sábado, 31 de outubro de 2009

O DIA DO GATO (Brasil, 1988) **

Direção: David Cardoso. Com: David Cardoso, Helô Pinheiro, Edgard Franco, Mariza Sommer, Thalyta Cardoso, Américo Taricano, Bentinho, Ruthinéia de Morais, Débora Muniz e Waldirene Manna. 73 min. Policial.

Último filme como astro do rei da Pornochanchada, David Cardoso, supostamente o único homem que conseguia levar público aos cinemas, apenas pelo seu nome, já que o chamariz eram as atrizes bonitas (talentosas ou não). Ele nasceu no Mato Grosso do Sul em 1942 e em 1963 mudou-se para São Paulo e começou a trabalhar no cinema como continuista e diretor de produção de um filme de Mazzaropi, "O lamparina", onde também faz uma ponta. Em seguida, fez pequenos papéis em dois filmes de Walter Hugo Khouri, outro do Mazzaropi e um de Roberto Carlos, até 1971 quando protagoniza o musical "A moreninha" ao lado de Sonia Braga e no ano seguinte: "Sinal vermelho: As fêmeas" com Vera Fischer, momento em que sua carreira deslancha e fica marcada por papéis sensuais por toda a década de 70 e 80. NO total participou de 43 filmes como ator, 18 como diretor e 24 como produtor, através de sua produtora Dacar Produções Cinematográficas. Nos tempos difíceis, chegou a produzir e dirigir 04 filmes de sexo explícito com o pseudônimo de Roberto Fedegoso.

O DVD de "O dia do gato" faz parte da coleção anos 80 e traz uma capinha mentirosa, dizendo que este filme foi um fenômeno de bilheteria que transformou David Cardoso no maior astro brasileiro dos filmes de ação dos anos 80. Ele pode até ter sido um astro, mas não por causa desse filme com suspense e ação frouxos e que não fez muito sucesso de bilheteria. O único extra são algumas fotos de cena, mas a capinha informa que há também trailers de outros filmes. A imagem tem riscos o tempo todo, além de borrões e necessita de restauração. Não me importo muito com iso, já que é sinal que o filme é raro ou está mal conservado e é bom que se veja logo antes de se perder totalmente, mas este está salvo já que foi lançado em DVD.

Conta a história de Gato (David Cardoso), um ladrão que invade uma casa juntamente com seus comparsas para roubar uma Mercedes e mantêm como reféns todos os integrantes da família, o marido (Edgar Franco) que tem um hospital que faz abortos, a mulher insatisfeita (a eterna garota de Ipanema Helô Pinheiro), a filha que fez um aborto clandestino (Waldirene Manna), a cunhada que tem um caso com o ladrão (Mariza Sommer), a filha que se acha esperta e simpatiza com o bandido (Thalyta Cardoso, filha de David) e as empregadas que só querem garantir o seu dinheiro.

O filme é bastante curto (73 minutos), mas mesmo assim ainda resulta arrastado. Os ladrões roubam o carro mas mesmo assim continuam na casa sem nenhum motivo aparente. Além disso, não tem quase nada de erótico, só uma cena de nudez de David Cardoso (que dava sempre um jeito de mostrar a bunda ou seu sexo nos filmes) e uma cena de sexo (simulado) entre ele e Mariza Sommer que é uma atriz feia, aliás como quase todo o elenco.

A atriz pornô Débora Muniz (A dama de Paus) faz um papel sério, como uma das empregadas, já a desconhecida Waldirene Manna teve uma morte misteriosa durante as filmagens.

Veja se tiver curiosidade em conhecer o último filme de David Cardoso ou se tiver tempo e paciência.



sexta-feira, 30 de outubro de 2009

CABRA MARCADO PARA MORRER (Brasil, 1964/1984) ***






Direção:Eduardo Coutinho. Com: Elizabeth Teixeira. Documentário. 119 min.

Em 1964, o movimento latifundiário estava dando os primeiros passos no Brasil, quando o diretor Eduardo Coutinho (Jogo de cena) decidiu contar a história de Elizabeth Teixeira, viúva do camponês João Pedro Teixeira que foi assassinado por dois policiais da ordem dos latifundiários do nordeste em 1962.

Os personagens seriam interpretados pelos próprios camponeses, incluindo Elizabeth, seus 11 filhos e João Mariano que interpretava João Pedro. Em 31 de março de 1964, depois de 35 dias de filmagem em Sapé (PB), local em que os fatos ocorreram, a produção teve que ser interrompida, com apenas 40% do roteiro filmado devido ao golpe mlitar de 64. Parte do material foi recolhido, só sobrando oito fotografias de cena e o que já tinha sido enviado para revelação.

Dezessete anos depois, em 1981, com a abertura política, Coutinho resolveu retomar as filmagens e sair em busca de Elizabeth e de seus filhos numva verdadeira odisseia.

Elizabeth fugiu da Paraíba para São Rafael no Rio Grande do Norte, com medo de ser também assassinada, passou a ser conhecida como Marta e deixou seus filhos com seu pai e seus irmãos, alguns bem pequenos. É lá que Coutinho reencontra Elizabeth e exibe as cenas filmadas em 64 para o povo que assiste emocionado e relembra aquele tempo de sofrimento.

Manchetes de jornal da época são intercaladas com os depoimentos de Elizabeth sobre sua família e o assassinato do marido. Um a um os personagens vão aparecendo e revelando o que fizeram nos quase vinte anos que separam o início da produção com 1981.

Elizabeth é humilde e comunicativa e é fácil se solidarizar com sua luta e seu sofrimento, a dor da perda do marido e a separação dos filhos. A quem não conhece a história, o título "Cabra marcado para morrer" passa a impressão de ser um simples filme de cangaceiros, como tantos que foram feitos nos anos 50 e 60, mas é um filme que se assiste com grande interesse e revolta por essa fase nebulosa pela qual passou o Brasil, chamada ditadura militar. É a História do Brasil na veia, mesmo que em alguns momentos não seja tão agradável acompanhar ou relembrar.

Se tivesse sido concluído em 1964 como ficção, como era o plano de Coutinho, talvez não tivesse sido um registro cinematográfico tgão importante quanto se vê neste documentário de quase duas horas de duração, mas que em nenhum momento é chato ou cansativo. Imprescindível
!

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

BETHÂNIA BEM DE PERTO - À propósito de um show (Brasil, 1966) **


Direção: Júlio Bressane e Eduardo Escorel. Com: Maria Bethânia, Suzana de Morais e Caetano Veloso. Documentário. 34 min.

Maria Bethânia saiu de Berré de Santo Amaro da Purificação, Bahia, em 1965, para fazer sucesso no Brasil e no mundo com sua voz rouca e grave, sussurrando versos de amor e embalando o romance de muita gente, por isso é considerada a padroeira dos apaixonados.

Esse média-metragem de 1966, dirigido por Júlio Bressane (A família do barulho) e Eduardo Escorel (Lição de amor) acompanha Bethânia, juntamente com amigos e o irmão Caetano Veloso durante os intervalos e a preparação para a turnê de seu primeiro show, "Carcará", do qual ela reclama que está cansada de cantar a música título, que é a mais pedida pelo público.

