Em 1989, um ano depois de Scorsese lançar
“A última tentação de Cristo”, Dennys Arcand lançou essa parábola sobre uma
encenação ao ar livre na cidade de Montreal (Canadá) da Paixão de Cristo,
intitulada “A paixão na montanha”.
Um rapaz, Daniel Coulombe, é convidado
por um sacerdote que adora teatro (ele chega a citar uma montagem de Ricardo
III com Alec Guiness) a dirigir e estrelar uma modernização da Paixão de
Cristo, já que a montagem anterior já durava 35 anos. Daniel convida quatro
amigos atores e a montagem é um sucesso, apesar da oposição da Igreja Católica
que não concorda com algumas “liberdades” tomadas pelo autor.
O filme coloca em dúvida vários dogmas da
igreja sobre a vida de Cristo, como onde ele nasceu, com quantos anos morreu;
que seu verdadeiro nome teria sido Yeshu Ben Panthera, que ele seria filho de
um soldado romano e que a Virgem Maria teria sido mãe solteira (e não teria
dado a luz virgem) ou que talvez Cristo nem tivesse existido.
A peça é encenada ao ar livre, enquanto
duas das atrizes comentam alguns fatos mal explicados da vida de Jesus, como os
evangelhos escritos um século depois de seu nascimento, como se passou muito
tempo, os autores podem ter mentido, enfeitado e até se esquecido de algumas
coisas e que os milagres que Ele fazia eram mais populares que seus sermões.
“Jesus de Montreal” tem em comum com “A
última tentação de Cristo”, o fato de chocar o espectador com novos fatos,
ficcionais ou não, sobre a vida de Cristo, apesar de que em Jesus de Montreal
os fatos polêmicos são narrados, enquanto em A última tentação de Cristo, eles
são mostrados. No filme de Dennys Arcand, o sacerdote deixa claro em uma fala,
a necessidade que as pessoas têm de acreditar em Deus e em Cristo, como Pedro
havia feito no filme de Scorsese.
_ Eles não se importam com as descobertas
arqueológicas no Oriente Médio. Querem ouvir que Jesus os ama e os aguarda.
E depois:
_ Nem todo mundo pode pagar um
psicanalista. Então eles vêm aqui para que eu lhes diga: “Vão em paz, seus
pecados estão perdoados”. Lhes conforta um pouco. Já é algo. Aqui é onde
tocamos o fundo da solidão, das enfermidades e da loucura.
É possível fazer um paralelo entre Daniel
Coulombe e o próprio Cristo. Primeiramente quando ele quebra várias coisas
durante um teste para um comercial de cerveja em que Mireille , sua
namorada, é convidada a participar com os seios de fora e como ele não
concorda, fica descontrolado, como se o corpo dela estivesse sendo vendido,
lembrando a ira de Cristo quando descobre que o templo foi transformado em um
mercado. Em seguida quando Daniel está “pregado” na cruz durante a peça e
alguém enfurecido durante uma blitz da polícia, que tentava impedir a
encenação, derruba a cruz ele bate com a cabeça, já que a cruz cai em cima
dele. Já no hospital ele começa a falar como Cristo e a sua morte ocorre num
leito em forma de cruz. Daniel é o salvador de algumas vidas, já que seus
órgãos são doados e várias pessoas são beneficiadas. Sua ressurreição acontece
nessas pessoas que ganham uma nova vida.
Assisti este filme faz pouco tempo e gostei da forma como o diretor Denys Arcand "racionalizou" a vida de Cristo para a encenação da peça.
ResponderExcluirAs mudanças na história oficial de Cristo são mais fortes aqui do que no filme de Scorsese, mesmo que a princípio não transpareça desta forma.
Gosto do estilo de Arcand, seus filmes sempre enfocam uma visão diferente das relações humanas.
Abraço