domingo, 26 de julho de 2009

O GRITO 3 (EUA, 2009)


Direção: Toby Wilkins. Com: Mathew Knight, Shawnee Smith. 90 min.

Assisti a O grito 2 há alguns dias e achei quase insuportável, confuso e cheio de subtramas e até irritante. Foram 102 minutos de tortura em que eu torcia pro filme acabar, por isso tinha receios em assistir essa terceira parte e me decepcionar novamente, mas me surpreendi. O grito 3 é bem melhor do que eu esperava, me fez esquecer da segunda parte e lembrar da primeira que era superior. Não que este seja perfeito.

Novamente aqui, eles usam a mesma estratégia de matar o sobrevivente do filme anterior logo no início ( o menino Jake), como haviam feito com a personagem de Sarah Michelle Gellar no início de O grito 2. É decepcionante para o espectador, pois ele fica com a impressão de que se o herói/heroína a duras penas conseguir sobreviver no final do filme, com certeza ele vai morrer na continuação.

Tirando esse detalhe, O grito 3 é interessante, não que traga novidades, longe disso. Mas é fácil de assistir e o que é melhor, não passa de 90 minutos. Três irmãos - Max, o gerente de um prédio, Lisa, uma moça meio desmiolada que só pensa em transar com o namorado em todos os quartos e Rose, uma menina com problemas respiratórios, continuam morando no prédio onde foi assassinada toda a família de Jake e é no apartamento onde eles foram mortos que a mãe vingativa com seus cabelos ensebados pelo rosto (não há como não rir com os ataques desengonçados e cheios de tiques nervosos dela) e seu filho que só faz gritar começam a matança. Flashbacks mostram como eles foram mortos pelo pai que parecia estar possuído, numa espécie de O iluminado dos pobres. E a carnificina recomeça incluindo os poucos moradores do prédio e quem aparecer pela frente.

O final deixa um gancho para uma nova continuação, mas Deus queira que ela não aconteça, já que o filme foi lançado direto em DVD tanto nos Estados Unidos, quanto aqui. (6,5)

sexta-feira, 24 de julho de 2009

CASA DA MÃE JOANA (Brasil, 2008)

Direção: Hugo Carvana. Com: José Wilker, Paulo Betti, Antonio Pedro Borges, Pedro Cardoso, Laura Cardoso, Fernanda de Freitas, Juliana Paes, Agildo Ribeiro, Malu Mader, Cláudio Marzo, Beth Goulart, Arlete Sales e Hugo Carvana. 93 min.
Depois de cinco anos afastado da direção no cinema (desde Apolônio Brasil - Campeão da alegria de 2003), Hugo Carvana volta com essa comédia de costumes inspirada em histórias do seu passado, quando dividia um apartamento com Roberto Maya, Miéle (que fazem pontas afetivas aqui) e Daniel Filho.

São quatro amigos que moram juntos e vivem de dar golpes para não precisar trabalhar. Logo no início já tentam roubar 100 milhões de dólares de um joalheiro (Cláudio Marzo), mas são enganados por Vavá (Pedro Cardoso) que estava mancomunado com Laura (Malu mader), a mulher do joalheiro. Então os outros três: Paulo Roberto (Paulo Betti), Juca (José Wilker) e Montanha (Antonio Pedro, que agora depois de tantos anos de carreira, passou a assinar como Antonio Pedro Borges) precisam trabalhar a fim de conseguir dinheiro para não serem despejados. Paulo Roberto é coroa de programa e coloca um anúncio no jornal oferecendo seus "serviços sexuais", para clientes tão díspares quanto Arlete Sales, Beth Goulart e Lu Grimaldi. Juca vira acompanhante de um comendador gay (vivido pelo debochado Agildo Ribeiro), que foi drag queen no passado e ainda sonha em fazer shows, o que acontece ao som de "Não existe pecado ao sul do Equador" de Chico Buarque. Já Montanha volta a escrever com o pseudônimo de Dolores Del Sol para uma revista feminina e conta com a ajuda de Juliana Paes que personifica Dolores (delírio de milhões de homens e também de Montanha). Nesse meio tempo aparece Dona Herley, a mãe de Paulo Roberto (Laura Cardoso), que tem um problema de espasmo da glote e pode morrer sufocada a qualquer momento e Tainacã (Fernanda de Freitas), filha de Juca, que também se interessa por Paulo Roberto.