Bethânia negocia, mesmo sem saber inglês, uma turnê em Londres (Suzana de Morais é sua intérprete) e com a maior naturalidade, abre o coração e faz comentários que talvez depois tenha se arrependido, como quando perguntam sobre Roberto Carlos e ela responde que não conhece, nunca viu nem pela televisão e depois confessa que quer que ele vá pro inferno e acha a música dele uma pobreza total. Comentário estranho já que depois (em 1993) ela gravaria um CD só com músicas dele, "As canções que você fez pra mim", um de seus melhores discos, aliás. Mas as coisas mudam, ou quem sabe as músicas do início da carreira dele, não eram mesmo boas.

Este filme teve a imagem telecinada do interpositivo 16 mm e o som restaurado do negativo ótico 35 mm em agosto de 2006 pela Cinemateca Brasileiro, mas apesar disso, a imagem não é tão boa assim, já o documentário é razoável, mas Bethânia é maraviilhosa.

Já tinha assistido no Canal Brasil outro documentário sobre ela: "Música é perfume", este bem mais recente e também muito interessante devido às décadas de sucesso e histórias para contar, ao contrário deste em que tudo era novidade e esperanças. Ela também foi retratada em "Pedrinha de Aruanda", mas deste não posso falar, pois ainda não assisti.

Adoro as músicas de Bethania e tenho dúvida de qual gosto mais: Não dá mais pra segurar (Explode coração) e Grito de alerta (de Gonzaguinha), Terezinha, Maninha e Olhos nos olhos (de Chico Buarque), Brincar de viver (de Guilherme Arantes e Jon Lucien), Negue (de Adelino Moreira e Enzo de Almeida Passos) Ronda (de Paulo Vanzolini), Sonho meu (de Yvonne Lara e Délcio Carvalho) Esse cara, Tá combinado e Mel (de Caetano Veloso), Sonho impossível e tatuagem (de Chico Buarque e Ruy Guerra), Eu não existo sem você (de Tom Jobim e Vinícius de Morais), Atiraste uma pedra (de Herivelto Martins e David Nasser), Loucura (de Lupicínio Rodrigues), É o amor (de Zezé di Camargo), ou as músicas de Roberto e Erasmo Carlos: Fera ferida, As canções que você fez pra mim, Eu preciso de você, Detalhes e Você.


VOCÊ
Roberto e Erasmo Carlos

Você que tanto tempo faz
Você que eu não conheço mais
Você, que um dia eu amei demais
Você, que ontem me sufocou
De amor e de felicidade
Hoje me sufoca de saudade
Você, que já não diz pra mim
As coisas que eu preciso ouvir
Você, que até hoje eu não esqueci
Você que, eu tento me enganar
Dizendo que tudo passou
Na realidade, aqui em mim
Você ficou
Você que eu não encontro mais
Os beijos que já não lhe dou
Fui tanto pra você
E hoje eu nada sou.

Download de Bethânia bem de perto

terça-feira, 27 de outubro de 2009

EL JUSTICERO (Brasil, 1967) ***


Direção: Nelson Pereira dos Santos. Com: Arduino Colassanti, Emanuel Cavalcanti, Adriana Prieto, Rozita Thomas Lopes, José Wilker, Márcia Rodrigues, Thelma Reston, Zózimo Bulbul, Hugo Bidet. 80 min.

A estreia no cinema da diva Adriana Prieto. Nascida na Argentina em 1950, com quatro anos mudou-se para o Brasil, onde começou a carreira artística no teatro com a peça "Os espectros" de Ibsen e depois no cinema com este filme singelo e encantador. Participou em seguida de outros 17 filmes até 1975 quando morreu prematuramente em um fatídico acidente de carro com apenas 25 anos. Seus filmes passaram a ser cultuados:

1967 - A lei do cão* / As sete faces de um cafajeste*
1968 - Balada da página três*
1969 - Os paqueras / Memória de Helena / A penúltima donzela / As duas faces da moeda
1970 - Palácio dos anjos* / As gatinhas*
1971 - Um anjo mau / Lúcia McCartney - Uma garota de programa / Soninha toda pura / Uma mulher para sábado*
1972 - A viúva virgem / Ipanema toda nua*
1974 - Ainda agarro esta vizinha
1975 - O casamento

Sou fã incondicional de Adriana Prieto e quero ver os sete filmes dela que ainda faltam (marcados com *). Adoro seu jeito ingênuo e ao mesmo tempo intempestivo. Em "El justicero" ela vive a mocinha Ana Maria que consegue fazer com que o herói Jorge, El Justicero se apaixone por ela. Ele ganhou essa alcunha por defender os outros (se isso fosse do seu interesse), como libertar um amigo preso e salvar uma moça de ser currada. Jorge vive de conquistas e ameaças de suicídio caso a mulher não transe com ele, até que conhece a personagem de Adriana, que jura ser virgem e causa o maior estardalhaço quando ele descobre que isso não é verdade.

Nelson Pereira dos Santos foi um dos precursores do Cinema Novo com "Rio 40 graus" e chegou a dirigir alguns filmes bem chatos e incompreensíveis como "Fome de amor" também protagonizado por Arduíno Colassanti, mas com "El Justicero" ele fez um filme acessível a todos, uma comédia de costumes dos anos 60, talvez até bobinha como diz um dos personagens, indagando quem se interessaria se o herói vai ou não ficar com a mocinha perto de tanta guerra e barbárie que existe no mundo. Mas o pior é que interessa sim. O filme é quase uma pornochanchada e ficou vários meses proibido pela censura , devido aos temas abordados: sexo livre, curras, a virgindade da mulher que não tem mais importância. O engraçado é que hoje tudo isso ficou ingênuo, mas é interessante acompanhar quando esses assuntos começaram a ser tratados mais abertamente e homens e mulheres passaram a ter direitos iguais (mesmo que isso não seja totalmente cumprido na prática) e quando a liberdade sexual surgia para as mulheres também.

Baseado no livro "As vidas de El Justicero" de João Bithencourt, é um título pouco atraente, dando a impressão de um filme espanhol de aventura. É um dos filmes menos conhecidos de Nelson, já que não foi lançado em vídeo ou DVD e nem passa na televisão.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

MARÉ - NOSSA HISTÓRIA DE AMOR (Brasil, 2007) **

Direção: Lúcia Murat. Com: Marisa Orth, Cristina Lago, Vinícius D'Black, Elisa Lucinda, Babu Santana, Flávio Bauraqui e Malu Galli. 104 min.

De todos os longas de Lúcia Murat (Que bom te ver viva - 89; Doces poderes - 96; Brava gente brasileira - 2000; Quase dois irmãos - 2004; Olhar estrangeiro - 2005) esse era o único que eu ainda não tinha assistido. E comecei a fazê-lo com certo entusiasmo, já que não é muito comum vermos um musical brasileiro.


