Volta e meia a função da crítica é questionada.
A internet redesenhou o papel da crítica de cinema assim como forçou o
jornalismo como um todo a se reinventar. Nada novo até aí. No entanto, uma
discussão derivada dessa problemática merece atenção. As mídias sociais
diminuíram a força da crítica de cinema? Um crítico é ainda relevante para
determinar a opção por um filme em detrimento de outro? Segundo o crítico
canadense Richard Crouse, que se deteve sobre o tema em artigo
na The Canadian Press, a relevância de um crítico hoje é mínima, quase nula.
“Antigamente, você tinha um grupo de críticos que podia confiar e construir uma
relação. Mesmo que discordasse deles, você os lia e prestava atenção no que
eles tinham a dizer. Agora é tudo bem diferente. Eu acho que as pessoas
perpassam blogs e Twitter e se decidem por lá mesmo”. “Eu acho que o Twitter, o
Facebook e toda essa era digital precipitam essa demanda por reação instantânea
a qualquer coisa sem o tempo para um real aprofundamento”, observa à coluna um
dos diretores de programação do Festival de Toronto, Jesse Wente.
Rubens Ewald Filho, o maior crítico de cinema do Brasil |
Ouvido sobre a questão pela revista The
interview, o cineasta David Cronenberg disse que sites como o
Rotten Tomatoes, portal que reúne todas as críticas publicadas na web sobre os
filmes em lançamento, dilui a efetividade das críticas. “Você tem os ‘top
críticos’ e os ‘críticos’, uma distinção entre críticos que realmente se engajaram
na profissão e outros que ali estão apenas por aventura”.
Uma boa crítica de cinema objetiva expandir a
experiência cinematográfica. Não se trata de encerrar a discussão sobre uma
obra, mas sim de iniciá-la, de reverberá-la. De oferecer ao leitor outros
ângulos, de estabelecer um diálogo com a obra, de refinar possíveis
interpretações e apontar minúcias e símbolos, entre outros.
Luiz Zanin Oricchio, crítico de cinema da Folha de S. Paulo |
Roger Ebert, talvez o maior e mais celebrado crítico de cinema do
mundo, morto em 2013, pensava diferente. Em 2011, publicou um artigo no Wall
Sreet Journal sobre o tema e via a internet no geral, e as redes sociais em
particular, como uma bomba de oxigênio para a crítica de cinema. Para ele,
trata-se de uma era de ouro. “Mais frequentadores de cinema estão lendo boas
críticas sobre filmes novos e velhos do que antes. Ainda que também estejam
lendo mais críticas ruins”. O jornalista americano Matt Singer,
no blog Indie Wire vê nessa evolução da crítica de cinema seu ponto mais fatal
e vai ao encontro do que pensa Cronenberg. “Ao permitir que
todo mundo que tenha uma perspectiva sobre cinema escreva sobre isso e
compartilhe com o mundo, essa evolução pode matar a carreira da próxima geração
de críticos”.
Paralelamente a essa discussão cheia de
subjetividades, uma pesquisa feita pela Nielsen nos EUA apurou que usuários do
Twitter vão mais ao cinema do que frequentadores de cinema que não têm conta na
rede social. Não obstante, usuários do Twitter têm 87% mais chances de ir ver
um filme em seus dez primeiros dias de exibição e 340% mais chances de ter
visto mais de 12 filmes nos últimos seis meses do que não usuários. Além do
mais, os usuários do Twitter estão mais inteirados dos lançamentos do verão
americano (época mais lucrativa para os estúdios de cinema). Obviamente, a
pesquisa – encomendada pelo Twitter – ambiciona mostrar para Hollywood o
potencial promocional da rede social. É senso comum que nenhum crítico de
cinema hoje possui tamanha influência.
Luiz Carlos Merten, crítico da Folha de S. Paulo |
Muitos, inclusive, abrem mão de ler críticas
antes de verem os filmes e só o fazem após a sessão. Na maioria das vezes,
apenas em caso de aprovação do filme. Essa realidade, potencializada pela
ojeriza a spoilers, como se uma crítica por definição carregasse spoilers,
enfraquece a formação cultural de frequentadores de cinema e relega ao
marketing de estúdios e distribuidoras a missão cada vez mais árdua (em virtude
dos preços pouco amistosos dos ingressos) de levar o público ao cinema.
Disponível em:
http://cineclube.ig.com.br/index.php/2015/06/11/a-critica-de-cinema-esta-morrendo/
Gilberto, vou tomar a liberdade de expressar a minha opinião sobre esse assunto aqui abordado! Acho que no geral, não é só a crítica de cinema que está morrendo, mas sim o cinema em si. Talvez você possa me achar um outro pessimista, como tantos por ai, mas penso que, no geral, nunca os filmes foram tão fracos, repetitivos e clichês como agora. Sempre que vou ao cinema ver alguma coisa atual, me decepciono, a última vez foi agora, recentemente, quando fui todo empolgado ver JURASSIC WORLD, que pra minha decepção só é mais um do mesmo, chato, fraco e completamente inferior aos antecedentes. Enfim, esse é só um exemplo dentre tantos outros.... Grande Abraço!
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