Há várias participações especiais, além das já citadas, como a do próprio diretor, Hugo Carvana, que vive um joalheiro e também Maria Gladys e Lícia Magna (adorável em seu último papel no cinema).

É produzido pela Globo Filmes e pelo canal Telecine e tem momentos bem engraçados de situações rotineiras envolvendo vários gaiatos interessados em levar a vida numa boa. Foi um pouco criticado quando foi lançado nos cinemas em setembro do ano passado, pois tem um pouco de aparência de especial da Rede Globo, inclusive com os intertítulos que aparecem de vez em quando para assinalar quantos dias faltam para eles serem despejados do apartamento e pelo elenco todo de atores globais, mas é um detalhe, os atores são bons e o filme é diversão na certa. (7,5)


Download do filme Casa da mãe Joana

quinta-feira, 23 de julho de 2009

O QUE SERÁ (À FLOR DA PELE)


O que será que me dá
Que me bole por dentro, será que me dá
Que brota à flor da pele, será que me dá
E que me sobe às faces e me faz corar
E que me salta aos olhos a me atraiçoar
E que me aperta o peito e me faz confessar
O que não tem mais jeito de dissimular
E que nem é direito ninguém recusar
E que me faz mendigo, me faz implorar
O que não tem medida, nem nunca terá
O que não tem remédio, nem nunca terá
O que não tem receita.

O que será que será
Que dá dentro da gente e que não devia
Que desacata a gente, que é revelia
Que é feito uma aguardente que não sacia
Que é feito estar doente de uma folia
Que nem dez mandamentos vão conciliar
Nem todos os ungüentos vão aliviar
Nem todos os quebrantos, toda alquimia
Que nem todos os santos, será que será
O que não tem descanso, nem nunca terá
O que não tem cansaço, nem nunca terá
O que não tem limite.

O que será que me dá
Que me queima por dentro, será que me dá
Que me perturba o sono, será que me dá
Que todos os ardores me vêm atiçar
Que todos os tremores me vêm agitar
Que todos os suores me vêm encharcar
Que todos os meus nervos estão a rogar
Que todos os meus órgãos estão a clamar
E uma aflição medonha me faz suplicar
O que não tem vergonha, nem nunca terá
O que não tem governo, nem nunca terá
O que não tem juízo.

Essa música de Chico Buarque, gravada por Simone, foi tema do filme "Dona Flor e seus dois maridos" (1976) e embalou as calientes cenas entre Sonia Braga e José Wilker no filme nacional de maior sucesso até hoje com mais de 10 milhões de espectadores. Está entre os primeiros filmes dirigidos por Bruno Barreto e exala desejo em cada cena.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

A ERA DO GELO 3 (EUA, 2009)

Direção: Carlos Saldanha. Elenco (vozes): Ray Romano, John Leguizamo, Denis Leary e Queen Latifah. 96 min.

O diretor brasileiro Carlos Saldanha assume mais uma vez o comando da “saga” A era do gelo, como já havia feito na segunda parte de 2006 e na primeira de 2002, que co-dirigiu ao lado do americano Chris Wedge. Esse é tão bom quanto os demais e em alguns momentos até melhor, mais engraçado e mais profundo já que fala de assuntos mais sérios, como o medo da solidão, talvez não tão bem compreendido pelas crianças (público alvo do filme), mas de entendimento de todo o restante do público, já que A era do gelo 3, como a maioria das animações recentes, agrada pessoas de todas as idades e não somente às crianças. Os adultos não vão ao cinema só para levar os filhos ou algum parente, eles vão porque gostam da qualidade da produção e na maioria das vezes acabam gostando mas que os pequenos e acabam gostando mais que os pequenos, pois conseguem pegar todos os detalhes e referências, por mais sutis que sejam.