"Maré" é a história de dois jovens que se conhecem em um baile funk, mas pertencem a duas facções diferentes de uma favela do Rio de Janeiro e enfrentam os problemas decorrentes disso, ou seja, é a história de Romeu e Julieta transposta para os dias atuais e a realidade brasileira, lembrando mais especificamente o filme "Amor sublime amor" (West side story)que também era um musical e falava da briga entre gangues rivais nos Estados Unidos dos anos 60. Portanto, nada de original aqui.

Marisa Orth vive a dedicada professora de dança de vários jovens favelados que querem melhorar de vida e saírem da favela, inclusive os protagonistas Ana Lídia (Cristina Lago) e Jonathan (Vinícius D'Black). A narração é feita em forma de canções por um grupo de hip hop que aparece esporadicamente, já as outras canções apesar de tratarem do mesmo tema, parecem destoantes do restante da narrativa, como se fossem videoclipes ilustrativos editados à revelia. Outro problema que encontrei e que me impediu de me envolver e gostar mais (além da falta de novidades) foram os estilos musicais que dominam todo o filme: o hip hop e o funk, para quem não é apreciador desses estilos, o filme se torna cansativo e barulhento. De todas as canções, a única que gostei foi uma cantada por Marisa Orth que é uma adaptação das cantigas de roda "Ciranda, cirandinha" e "Marcha soldado". Se todas as outras seguissem o mesmo estilo, não só com cantigas de rodas, mas com músicas conhecidas, mesmo que adaptadas, o filme seria mais fácil e com certeza mais acessível a um número maior de pessoas.

Lúcia Murat assume os papeis de diretora, argumentista, roteirista e produtora. Haja fôlego! Mas tomara que tenha melhor sorte no próximo filme.

No ano passado, o diretor Breno Silveira (Dois filhos de Francisco) dirigiu outra versão de Romeu e Julieta: "Era uma vez", dessa vez em Ipanema. O filme fez mais sucesso que "Maré" e foi mais elogiado pela crítica, mas será que ainda há alguma coisa nova a ser dita ou contada sobre Romeu e Julieta? Deixem-os descansar em paz.

domingo, 25 de outubro de 2009

AFOGADO EM NÚMEROS


É engraçado, nunca fui muito fã de matemática nos tempos do Ensino Fundamental e Médio, mas desenvolvi um interesse estranho por números e recordes.

Como postei há alguns dias, anoto todos os filmes que assisto (independente do gênero ou da qualidade da produção). Completei ontem 3808 assistidos. E agora estou em uma maratona de filmes brasileiros. Não estou assistindo filmes de outras nacionalidades (reparem que as últimas postagens foram todas de filmes nacionais) a fim de quebrar meu próprio recorde anterior que foi de 33 filmes brazucas seguidos. Já consegui alcançar hoje esse número. Vamos ver até que número vou conseguir chegar dessa vez.





No ano de 2009 devo ver em torno de 420, o que ficaria na 3ª colocação no ranking. Juntamente com esse balanço, contabilizo a porcentagem de filmes brasileiros e estrangeiros assistidos.




E os filmes brasileiros hão de vencer no ano de 2009 também, pelo menos na minha lista, já que nas bilheterias não é sempre assim.

Em um único dia, consegui assistir a 5 filmes, mas esse recorde está complicado de bater, pois nas últimas vezes, o máximo que consegui foram 4. Uma outra coisa que tenho vontade de fazer, é assistir dois filmes ao mesmo tempo, mas eu não sei se isso é auspicioso.

O título dessa postagem lembra propositalmente o filme de Peter Greenaway "Afogando em números", mas talvez o mais adequado fosse "De médico e louco todo mundo tem um pouco".

sábado, 24 de outubro de 2009

MUTUM (Brasil, 2006) ***

Direção: Sandra Kogut. Com: Thiago da Silva Mariz, Wallison Felipe Leal Barroso e João Miguel. 95 min.


Baseado no romance "Campo geral" de João Guimarães Rosa, a diretora Sandra Kogut adapta brilhantemente o universo do escritor no sertão nordestino, nessa co-produção com a França, contando a história do sensível menino Thiago de 10 anos, o mais velho de 4 irmãos que sofre pelo fato de ser diferente de todos os outros e daquele lugar em que vive. É emocionante sua relação com o irmão Felipe, as descobertas e alegrias da infância, a dor da perda e muito complicada a relação com o pai (João Miguel de "Estômago" e o único ator famoso do elenco), insensível e imaturo para entender ou se comunicar com o filho. Quando Thiago se oferece para ajudar o pai na roça, ele não demonstra nenhuma atitude e depois quando o pai obriga Thiago a ajudar, ele já parece ter desistido de tentar uma aproximação. Os dois estão próximos, mas ao mesmo tempo longes, como se falassem línguas diferentes. Thiago demonstra afeto pelo tio que tem um caso com sua mãe e isso talvez afaste ainda mais pai e filho. Tudo fica mais complicado quando o pai descobre esse caso extraconjugal de sua esposa e por isso ele se fecha ainda mais.

Há várias cenas emocionantes, como o desaparecimento da cachorrinha Rebeca, que lembra a morte da cachorra Baleia em "Vidas secas"; o desespero de Thiago quando Felipe fica doente; o arrependimento de Felipe por sentir inveja do papagaio ter aprendido o nome irmão e não o seu; a alegria de Thiago ao enxergar bem depois de colocar óculos, além de várias outras cenas que vão cativando o espectador aos poucos, calmo e silencioso como o próprio sertão.

Duas cenas muito importantes não são mostradas, só contadas, uma morte (melhor não revelar de quem) e uma briga que causa o desaparecimento de outro personagem, talvez
por questão de economia ou pelo fato de que nem tudo precisa ser explícito. Fátima Toledo fez um excelente trabalho no treinamento dos atores não profissionais, em especial os meninos Thiago e Felipe (também são estes os nomes dos atores) que estão naturais e convincentes.

Mutum é o nome do lugarejo em que os personagens vivem e também o nome de uma ave negra. Não perca este filme por nada!




sexta-feira, 23 de outubro de 2009

A MULHER INVISÍVEL (Brasil, 2009) ***







Direção: Cláudio Torres. Com: Selton Mello, Luana Piovani, Vladimir Brichta, Maria Manoella, Fernanda Torres, Maria Luisa Mendonça, Paulo Betti, Lúcio Mauro. 105 min.








A segunda maior bilheteria do cinema nacional no ano de 2009 – com mais de 2,3 milhões de espectadores – depois de 14 semanas em cartaz nos cinemas, chega ao formato digital.

Conta as desventuras de Pedro (Selton Mello) que acreditava piamente no casamento, mas foi abandonado por sua esposa (Maria Luisa Mendonça) que o trocou por um alemão. Após três meses trancado no apartamento, ele recebe a visita de uma vizinha, Amanda (Luana Piovani), que lhe pede uma xíca
ra de açúcar emprestada (a velha desculpa). Ela é uma mulher perfeita: bonita, carinhosa, gosta de tudo que Pedro gosta e ainda o ama. Só tem um defeito: ela não existe.

