domingo, 9 de outubro de 2011

A COR PÚRPURA


Em 1982, a escritora americana Alice Walker lançou o romance autobiográfico, “A cor púrpura”, ganhador do prêmio Pulitzer. Romance esse lançado no Brasil em 1986, pela Editora Marco Zero depois do sucesso do filme homônimo de Steven Spielberg de 1985. A capa do livro inclusive traz um esboço de Whoopi Goldberg (protagonista do filme) sentada em uma cadeira de balanço enquanto lê uma carta.

Steven Spielberg nunca tinha sido levado muito a sério até então, pois a crítica o achava meio infantilóide e capaz de dirigir filmes apenas escapistas, como “Tubarão” (1975), “Os caçadores da arca perdida” (1981) e ET – O extraterrestre (1982), filmes esses de grande sucesso e queridos pelo público, mas faltava algo em sua carreira: o respeito da crítica. Então em 1985, ele produziu e dirigiu a adaptação cinematográfica do romance de Alice Walker. “A cor púrpura” (The color purple) é considerado seu primeiro filme adulto. Recebeu 11 indicações para o Oscar, mas estranhamente não levou nenhuma estatueta, nem para a bela interpretação de Whoopi Goldberg em sua estréia no cinema, em papel dramático, que é raro em sua carreira, que se notabilizou por papéis cômicos como a falsa freira de “Mudança de Hábito”, a babá de “Corina – Uma babá perfeita” e a médium picareta de “Ghost – Do outro lado da vida”, que finalmente lhe deu o Oscar, dessa vez como melhor atriz coadjuvante.


A cor púrpura conta a história de Cellie, uma mulher negra que escreve cartas para Deus contando sua vida: como foi estuprada pelo suposto pai e teve dois filhos dele; o sofrimento por viver três décadas afastada de sua irmã Nettie e de seus filhos; o casamento forçado com Albert, um homem violento; a submissão frente aos preconceitos da sociedade e o amor incondicional que sente pela cantora Docí Avery (que no filme virou Shug Avery).

O livro é narrado em primeira pessoa por Cellie, que quase não estudou e os termos e palavras usados por ela, são a transcrição de seu jeito humilde e interiorano de falar. Ela possui uma grande fé e escreve cartas para Deus. Quase todos os capítulos se iniciam com “Querido Deus”, com exceção daqueles em que Celli descobre as cartas de sua irmã que foram escondidas por seu marido, então cada capítulo passa a ser cada uma das cartas entre as duas irmãs.

A fé é um ponto marcante em “A cor púrpura”. Cellie precisa de Deus para superar suas tristezas e frustrações. O título do livro é explicado durante uma conversa entre Cellie e Docí Avery, que discutem a existência de Deus e sua forma. Docí retruca:


“Eu acho que Deus deve ficar fora de si se você passa pela cor púrpura num campo qualquer e nem repara.” (p. 217) e depois Cellie:

“Eu vivi tão ocupada pensando Nele queu na verdade nunca reparei nada do que Deus faz. Nem na espiga de milho (como será que Ele faz isso?) nem na cor púrpura (de onde será que ela vem?) nem nas florzinha silvestre. Nada. (p. 218)

No filme isso foi mantido ao menos na primeira parte, onde a voz em off de Cellie narra suas desventuras, com um texto bastante idêntico ao do livro.

Os personagens são dinâmicos, em especial, a protagonista, que no início é condescendente ao marido, faz tudo o que ele quer e até apanha calada, mas consegue se libertar com o tempo, falando o que pensa e até saindo de casa.

Apesar da metragem de 156 minutos, várias coisas foram reduzidas no processo de elisão da adaptação cinematográfica. A primeira metade transcorre com mais detalhes, já a segunda é mais apressada, desde quando Cellie descobre as cartas de sua irmã até a volta desta para casa. Como a história percorre mais de 30 anos na vida das personagens, é compreensível essas omissões. Mas mesmo assim, há o acréscimo do personagem do pai de Albert que não aparecia no livro.

Continua...





4 comentários:

  1. Opa, post indicado ao links da semana.
    http://blogsdecinemaclassico.blogspot.com/2011/10/links-da-semana-3-9-de-outubro.html

    Amanhã tem blogagem coletiva sobre a Julie Andrews. Caso tenha um texto, gentileza me passar o link!
    beijos!

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  2. Concordo que Spielberg não é o maior diretor do mundo e que fazia bons filmes, mas apenas para adolescentes. No entanto, deve-se observar que, mesmo antes do excelente A Cor Purpura, ele fez o magnifico Contatos Imediatos do 3o. Grau em 1977, que não é um filme infantil e sim um filme muito adulto e muito cultuado por toda a critica mundial.
    Mas este post é muito bem enquadrado e bem feito.
    jurandir_lima@bol.com.br

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  3. Obrigado, Jurandir. Também concordo que Spielberg não é o maior diretor do mundo. Aguarde, logo logo publicarei a segunda parte de A cor púrpura...

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  4. É um de meus favoritos do Spielberg, sempre gostei dos filmes mais sérios dele... E este é perfeito, em cada atuação e em cada diálogo, a cena que se passa em uma mesa de jantar me dá arrepios até hoje... perfeito!

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