Alba Valéria e os sete anões em Histórias que nossas babás não contavam |
Quando a pornochanchada surgiu, a censura federal já
estava a todo vapor, pois havia se intensificado a partir de março de 1964, com
o golpe militar. Os militares inicialmente não escondiam sua desconfiança com
os filmes engajados dos cinemanovistas e foram eles que mais sofreram com os
cortes feitos em seus filmes e com a demora de sua liberação para exibição
comercial.
A situação piorou a partir de 13 de dezembro de 1968,
quando foi editado o AI-5, que suspendeu as garantias individuais e colocou sob
suspeita toda a produção cultural e artística não afinada com os preceitos da
Lei de Segurança Nacional. Além dos cortes que tornavam o filme
incompreensível, algumas produções eram proibidas, como Lúcio Flávio – O Passageiro da Agonia, Iracema – Uma Transa Amazônica e Os Homens que Eu Tive, ou simplesmente retiradas de cartaz, mesmo
depois de terem sido liberadas.
A censura tentava acabar com a liberalidade (e porque
não libertinagem) que movia o cinema daquela época e era amparada pelos
moralistas (falsos ou não) e pela Igreja Católica. Alguns padres assistiam
antes aos filmes e determinavam o que seria um atentado à moral e aos bons
costumes da família brasileira, mas quem determinava os cortes e a proibição
dos filmes, eram os censores, um grupo de pessoas escolhidas pelos militares.
Alguns autores consideram a pornochanchada e a
censura como sendo irmãs com comportamentos opostos, enquanto uma era libertina
e libidinosa, a outra era puritana e conservadora, sendo filhas da ditadura
militar. A censura impunha cortes e proibições que tornavam os filmes
mal-acabados e grosseiros.
Os censores determinavam como deveria ser o
enquadramento do corpo feminino, quais partes poderiam ser mostradas, mudavam
os títulos dos filmes, mandavam que se refilmasse os finais.
Às vezes a censura permitia que determinada cena
continuasse, mas sem o áudio. A banda de som da película era então raspada no
negativo para eliminar as falas, então se ouvia apenas o ronco, o que dava asas
à imaginação do público, sobre o que teria sido dito naquele momento.
De uma forma ou de outra, a censura contribuiu para o
aumento da criatividade nas pornochanchadas, pois os diretores tinham que ser
muito criativos para contornar os cortes. A proibição do filme fazia com que o
público ficasse ainda, mais interessado em assistí-lo, o que aumentava o seu
sucesso. Mesmo assim, eles implicavam mais com os filmes politizados, pois os
eróticos distraiam o público da real situação pela qual o país estava passando,
tratava-se, portanto de uma alienação vantajosa.
No último governo militar (João Figueiredo: 1979 –
1985), a paranoia diminuiu e os censores não detinham mais tanto poder de veto,
mas a censura só foi extinta em 1988, já no governo de José Sarney, quando os filmes
passaram então a ser classificados por faixa etária.
Eu era criança e tinha essa paixão que eu tenho hoje pelo cinema. Se vivesse naquele tempo, onde os filmes eram proibidos, cortados, ou algo do gênero, viveria realmente num pesadelo sem fim.
ResponderExcluirSegundo me consta, a censura foi abolida em 1988 junto com a nova constituição e não em 1985.
ResponderExcluirNesse periodo ela ainda existia, mas sem poder nenhum e raramente eles davam pitaco.
Inckusive nesse período, eles começaram a pegar mais leve com os filmes para o cinema e mais pesado com os filmes que seriam exibidos na televisão.