Vitória (Maria Manoella), sua vizinha de verdade, é apaixonada por ele, mas não é notada, nem com a ajuda da irmã (Fe
rnanda Torres, que estava grávida na época). Carlos (Vladimir Brichta) tenta avisa-lo da real situação, mas ele pensa ser uma questão de inveja ou de ciúmes, mas essa é só a primeira parte dessa comédia que fala sobre solidão: um homem solitário que cria a mulher ideal, achando que ela o faria sentir-se melhor e uma vizinha apaixonada e também solitária que não tem coragem de se declarar. Claro que nada aqui é tão profundo, já que se trata de uma comédia da Globo Filmes.
Luana Piovani aparece o tempo todo em trajes sumários e em uma cena chega a deixar à mostra parte dos seios. Ela é o sonho (ou o ideal, como o próprio filme sugere) da maioria dos brasileiros. Além de bonita, é talentosa.

Selton Mello é um dos atores mais freqüentes do cinema brasileiro e com certeza dos mais queridos, tendo feito nos últimos anos vários filmes: “Meu nome não é Johnny”, “O cheiro do ralo”, “Jean Charles”, “Os desafinados” e estreou como diretor no pesado “Feliz Natal”. Já o diretor Cláudio Torres (irmão de Fernanda Torres) dir
igiu antes a engraçada comédia “A mulher do meu amigo”, o drama “Redentor” e um episódio do longa “Traição”, mas nenhum deles alcançou tanto sucesso quanto “A mulher invisível”. Muitos já viram, então não seja diferente. Parece uma comédia despretensiosa, mas no final vai te deixar alguns questionamentos e isso é ótimo nesses tempos em que tudo é esquecido tão rápido.








quinta-feira, 22 de outubro de 2009

A VIA LÁCTEA (Brasil, 2007) ****

Direção: Lina Chamie. Com: Marco Ricca, Alice Braga, Fernando Alves Pinto, Mariana Lima. 89 min.

Depois de Tonica Dominante (2000), Lina Chamie retornou com esse filme de amor sensível e delicado, que conta a história de um casal que está se separando, ele (Marco Ricca) é escritor, ela (Alice Braga) é atriz de teatro. Os dois se conhecem e se apaixonam durante uma montagem da peça “As bacantes” de José Celso Martinez Correia, mas depois de um tempo, a convivência e as diferenças parecem falar mais alto. O fim do romance acontece por telefone, mas como ele não se conforma, enfrenta um engarrafamento para ir até a casa dela tentar a reconciliação. Durante essa viagem, que dura o filme todo, são recitados poemas de Carlos Drummond de Andrade e Mário Chamie, pai da diretora, ao som de música clássica e a música “Estrela” de Gilberto Gil.



O maior arrependimento dele foi ter falado palavras que não devia, como demonstrar ciúmes por um colega dela, Thiago (Fernando Alves Pinto, que protagonizou Tônica dominante). O filme faz muitas viagens no tempo enquanto ele está no trânsito, são intercaladas cenas de quando os dois se conheceram, a briga, as lembranças da mãe (Mariana Lima) e um acidente de trânsito que só será desvendado ao final.

“A via láctea” é um filme diferente do que estamos acostumados a ver, mas contado de uma forma tão bonita e especial, que não há como não se emocionar e se envolver com a história desse casal que ainda se ama, mas enfrenta empecilhos em sua relação. O elenco é bastante reduzido, além de Marco Ricca e Alice Braga, Fernando Alves Pinto aparece como o pivô da briga e Mariana Lima em uma única cena. Apesar do elenco pequeno e de algumas cenas contemplativas, em nenhum momento o filme é chato ou cansativo. Com certeza, um dos mais belos filmes de amor que assisti nos últimos tempos.


Download de A Via Láctea



quarta-feira, 21 de outubro de 2009

PENSIONATO DE MULHERES (Brasil, 1974) ***






Direção: Clery Cunha. Com: Magrit Siebert, Silvana Lopes, Liana Duval, Helena Ramos, Lisa Vieira, Ruthineia de Morais, Cinira Camargo, Waldir Siebert, Bentinho e Clery Cunha. 85 min.









O Canal Brasil exibiu há pouco tempo esse drama sério disfarçado de pornochanchada, dirigido por Clery Cunha (Eu faço, elas sentem) com Helena Ramos no elenco, em seu segundo filme, mas não como protagonista, que aqui é Magrit Siebert (As mulheres amam por conveniência).

Na pensão só para mulheres à qual o titulo se refere, vivem várias garotas incluindo Clara (Magrit Siebert) que engravida e precisa abortar devido aos pais conservadores; Helena Ramos que foi estuprada e não consegue consumar o namoro; Ruthineia de Morais que precisa se prostituir e Lisa Vieira, uma garota que chega do interior de Minas Gerais com a esperança de conseguir vencer na cidade grande. Todas moram na pensão de Silvana Lopes que é muito rígida com as garotas e recebe a ajuda da governanta vivida por Liana Duval.

É um drama sobre a vida dessas personagens que parecem cheias de vida, mas ao mesmo tempo tão complicadas e problemáticas. São todas jovens mas mesmo assim tão desesperançadas. Clara é cortejada por um homem trabalhador, mas precisa rejeitar o seu pedido de casamento devido ao filho que espera; a dona da pensão tenta vencer a solidão contratando um garoto de programa, mas nem pagando ela consegue a sua atenção; entre outros dramas, alguns até meio manjados, mas mesmo assim ainda conseguem comover. O tom de comédia é dado pelo próprio diretor Clery Cunha que também é ator e aqui vive um ladrão muito atrapalhado que invade a pensão, sendo o alívio cômico do filme.

Helena Ramos está loira e novamente dublada, mas não parece apagada como em “Mulher, mulher”. As outras atrizes também são bonitas e fotografam bem, mas os atores são todos feios e parece difícil acreditar que elas pudessem se interessar por eles. Há pouca nudez e quase nenhum sexo. As pornochanchadas do início da década de 70 eram bem recatadas, mas o que falta nesse quesito, sobra em dramas pessoais e é muito fácil simpatizar com qualquer uma das personagens. Confira!

terça-feira, 20 de outubro de 2009

O CORTIÇO (Brasil, 1977) ***





Direção: Francisco Ramalho Jr. Com: Betty Faria, Mário Gomes, Armando Bógus, Beatriz Segall, Ítala Nandi, Maurício do Valle, Sílvia Salgado, Lucy Mafra, Ruy Polanah, Helber Rangel, Zaira Zambelli, Jorge Coutinho, Antonio Pompeu, Maria Alves e Luiz Carlos Lacerda. 110 min.






Baseado no romance homônimo de Aluísio Azevedo, essa é a segunda versão dessa história, sendo a primeira dirigida por Luís (Lulu) de Barros em 1946, a quem o filme é dedicado.

