terça-feira, 23 de maio de 2017

A PORNOCHANCHADA E A CENSURA FEDERAL

Alba Valéria e os sete anões em Histórias que nossas babás não contavam

Quando a pornochanchada surgiu, a censura federal já estava a todo vapor, pois havia se intensificado a partir de março de 1964, com o golpe militar. Os militares inicialmente não escondiam sua desconfiança com os filmes engajados dos cinemanovistas e foram eles que mais sofreram com os cortes feitos em seus filmes e com a demora de sua liberação para exibição comercial.

A situação piorou a partir de 13 de dezembro de 1968, quando foi editado o AI-5, que suspendeu as garantias individuais e colocou sob suspeita toda a produção cultural e artística não afinada com os preceitos da Lei de Segurança Nacional. Além dos cortes que tornavam o filme incompreensível, algumas produções eram proibidas, como Lúcio Flávio – O Passageiro da Agonia, Iracema – Uma Transa Amazônica e Os Homens que Eu Tive, ou simplesmente retiradas de cartaz, mesmo depois de terem sido liberadas.

A censura tentava acabar com a liberalidade (e porque não libertinagem) que movia o cinema daquela época e era amparada pelos moralistas (falsos ou não) e pela Igreja Católica. Alguns padres assistiam antes aos filmes e determinavam o que seria um atentado à moral e aos bons costumes da família brasileira, mas quem determinava os cortes e a proibição dos filmes, eram os censores, um grupo de pessoas escolhidas pelos militares.

Alguns autores consideram a pornochanchada e a censura como sendo irmãs com comportamentos opostos, enquanto uma era libertina e libidinosa, a outra era puritana e conservadora, sendo filhas da ditadura militar. A censura impunha cortes e proibições que tornavam os filmes mal-acabados e grosseiros.

Os censores determinavam como deveria ser o enquadramento do corpo feminino, quais partes poderiam ser mostradas, mudavam os títulos dos filmes, mandavam que se refilmasse os finais.

Às vezes a censura permitia que determinada cena continuasse, mas sem o áudio. A banda de som da película era então raspada no negativo para eliminar as falas, então se ouvia apenas o ronco, o que dava asas à imaginação do público, sobre o que teria sido dito naquele momento.

De uma forma ou de outra, a censura contribuiu para o aumento da criatividade nas pornochanchadas, pois os diretores tinham que ser muito criativos para contornar os cortes. A proibição do filme fazia com que o público ficasse ainda, mais interessado em assistí-lo, o que aumentava o seu sucesso. Mesmo assim, eles implicavam mais com os filmes politizados, pois os eróticos distraiam o público da real situação pela qual o país estava passando, tratava-se, portanto de uma alienação vantajosa.

No último governo militar (João Figueiredo: 1979 – 1985), a paranoia diminuiu e os censores não detinham mais tanto poder de veto, mas a censura só foi extinta em 1988, já no governo de José Sarney, quando os filmes passaram então a ser classificados por faixa etária.


2 comentários:

  1. Eu era criança e tinha essa paixão que eu tenho hoje pelo cinema. Se vivesse naquele tempo, onde os filmes eram proibidos, cortados, ou algo do gênero, viveria realmente num pesadelo sem fim.

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  2. Segundo me consta, a censura foi abolida em 1988 junto com a nova constituição e não em 1985.
    Nesse periodo ela ainda existia, mas sem poder nenhum e raramente eles davam pitaco.
    Inckusive nesse período, eles começaram a pegar mais leve com os filmes para o cinema e mais pesado com os filmes que seriam exibidos na televisão.

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