem conexão umas com as outras começam
a cansar. Em um plano, o diretor justifica porque fazia filmes diferentes do
convencional.
Há cenas engraçadas como quando uma
personagem justifica que ela mesma é um erro de continuidade e que só aparece
nos planos ímpares e principalmente a entrevista com um médico que fala do
câncer e não sabe o que responder quando lhe perguntam se o mundo está com
câncer. Só essa cena já valeria o filme.
Boa pedida.
ResponderExcluirOi, Gilberto, como vai? Eu já ouvi falar sobre esse filme mas achei bem interessante o contexto do enredo,embora concorde que tramas paralelas o tempo todo cansam um pouco. Um abraço!
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