Francisco Ramalho Jr. (Paula – A história de uma subversiva) conta a vida de vários personagens que moram em um cortiço em 1880 sob os olhares atentos do “unha-de-fome” que engana a todos, João Romão (o saudoso Armando Bógus). Nesse cortiço moram a fogosa Rita Baiana (Betty Faria) que se envolve com um imigrante português (Mário Gomes, falando mal o sotaque de Portugal, aqui em seu segundo filme), um casal em crise financeira e conjugal (Ítala Nandi e Maurício do Valle), uma senhora (Beatriz Segall) que se desespera por sua filha Pombinha (Sílvia Salgado) não começar a menstruar logo para poder casa-la, mas quando isso acontece ela se envolve com sua madrinha (Lucy Mafra), Maria Alves quer engravidar de Helber Rangel para poder ganhar dinheiro sendo ama-de-leite, uma inocente escrava que trabalha para João Romão na esperança de um dia conseguir sua carta de auforria e vários outros personagens de maior ou menor importância.


Download do filme O cortiço



A ambientação de época é boa, os personagens estão bem caracterizados, bem como os atores e o filme respeita o espírito do livro no qual se inspirou, com algumas leves mudanças. Mas como são muitos personagens, a narrativa acaba ficando fragmentada e algumas histórias vão sendo esquecidas com o tempo e não são resolvidas satisfatoriamente, ao contrário do que acontece no livro de Aluísio Azevedo que li há alguns anos e gostei bastante. Apesar disso, o filme também é bom e vale por Betty Faria como o vulcão Rita Baiana que é a melhor coisa aqui.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

MULHER, MULHER (Brasil, 1979) **

Direção: Jean Garrett. Com: Helena Ramos, Carlos Casan, Petty Pesce, Denys Derkian, Liana Duval e Cavagnole Neto. 100 min.




O diretor Jean Garret sempre demonstrou bom gosto e talento em filmes como Possuídas pelo pecado (1976), “Excitação” (1977), até em seu primeiro pornô: “Gozo alucinante” (1984), que é uma ficção científica fotografada por Carlos Reichenbach, que também faz a fotografia deste.

Alice (Helena Ramos) é uma mulher viúva que não se sentia realizada com o marido psiquiatra e depois de sua morte resolve ir para uma casa de campo espairecer (esses lugares sempre parecem milagrosos), reencontra seu adorado cavalo Jumbo, pelo qual nutre uma paixão, enquanto sofre o assédio do advogado Luiz Carlos (Denys Derkyan de “O fuscão preto”), do qual ela se esquiva e de Marta (Petty Pesce) uma mulher liberada que passa uns dias numa barraca à beira da praia.

O filme começa de maneira muito interessante, mostrando os desejos não realizados dessa mulher que ouve as fitas das pacientes de seu marido e aos poucos vai enlouquecendo, ficando histérica e não consegue se realizar com ninguém. Apesar de talentoso, Jean Garrett era meio paranóico e isso transparece em quase todos os seus filmes. Este tem a narrativa truncada e às vezes confusa.

Helena Ramos não fotografa bem como loura, ficando apagada e sem vida e sua voz parece ter sido dublada por outra atriz, o que ela confirma ser normal naquela época quando os atores não tinham tempo. As cenas aqui são mais ousadas que nos outros filmes dela, inclusive com alguns closes indiscretos na hora do banho, já as cenas com o cavalo são até discretas. Eles passavam em seu corpo algum líquido adocicado e então o cavalo a lambia, enquanto ela fingia sentir prazer. Ainda bem que ela não fez outro filme do gênero. É quase impossível se identificar ou gostar de sua personagem devido a seu histerismo e paranóia. “Mulher, mulher” definitivamente não está entre seus melhores filmes.
Os primeiros animais a protagonizarem esses filmes, foram os cavalos, primeiro em cenas simuladas com Aryadne de Lima em “A menina e o cavalo” (1983), em seguida Sandra Morelli ficou marcada como a rainha dos filmes sobre cavalos: “Sexo a cavalo” (1986), “Loucas por cavalos” (1986). “A garota e o cavalo” (1986), “Tudo por um cavalo” (1988), “Um homem, uma mulher e um cavalo” (1988) e até pôneis: “Júlia e os pôneis” (1987), junto com Márcia Ferro, mas as cenas de Sandra eram até discretas e ela obrigava o marido (Ronaldo Amaral) a se portar como um eqüino. Márcia Ferro ainda protagonizou “Minha égua favorita (1985), “Duas mulheres e um pônei” (1986), “Viciadas em cavalos” (1987), “Mulheres e cavalos” (1987). Depois disso as coisas foram piorando, os filmes ficaram mais pesados e envolviam todo o zoológico: “Mulheres taradas por animais”; cachorros: “24 horas de sexo ardente” (1984), “Meu cachorro, meu amante” (1986), “Alucinações sexuais de um cachorro” (1986); cabras: “Minha cabrita, minha tara” (1986); touro: “ A Mulher do touro”; galinhas: “A galinha do rabo de ouro”; macacos: “Alucinações sexuais de um macaco” (este com alguém fantasiado de macaco); jegue: “Emoções sexuais de um jegue” e até piranhas: “O beijo da mulher piranha”, também de Garrett com o pseudônimo de J. A. Nunes.

Download de Mulher, Mulher pelo E-mule

domingo, 18 de outubro de 2009

O CÉU DE SUELY (Brasil, 2006) ***


Direção: Karim Ainouz. Elenco: Hermila Guedes, Gergiana Castro, João Miguel, Cláudio Jaborandy, Marcélia Cartaxo, Flávio Bauraqui. 88 min.

Após “Madame Satã”, o diretor Karim Ainouz dirigiu este filme bastante premiado e consagrado em festivais nacionais e internacionais, sobre uma mulher com um filho que depois de ser abandonada pelo namorado, volta para a casa da mãe e como está sem dinheiro, resolve rifar seu corpo. Os nomes dos personagens são os mesmos dos atores.

Me chamou a atenção a música “Tudo que eu tenho” de Diana (da época da Jovem Guarda) que é tocada nos créditos iniciais e finais. Vale
conferir, tanto o filme, quanto a música:


TUDO QUE EU TENHO

Que bom seria ter

seu amor outra vez
Você me fez sonhar

Trouxe a fé que eu perdi
E nem eu mesma sei porque
Eu só quero amar você
Tudo que eu tenho meu bem é você
Sem seu carinho eu não sei viver
Tudo que eu tenho meu bem é você
Volte logo meu amor
Eu tento esquecer
Que você ja foi meu

Nunca mais eu vou achar um outro amor
E nem vou procurar
Não quero amar a mais ninguém
Como você não ha ninguém
Tudo que eu tenho meu bem é você
Sem seu carinho eu não sei viver
Tudo que eu tenho meu bem é você
Volte logo meu amor
Se você não voltar
vou sozinha ficar
Solidão vai morar comigo
Vou viver infeliz

Pois o que sempre eu quis
Foi viver contente sempre ao lado seu
Tudo que eu tenho meu bem é você
Sem seu carinho eu não sei viver
Tudo que eu tenho meu bem é você
Volte logo meu amor
Volte logo meu amor

sábado, 17 de outubro de 2009

EU ME LEMBRO (Brasil, 2005) **



Direção: Edgar Navarro. Elenco: Lucas Valladares, Fernando Neves, Arly Arnaud, Valderez Freitas Teixeira e João Miguel. 110 min.