A companheira do mamute Manny, Ellie (dublada por Queen Latifah e na versão em português por Cláudia Jimenez) está grávida, o que traz mais responsabilidades para Manny (Ray Romano, em português Diogo Vilela) e no tigre Diego (Denis Leary/ Márcio Garcia) e na preguiça Sid (John Leguizamo/ Tadeu Melo) o sentimento de que algo está faltando em suas vidas, talvez uma companheira e filhos, enfim uma família. Diego decide abandonar os amigos e se isolar, enquanto Sid descobre três ovos abandonados que irão deflagrar uma grande aventura em um mundo para eles desconhecido. Até o desastrado roedor Scrat se apaixona, na eterna procura pela noz, ao som da bela música You'll Never Find Another Love Like Mine de Lou Rawls.

Não há como assistir A era do gelo 3 e não se lembrar da série animada “Em busca do vale encantado” que rendeu 13 filmes de 1988 a 2007, já que todos vão à procura de Sid num mundo subterrâneo onde vivem diversas espécies de dinossauros, que eles acreditavam estar extintos. É lá que encontram o aventureiro Burt que os ajuda a enfrentar vários perigos, como o grande vilão da história.

O filme ideal para ver no cinema com a sala cheia de crianças e adultos rindo sem parar e se divertindo, seja com a versão em 3-D ou na convencional, na cópia legendada ou na dublada. (9,0)

quinta-feira, 9 de julho de 2009

PAGANDO BEM, QUE MAL TEM? (EUA, 2008)

Direção: Kevin Smith. Com: Seth Rogen, Elizabeth Banks, Jason Mewes, Traci Lords, Brando Routh, Justin Long. 101 min.

O diretor Kevin Smith começou carreira de forma independente com “O balconista” que custou pouco mais de US$ 27 mil e lançou a dupla de personagens Jay e Silent Bob (feitos por ele e Jason Mewes, que participaram dos quatro filmes seguintes de Smith) parecia ter se perdido com “O império (do besteirol) contra-ataca” e “Menina dos olhos”, mas se encontrou com a divertida comédia “Pagando bem, que mal tem?”.

Zack (Seth Rogen) e Miri (Elizabeth Banks) são amigos e moram juntos há 10 anos, desde a formatura para dividir as contas, que só ficam atrasadas. Depois que eles têm a água e a energia cortadas, percebem que precisam fazer alguma coisa. Numa festa com os colegas da escola, reencontram Bobby (num participação divertidíssima do novo Superman, Brando Routh) que têm um namorado (Justin Long de “Ele não está tão a fim de você) e são atores pornôs. É Brandon que dá a idéia para Zack e Miri entrarem nesse ramo. A participação de Brandon Routh e Justin Long é pequena, mas muito engraçada (os dois aparecem novamente nos créditos finais), os dois brigam o tempo inteiro e discutem a relação em público.

Zack e Miri planejam, junto com outros amigos, uma paródia pornô de Guerra nas estrelas (Vadia nas estrelas), mas têm que mudar os planos depois que todo o cenário é destruído, eles dão um jeito de filmar em outro lugar.

Há muitos palavrões e alguma nudez, nessa comédia debochada sobre o mundo pornô, mas “Pagando bem, que mal tem” (cujo título original é Zack e Miri fazem um pornô) não é só sobre isso. É a respeito do amor que surge de onde menos se espera, já que Zack e Miri percebem que o que sentem não é só amizade. É um filme muito engraçado, mas não descerebrado sobre sexo e sua conseqüência: o amor (ou vice-versa). (8,0)

KIKA (Espanha, 1993)

Direção: Pedro Almodóvar. Com: Verônica Forque, Peter Coyote, Victoria Abril, Alex Casanovas, Rossy de Palma, Manuel Bandera. 115 min.

