Falar sobre pornochanchada é falar sobre um “santo de casa”, ou seja, uma produção tipicamente brasileira que esteve presente no nosso cinema, marcando-o e estigmatizando-o, ao menos no período de sua dominação. Ela surgiu em 1969, tendo como sua primeira obra o filme Os Paqueras de Reginaldo Faria, e depois seguido por Adultério à Brasileira de Pedro Carlos Rovai e Memórias de um Gigolô de Alberto Pieralisi. Apesar de Reginaldo Faria não se considerar um pornochanchadeiro e citar Os Paqueras como um filme quase ingênuo se comparado a outros que tentavam seguir essa linha, pois numa cena do filme, as personagens dele e de Irene Stefânia fazem sexo, vestidos, o que era recorrente nesses primeiros filmes.
O nome “pornochanchada” é uma junção de “chanchada”, o gênero predominante no cinema brasileiro das décadas de 30, 40 e principalmente 50, que tinha grande aceitação popular, acrescido da palavra “pornô”, resultante da força erótica intencionalmente presente nas obras. A chanchada, que em espanhol quer dizer porcaria, era formada por filmes ingênuos e quase sempre maliciosos, enquanto a pornochanchada tentava introduzir intenções explícitas, mesmo que não pornográficas. Os títulos, em sua maioria libidinosos, tentavam atrair o público às salas de cinema em busca de algo que na realidade nem sempre encontravam, pois nos títulos havia mais ousadia que nas próprias obras.
Esses títulos maliciosos e de duplo sentido, com certeza eram um grande atrativo, pois davam a entender que se tratava de um filme de sexo explícito, o que não era verdade. Entre esses títulos estavam A Mulher de Todos, passando por A Cama ao Alcance de Todos e incluindo Audácia – A Fúria dos Desejos, As Escandalosas, O Pornógrafo, Cio – Uma Verdadeira História de Amor, Cada Um Dá o Que Tem, A Ilha do Desejo, Essa Gostosa Brincadeira a Dois, A Ilha dos Prazeres Proibidos, etc. Além dos títulos que continham a palavra “sexo”, como por exemplo: O Doce Esporte do Sexo, O Sexo Mora ao Lado, O Fraco do Sexo Forte, Sexo às Avessas, O Sexo das Bonecas, O Sexo e as Pipas e O Sexo Nosso de Cada Dia, faziam sucesso também, aqueles que traziam a palavra “mulheres” como Sete Mulheres Para um Homem Só, As Mulheres que Fazem Diferente, Quando as Mulheres Paqueram, As Mulheres Sempre Querem Mais, As Mulheres Amam por Conveniência, As Mulheres que Dão Certo e vários outros.
Dentro desse gênero iremos perceber a constante presença de certos personagens com características marcantes, vulgaridades necessárias para o favorecimento do enredo erótico – não muito complexo, e com articulações mais ou menos óbvias. Tais enredos evidentemente encontravam problemas para contornar os cortes promovidos pela censura federal, que muitas vezes riscava o negativo, deixando a imagem sem som, nos momentos em que as palavras usadas eram consideradas inadequadas.
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Zaira Bueno em "Coisas eróticas" |
A pornochanchada teve seu fim com a entrada no mercado dos filmes pornográficos (tanto os nacionais quanto os estrangeiros) a partir do início da década de 80, com a exibição de “Coisas eróticas” (1981) de Rafaelle Rossi que estourou nas bilheterias, fazendo 4.729.484 espectadores. Os produtores e diretores pensavam ter descoberto uma mina de ouro, mas o que não imaginavam era que, com o cinema pornográfico, estavam “matando” a pornochanchada, pois o público não estava mais interessado nas insinuações daqueles filmes e queriam algo mais explícito. Os últimos filmes do gênero datam de 1985.