Edgar Navarro estreou em longas com este filme nostálgico e autobiográfico que teve influências de Amarcord de Federico Fellini. Tinha assistido antes o média metragem de Navarro, “Superoutro”, que gostei bastante e fiquei empolgado para ver também este que recebeu sete prêmios no Festival de Brasília, mas fiquei decepcionado, pois ele foi superestimado.

O elenco é formado por atores amadores ou desconhecidos, com exceção de João Miguel (O céu de Suely) que aparece como um maconheiro na parte final.

O sexo é novamente um dos pontos mais tocados (como em Superoutro) na trajetória desse homem que relembra sua infância com a família, a morte da mãe, a adolescência, a descoberta do amor e a fase a
dulta. Há duas cenas explícitas (talvez dispensáveis) envolvendo crianças descobrindo a masturbação e outras cenas de nudez e sexo com adultos, essas simuladas.



Lembrei-me de Menino de engenho
(o livro), sobre aquela criança descobrindo o sexo e o amor, mas Eu me lembro é muito episódico e depois de um tempo começa a cansar principalmente na parte final, quando Guiga envolve-se com a luta armada e depois com as drogas. Com 90 minutos já estava cansado e torcendo para acabar logo. Com certeza, o elenco de desconhecidos não ajuda muita na tolerância desse filme.


sexta-feira, 16 de outubro de 2009

MULHERES SEXO VERDADES MENTIRAS (Brasil, 2007) ***


Direção: Euclydes Marinho. Com: Julia Lemmertz, Fernando Alves Pinto, Mallu Galli, Priscila Rozembaum, Fernando Eiras. 80 min.
O noveleiro Euclydes Marinho (Desejos de mulher) estreou na direção com este docudrama que retrata várias mulheres falando sobre sexo: o que gostam, o que não gostam e sobre homens no geral.
Julia Lemmertz (Um copo de cólera) é uma documentarista que está fazendo um filme sobre sexo e colhe depoimentos das amigas (atrizes menos conhecidas, com exceção de Priscila Rozembaum) e das pessoas nas ruas (sendo essa a parte documental). Essas mulheres abrem seu coração e falam sem nenhum pudor sobre tudo o que sentem e da dificuldade de encontrar o homem perfeito.
Apesar de essas mulheres falarem o tempo todo sobre os homens, eles quase não aparecem. Julia Lemmertz arruma um namorado mas seu rosto não é mostrado de início, o que acontece só no final quando Fernando Eiras (Dias de Nietzsche em Turim) aparece. Me lembrei do desenho "Muppet Babies, onde os adultos apareciam sem se mostrar seus rostos, já que eles não eram importantes. Fernando Alves Pinto (Terra Estrangeira) é o cameraman que grava os depoimentos, mas ele é quase figurante, só com umas duas ou três falas, uma delas inclusive, quando se declara à Julia. Nas cenas finais há alguns depoimentos de homens, falando de amor e compromisso (o sonho das mulheres), mas nada muito profundo ou substancial.
Outra coisa que estranhei é que não há depoimentos de mulheres lésbicas, como se os seus desejos não fossem importantes. Mas esses são só detalhes nesse filme interessante e rápido que merece ser descoberto, tanto pelas mulheres, quanto pelos homens.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

PARAHYBA MULHER MACHO (Brasil, 1983) **


Direção: Tizuka Yamasaki. Com: Tânia Alves, Cláudio Marzo, Walmor Chagas, José Dumont, Osvaldo Loureiro, Grande Otelo e Chico Diaz. 83 min.

Um pouco de história do Brasil não faz mal a ninguém. Este segundo filme de Tizuka Yamasaki (Gaijin - Os caminhos da liberdade), baseado no livro Anayde Beiriz - Paixão e morte na revolução de 30 de José Joffily, que depois se tornou diretor (Quem Matou Pixote?), conta a história real de Anayde (Tânia Alves no auge de sua carreira), uma mulher liberada e à frente de seu tempo. Ela foi amante de João Dantas (Cláudio Marzo) aliado do Partido Republicano que combatia a Aliança liberal, representada por João Pessoa (Walmor Chagas). Quando a situação se torna insustentável, João Dantas assassina João Pessoa, o que desencadeou a revolução de 30.

Parahyba Mulher Macho é um misto de história do Brasil com muita sensualidade nas cenas protagonizadas por Tânia Alves e Cláudio Marzo. Ela aparece nua várias vezes e é um furacão prestes a acontecer.

A figura de Anayde é bem forte. Ela é professora de adultos no início, mas depois isso é esquecido. É também poetisa e fica declamando seus versos quando está nos braços de João Dantas; tem idéias revolucionárias sobre política, mas todas elas ficam abafadas devido ao amor que sente por ele. E como naquela época as mulheres não podiam nem votar, suas idéias ficam só nas intenções. O título do filme dá a ideia de uma mulher que faz acontecer suas vontades, mas na realidade não é bem assim. Talvez esse título seja relacionado à música "Paraíba" de Luiz Gonzaga (Paraíba masculina, mulher macho sim senhor) cantada por Tânia Alves que também é cantora. Apesar de forte, ela acaba ficando à sombra se seu amante. E dizem que na realidade, ela nem foi precursora do feminismo como se alardeava.

Com certeza é um filme interessante, mas poderia ter rendido muito mais.

Download de Parahyba mulher macho



quarta-feira, 14 de outubro de 2009

BODAS DE PAPEL (Brasil, 2008) ** ½



Direção: André Sturn. Com: Helena Ranaldi, Dario Grandenetti, Walmor Chagas, Cleyde Yáconis, Sérgio Mamberti, Antonio Petrin, Imara Reis e Angela Dip. 102 min.


No início do filme, Nina (Helena Ranaldi) fala sobre a serendipidade, situação em que coisas boas acontecem ao acaso sem você procurar. É o que acontece com ela, que vai para a cidade de Candeias reabrir um hotel e em certa noite, um arquiteto, Miguel (Dario Grandinetti de Fale com ela) à procura de estadia, bate à sua porta e o romance entre os dois começa. A serendipidade também foi tratada no filme americando "Escrito nas estrelas" com John Cusack e Kate Beckinsale.


O elenco de apoio é formado por grandes nomes da dramaturgia nacional, como Walmor Chagas (Luz del Fuego), Cleyde Yáconis (Veneno), Sérgio Mamberti (A menina do lado), Antonio Petrin (O beijo da mulher aranha) e Imara Reis (A flor do desejo) que dão uma grandeza ao filme.


A história é simples e vai transcorrendo de uma forma contemplativa e um pouco lenta, sem muitas novidades até um acontecimento que vai mudar tudo (melhor não revelar qual é). O título do filme é interessante, as bodas de papel são comemoradas quando se completa um ano de relacionamento, mas talvez entregue o segredo do filme, já que o espectador imagina que quando se completar essa data, algo vai acontecer.


Helena Ranaldi está bem como atriz e muito bonita. É uma das falas recorrentes de Miguel que pergunta a ela se ele já falou que ela é bonita e ela responde que hoje não. Dario Grandinetti fala bem o português com algum sotaque. No filme seu personagem é argentino.


