sábado, 4 de abril de 2015

JESUS DE MONTREAL


Em 1989, um ano depois de Scorsese lançar “A última tentação de Cristo”, Dennys Arcand lançou essa parábola sobre uma encenação ao ar livre na cidade de Montreal (Canadá) da Paixão de Cristo, intitulada “A paixão na montanha”.
Um rapaz, Daniel Coulombe, é convidado por um sacerdote que adora teatro (ele chega a citar uma montagem de Ricardo III com Alec Guiness) a dirigir e estrelar uma modernização da Paixão de Cristo, já que a montagem anterior já durava 35 anos. Daniel convida quatro amigos atores e a montagem é um sucesso, apesar da oposição da Igreja Católica que não concorda com algumas “liberdades” tomadas pelo autor.


O filme coloca em dúvida vários dogmas da igreja sobre a vida de Cristo, como onde ele nasceu, com quantos anos morreu; que seu verdadeiro nome teria sido Yeshu Ben Panthera, que ele seria filho de um soldado romano e que a Virgem Maria teria sido mãe solteira (e não teria dado a luz virgem) ou que talvez Cristo nem tivesse existido.
A peça é encenada ao ar livre, enquanto duas das atrizes comentam alguns fatos mal explicados da vida de Jesus, como os evangelhos escritos um século depois de seu nascimento, como se passou muito tempo, os autores podem ter mentido, enfeitado e até se esquecido de algumas coisas e que os milagres que Ele fazia eram mais populares que seus sermões.
“Jesus de Montreal” tem em comum com “A última tentação de Cristo”, o fato de chocar o espectador com novos fatos, ficcionais ou não, sobre a vida de Cristo, apesar de que em Jesus de Montreal os fatos polêmicos são narrados, enquanto em A última tentação de Cristo, eles são mostrados. No filme de Dennys Arcand, o sacerdote deixa claro em uma fala, a necessidade que as pessoas têm de acreditar em Deus e em Cristo, como Pedro havia feito no filme de Scorsese.


_ Eles não se importam com as descobertas arqueológicas no Oriente Médio. Querem ouvir que Jesus os ama e os aguarda.
E depois:
_ Nem todo mundo pode pagar um psicanalista. Então eles vêm aqui para que eu lhes diga: “Vão em paz, seus pecados estão perdoados”. Lhes conforta um pouco. Já é algo. Aqui é onde tocamos o fundo da solidão, das enfermidades e da loucura.
É possível fazer um paralelo entre Daniel Coulombe e o próprio Cristo. Primeiramente quando ele quebra várias coisas durante um teste para um comercial de cerveja em que Mireille, sua namorada, é convidada a participar com os seios de fora e como ele não concorda, fica descontrolado, como se o corpo dela estivesse sendo vendido, lembrando a ira de Cristo quando descobre que o templo foi transformado em um mercado. Em seguida quando Daniel está “pregado” na cruz durante a peça e alguém enfurecido durante uma blitz da polícia, que tentava impedir a encenação, derruba a cruz ele bate com a cabeça, já que a cruz cai em cima dele. Já no hospital ele começa a falar como Cristo e a sua morte ocorre num leito em forma de cruz. Daniel é o salvador de algumas vidas, já que seus órgãos são doados e várias pessoas são beneficiadas. Sua ressurreição acontece nessas pessoas que ganham uma nova vida.

Um comentário:

  1. Assisti este filme faz pouco tempo e gostei da forma como o diretor Denys Arcand "racionalizou" a vida de Cristo para a encenação da peça.

    As mudanças na história oficial de Cristo são mais fortes aqui do que no filme de Scorsese, mesmo que a princípio não transpareça desta forma.

    Gosto do estilo de Arcand, seus filmes sempre enfocam uma visão diferente das relações humanas.

    Abraço

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