Almodóvar sempre gostou de dirigir histórias que fugissem do convencional, como Labirinto de paixões, A lei do desejo e Mulheres à beira de um ataque de nervos. Mas Kika, certamente é um de seus filmes mais bizarros, a começar pela jornalista Andrea Caracortada (Victoria Abril) que apresenta um programa sensacionalista na televisão, “O pior do dia”, onde mostra cenas filmadas por ela mesma com uma câmera que traz em seu capacete. Andréia é capaz de tudo para conseguir para conseguir pautas para o seu programa, inclusive ameaçar e chantagear. A cena mais engraçada dessa louca comédia, acontece quando ela chega para cobrir um caso de estupro onde o estuprador está tão sedento de sexo que não larga a vítima nem quando a polícia chega. E depois quando é interrompido, vai para a sacada se masturbar.

Mas a protagonista não é Andréia e sim Kika (Verônica Forque), uma maquiadora que conhece o escritor americano Nicholas (Peter Coyote), quando é chamada para maquiar seu enteado Ramón (Alex Casanovas) que ele acredita estar morto já que tem catalepsia. Kika se envolve com Ramón enquanto tem um caso com Nicholas.

Nada é comum nessa história, onde as aparências enganam e as mulheres dominam, como em quase todos os filmes de Almodóvar. Há ainda uma empregada lésbica de Kika, Juana, feita pela estranha Rossy de Palma que é irmã de um ator pornô que estava preso, depois fugiu e estuprou Kika. Ela é muito engraçada e ressente-se por estar sozinha, então recebe a ajuda de Kika, que a maquia para torná-la mais atraente.

No terço final, a comédia é um pouco esquecida quando revelam-se alguns assassinatos e o clima fica mais denso. Essa parte difere-se de todo o resto, que é mais descontraído, mas não atrapalha a apreciação desse filme sempre estranho, mas nunca desinteressante. (7,5)

LANTERNAS VERMELHAS (China, 1991)


Direção: Zhan Yimou. Com: Gong Li, He Calfei, Cão Guifen, Ma Zingwu, Zhao Qi. 125 min.

A China é um país é um país bem tradicionalista e é isso o que aborda o filme Lanternas vermelhas de Zhang Yimou (Herói, O clã das adagas voadoras).

Depois que o pai de Songlin (Gong Li) morre, ela tem que abandonar a universidade e se casar com um homem mais velho, que é rico e tem outras três esposas. As lanternas vermelhas acesas na casa de uma delas serem para anunciar que o seu senhor vai dormir ali naquela noite. A escolhida tem direito a massagem nos pés, pois eles acreditam que se a mulher está com os pés descansados, pode agradar melhor ao seu marido. Então as quatro mulheres usam de artimanhas para passar a noite com ele. A primeira senhora é mais velha que as demais e a que menos aparece na história. A segunda parece mais conformada com a situação, enquanto a terceira é revoltada e finge estar doente para receber atenção do marido. Enquanto Songlian de início não se importa com isso, depois de um tempo percebe que tem privilégios quando as lanternas estão acesas à sua porta, como poder escolher o cardápio do jantar e usa também de artimanhas para mantê-lo por perto. Mas como na vida real, as aparências enganam e ninguém é tão bom ou mal quanto parece e a felicidade não é tão simples de ser alcançada. Uma bebedeira no dia do seu aniversário, faz Songlian botar tudo a perder.

Lanternas vermelhas é um filme lento e contemplativo,mas em nenhum momento, chato. Mostra o amor de quatro mulheres (ou melhor, cinco, já que a criada de Songlian também é apaixonada por ele) pelo mesmo homem e a dor que sentem em ter que dividi-lo com as demais e aceitar tradições ultrapassadas, mas que são mantidas, mesmo que isso custe a felicidade de todos. Para ver, rever e refletir. (8,5)

sexta-feira, 3 de julho de 2009

ANJOS E DEMÔNIOS (EUA, 2009)

Direção: Ron Howard. Com: Tom Hanks, Ewan McGregor, Ayelet Zurer, Stellan Skarsgard e Armin Muller Sthal. 132 min.