Bodas de papel é um filme diferente que fala de coisas normais como o amor. No início você pode estranhar um pouco o ritmo e a falta de acontecimentos extraordinários, mas a vida é assim também e no final você vai acabar gostando.


 
 
 
 
 

terça-feira, 13 de outubro de 2009

TABU (Brasil, 1982) * ½



Comentei com uma amiga que não gosto muito dos filmes do Júlio Bressane. Ela concordou comigo e disse que o único que havia gostado foi este, Tabu. Então decidi assitir também e qual não foi minha surpresa quando descobri que não é muito diferente dos demais filmes dele.
Bressane tem um estilo muito pessoal e alternativo, não muito indicado ao grande público. Alguns de seus filmes nem fizeram carreira comercial. Estreou na direção em 1967 com "Cara a cara". Nenhum de seus filmes faz muito sentido, por isso para entender melhor é bom ler a sinopse em algum guia ou dicionário de cinema. Há sempre cenas de sexo e nudez, mesmo que elas não tenham muita coisa a ver com a história. Como aqui onde foram inseridas cenas de filmes pornográficos antigos que são a melhor coisa do filme. Em uma cena, Norma Bengell toca no membro de um ator, lembrando os filmes pornôs nacionais dos anos 80 (dos quais ela não participou) que estavam começando por aqui em 1982. Uma cena meio chocante, mesmo para quem protagonizou o primeiro nu frontal do cinema brasileiro.
A história (?) traz um encontro imaginário entre Lamartine Babo e Oswald de Andrade, com a presença de Isadora Duncan, Manuel Bandeira, Chico Alves e Mário Reis. Caetano Veloso canta marchinhas de carnaval o tempo todo, intercalando com a voz do verdadeiro Lamartine Babo que no início canta "Isto é lá com Santo Antonio", que também foi gravada pela diva Carmem Miranda.
Apesar de estar disposto a gostar, não achei muita graça. Já assisti a nove filmes do Bressane e não gostei especialmente de nenhum deles. Os que mais me chamaram a atenção, foram "O anjo nasceu" e "Filme de amor" (que também traz cenas de filmes pornográficos antigos). Alguns de seus filmes são quase insuportáveis, como "Brás Cubas" (1986) e "Dias de Nietzsche em Turim" (2002), mas ele continua dirigindo com o mesmo experimentalismo. Talvez seja mesmo um TABU gostar de Júlio Bressane.
Direção: Júlio Bressane. Com: Caetano Veloso, Colé Santana, José Lewgoy, Norma Bengell, Mário Gomes, Mariana de Morais e Suzana de Morais. 85 min.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

A MULHER DO MEU AMIGO (Brasil, 2008) ***


Direção: Cláudio Torres. Elenco: Marcos Palmeira, Maria Luisa Mendonça, Mariana Ximenes, Otávio Muller e Antonio Fagundes. 85 minutos.

Depois do inventivo “Redentor” (2004), o diretor Cláudio Torres dirigiu no ano passado essa comédia de costumes baseada na peça “Largando o escritório” de Domingos Oliveira.

São dois casais de amigos: Thales (Marcos Palmeira) e Renata (Mariana Ximenes) / Rui (Otávio Muller) e Pamela (Maria Luisa Mendonça). Thales é talentoso e pobre e o casamento com Renata serve de alavanca para sua carreira, já que seu sogro é milionário e dono da empresa onde ele trabalha. Só que ele se sente culpado por um golpe que teve que dar em uns velhinhos portugueses, além de outras concessões que precisa fazer para gerar lucros. Até o dia em que ele resolve largar a empresa e aproveitar a vida, ao som da música “Sossego” de Tim Maia.

Enquanto ele passa por essa crise existencial, sua mulher mata o tempo com o amante Rui, que deixa sua mulher, a falsa loira burra Pamela, carente e pronta para se envolver com Thales, que também se sente sozinho.

Sem desmerecer Otávio Muller, mas é estranho Mariana Ximenes se apaixonar perdidamente por ele, em detrimento de Marcos Palmeira, mas são coisas de cinema, ou talvez para tornar a situação mais engraçada, como a cena dos dois no motel fantasiados ao som de “Macho Man” do Village People.

“A mulher do meu amigo” é sobre esse quadrilátero amoroso e as implicações dessas escolhas. Nada tão profundo ou drástico, já que se trata de uma comédia.

Apesar de um pouco manjado, é um filme interessante que prende a atenção, mas é bem teatral e os quatro atores estão em cena quase o tempo todo falando pelos cotovelos, bem ao gosto de Domingos Oliveira. Vale conferir!


Download do filme A mulher do meu amigo


domingo, 11 de outubro de 2009

ANOTAÇÃO DE FILMES

Tenho o costume de anotar todos os filmes que assisto desde 1995. Não me lembro bem porque começou esse costume. Talvez pelo exemplo do crítico de cinema Rubens Ewald Filho, que também anota os filmes que assiste.

Faço as anotações em cadernos e ultimamente estou também digitando, pois a pesquisa é bem mais fácil quando o arquivo está no Word, basta clicar Ctrl + l e digitar a palavra para pesquisa. Antes eu sofria folheando os cadernos para conferir se já tinha visto algum filme que não me lembrava muito bem, mas agora com essa pesquisa tudo ficou mais fácil. Apesar disso, ainda anoto nos cadernos, o que pretendo continuar fazendo, pois nunca se sabe o que pode acontecer com esses arquivos de computador ou pen-drivers, mas faço o back-up do arquivo temporariamente para garantir.

Até hoje, já assisti 3.789 filmes, muitos com certeza, mas quase nada se comparado aos mais de 30.000 filmes vistos por Rubens Ewald Filho, mas ele é crítico de cinema e vive disso. Sem querer me desculpar, é claro.

Assisto um filme por dia de segunda à sexta e dois no final de semana, mas já cheguei a ver quatro num mesmo dia. Depois de assistir, dou uma nota para cada filme, antes em numerais cardinais (de 1 a 10) e agora com estrelas, sendo * = ruim, ** = regular, *** = bom, **** = ótimo e ***** = excelente. É um vício estranho, pois sinto falta quando fico alguns dias sem ver filmes, mas não quero ir para a reabilitação por causa disso.

Além do meu primo, Roberto, não conheço outras pessoas por aqui que têm esse costume, mas como diz o velho ditado: “Cada louco com sua mania”.



sexta-feira, 9 de outubro de 2009

GUERRA CONJUGAL (Brasil, 1975) ****


Direção: Joaquim Pedro de Andrade. Com: Lima Duarte, Jofre Soares, Carmen Silva, Elza Gomes, Ítala Nandi, Cristina Aché, Maria Lúcia Dahl, Carlos Gregório, Osvaldo Louzada, Carlos Kroeber, Wilza Carla e Dirce Migliaccio. 88 min.

Depois de clássicos como o episódio Couro de gato do longa "Cinco vezes favela (62), Garrincha - Alegria do povo (63), O padre e a moça (65), Macunaíma (69) e Os inconfidentes (71), Joaquim Pedro de Andrade dirigiu esta divertida e séria pornochanchada. Sim, ele dirigiu uma pornochanchada com temas picantes, cenas de nudez (de sexo não) e algumas atrizes costumazes do gênero, como Maria Lúcia Dahl, Wilza Carla e Cristina Aché.

O filme é baseado em 16 contos do escritor Dalton Trevisan, que também assina o roteiro junto com o diretor. São várias histórias paralelas que falam da dificuldade de se conviver bem, mesmo depois de tantos anos de casamento (Jofre Soares e Carmen Silva que brigam o tempo todo, inclusive fisicamente e não conseguem se entender, guerra essa que dá título ao filme); um advogado mulherengo (Lima Duarte) que corre atrás de várias mulheres, algumas até casadas (Ítala Nandi), mas depois de tudo descobre outras possibilidades; e o tímido Nelsinho (Carlos Gregório) que após se envolver sem muito sucesso com algumas mulheres, só se sente apto a se entregar verdadeiramente à esposa, depois de transar com uma velha prostituta.

Este como quase todos os filmes de Joaquim Pedro de Andrade foi restaurado digitalmente e apresenta uma imagem perfeita de um colorido impressionante, dando a impressão de ter sido produzido há pouco tempo e não há 34 anos atrás. A fotografia também é bem moderna, com a câmera nervosa perseguindo os atores e não parada por longos minutos como em vários filmes daquela época do Cinema Novo.

Outros diretores atuam aqui em outras funções: Marco Altberg (Fonte da saudade) é assistente de direção; Carlos Alberto Prates Correia (Noites do sertão) é diretor de produção; Eduardo Escorel (Lição de amor) é o montador e Luis Carlos Barreto (Isto é Pelé) é o produtor.

Guerra Conjugal é o filme mais acessível do diretor e ideal para as novas gerações que querem conhecer sua carreira, pois trata de uma forma descontraída de assuntos sérios como solidão, velhice, desejo e traição no casamento. Não perca de maneira alguma!

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

HELENA RAMOS



O Canal Brasil produziu há pouco tempo um curta-metragem sobre a rainha da pornochanchada, Helena Ramos, dirigido por Paula Mercedes.
O filme tem 23 minutos de duração e traz cenas de vários de seus filmes, como: "As cangaceiras eróticas (sua estreia em 1974), O clube das infiéis (1975), Kung Fu contra as bonecas (1976), O bem dotado - O homem de Itu (1977), Iracema - A virgem dos lábios de mel (1979), Mulher, mulher (1979), A mulher sensual (1981), Crazy - Um dia muito louco (1981), O sequestro (1981) e seu filme de maior sucesso, além de mais elogiado, Mulher Objeto (1981).
Essa paulista de 56 anos participou de 41 filmes e 3 novelas. Sua carreira no cinema durou 10 anos (de 1974 a 1984), sendo seu último filme, Volúpia de mulher. Seus filmes sempre foram marcados pela sensualidade, com cenas de nudez e sexo (simulado), onde obteve grande sucesso, sendo das atrizes mais conhecidas daquele período até hoje. Abandonou a carreira quando o cinema pornográfico invadiu o Brasil e como ela (e tantas outras atrizes) recusou se sujeitar a esses filmes, preferiu se afastar, mudou para os Estados Unidos com a filha e fez cursos de Artes plásticas e Fotografia.
O Canal Brasil é o grande responsável pela redescoberta de Helena Ramos, através da sessão "Como era gostoso o nosso cinema", exibida durante as madrugadas, onde quase todos os seus filmes foram mostrados.
Já tinha visto depoimentos dela em outro documentário do Canal: "Foi bom pra você, benzinho?" da jornalista Simone Zucolloto, que trazia também depoimentos de outros astros e estrelas daquela época, como David Cardoso, Carlo Mossy e Rossana Ghessa.
Sou fã confesso de Helena Ramos, já vi 25 de seus filmes (por enquanto) e adorei esse documentário. Uma pena ser tão curto! (8,5)



terça-feira, 6 de outubro de 2009

MÃOS VAZIAS (Brasil, 1971)


Elenco: Leila Diniz, José Kleber, Ana Maria Magalhães, Arduíno Colassanti, Irene Stefânia, Ana Maria Mirando, Manfredo Colassanti. 89 min.


Assisti ontem à noite ao filme MÃOS VAZIAS de Luiz Carlos Lacerda, que foi o último trabalho da diva Leila Diniz e o responsável indireto pela sua morte, já que ela morreu em um acidente de avião quando voltava ao Brasil, depois da divulgação do filme na Austrália. Foi um choque em todo o Brasil a notícia de sua morte, pois ela era muito querida por todos (ou quase todos), com exceção dos falsos moralistas que ficaram chocados com sua entrevista cheia de palavrões para o jornal O PASQUIM e a exibição de sua gravidez em plena praia, mostrando o barrigão para quem quisesse ver.

Mãos Vazias é um filme pesado e lento que fala de repressão, preconceitos e da impossibilidade de se viver a dois. A personagem de Leila vai morar com seu marido numa cidade do interior e passam a ter que aturar as fofoquinhas das pessoas que moram nas cidades pequenas, que destroem vidas, como um caso homossexual que estava acontecendo entre dois homens, um deles, inclusive casado.

Dois casais se encontram (Leila Diniz e José Kleber/ Ana Maria Magalhães e Arduíno Colassanti) e em conversas constantes colocam em cheque o casamento. O assassinato de um dos personagens funciona como a própria morte do matrimônio, que eles acreditam ser algo ultrapassado.

A narração de Leila Diniz perpassa todo o filme, que quase não tem falas e apresenta um colorido vibrante, pois foi restaurado pelo Canal Brasil. É baseado em obra do escritor Lúcio Cardoso (A casa assassinada) e dirigido por Luiz Carlos Lacerda, amigo pessoal de Leila, que depois dirigiria em 1987, uma cinebiografia sobre ela: "Leila Diniz" com Louise Cardoso.

Um filme imperdível, por seu valor histórico, mas sem dúvida, difícil e não indicado a todos os públicos. (6,0)

Download do filme Mãos vazias

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

BILHETERIA MÉDIA DOS FILMES NACIONAIS LANÇADOS EM 2009 (Até 04/10/09)


FILMES NACIONAIS LANÇADOS EM 2009, QUE TIVERAM MAIOR BILHETERIA

SE EU FOSSE VOCÊ 2 - 6.671.277
A MULHER INVISÍVEL - 2.307.576

OS NORMAIS 2 - 1.899.140
DIVÃ - 1.837.137
O MENINO DA PORTEIRA - 680.000
JEAN CHARLES - 257.404
O GRILO FELIZ 2 - 163.924
VERÔNICA - 80.721
TEMPOS DE PAZ - 77.947
BUDAPESTE - 73.153

SALVE GERAL 72.364
À DERIVA - 68.477
SIMONAL - 63.324
SURF ADVENTURES 2 - 44.930

FONTE: filme b/ e-pipoca