Não há como assistir a “Anjos e demônios” e não compara-lo a “O código DaVinci”, feito em 2006, pela mesma equipe: Ron Howard na direção, adaptando um best-seller de Dan Brown, (o livro Anjos e demônios foi publicado antes de O código DaVinci, mas adaptado depois) que aqui também assume como produtor executivo e Tom Hanks novamente no papel do professor Robert Langdon. Gostei mais deste aqui, onde o suspense é ininterrupto e a história não é tão intrincada quanto em O código DaVinci, onde quem não tinha lido o livro ou não era iniciado no assunto, às vezes se perdia em tantos detalhes sobre organizações secretas, cavaleiros templários, Opus Dei e Maria Madalena. Além disso “Anjos e demônios é mais conciso e não fica enrolando o espectador.

Robert Langdon (Tom Hanks) apesar de não ser muito querido pelo Vaticano, é procurado por um representante deste (já que é a pessoa mais indicada) para solucionar um caso de seqüestro de quatro cardeais engendrado pelos Illuminati, um grupo de religiosos centenário, execrado pelo Vaticano, já que são cientistas que descobriram coisas que talvez não devessem ser reveladas aos fiéis. Eles ameaçam matar esses quatro cardeais em igrejas diferentes e no decorrer da história, Langdon descobre que estão envolvidos os quatro elementos: terra, ar, fogo, água e um quinto que todos desconhecem onde estaria uma bomba feita com anti-matéria capaz de destruir o Vaticano.

O suspense vai sendo construído aos poucos, onde Langdon descobre as pistas sobre as igrejas onde estariam os cardeais e ao mesmo tempo colhe informações já que está escrevendo um livro sobre os Illuminati. Há uma cena sensacional onde dois personagens (melhor não revelar quais) ficam presos em uma câmara onde a energia é desligada e eles ficam ser ar. Quando tudo parece estar resolvido, no final há uma reviravolta muito bem vinda.

O filme envolve também a morte do Papa e o interesse dos que o cercam em substituí-lo. Talvez a igreja também não goste deste filme, como não gostou de O código DaVinci, já que revela coisas desagradáveis, como o fato dela se livrar daqueles que atrapalham seus planos e outros detalhes, mas nada que abale a fé de ninguém. Não confundir com o filme homônimo de Carlos Hugo Christensen da década de 70. (8,5)

quinta-feira, 2 de julho de 2009

TUDO SOBRE MINHA MÃE (Espanha, 1999)

Direção: Pedro Almodóvar. Com: Cecília Roth, Marisa Paredes, Penélope Cruz, Candela Pena, Antonia San Juan. 101 min. Vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro.

O drama conta a história de uma mãe, Manuela (Cecília Roth), que esconde de seu filho Esteban (Eloy Azorin), quem é o seu pai. O sonho de Esteban é ser escritor e enquanto aguarda uma chance de mostrar seu talento, ele escreve suas memórias em um caderno intitulado “Tudo sobre minha mãe”.

Na noite de aniversário de seu filho, Manuela o leva para assistir a uma montagem de “Um bonde chamado desejo” de Tenesse Williams, do qual ela própria havia participado de uma montagem amadora, quando jovem. Huma Rojo (Marisa Paredes) é a famosa atriz que participa da peça atualmente. Manuela promete contar tudo sobre o pai de Esteban, quando chegarem em casa, o que se torna impossível, pois Esteban sai correndo atrás do carro de Huma, é atropelado e morre.

Após a morte do filho, Manuela resolve viajar para Barcelona para encontrar o pai de seu filho, que também se chama Esteban e tem o codinome de Lola.

Enquanto procura por Lola, Manuela reencontra Agrado (Antonia San Juan), uma velha amiga travesti, que na verdade é interpretada por uma mulher. As duas vão procurar emprego em um convento onde trabalha Rosa (Penélope Cruz), uma freira assistencialista que está grávida de Lola e também com o vírus da AIDS.

O drama é uma das marcas registradas de Almodóvar, que ficou famoso por criar personagens femininas bem mais fortes que as masculinas e é isso o que acontece também em “Tudo sobre minha mãe”, onde os homens são meros figurantes ou querem se tornar mulheres. Elas sempre reinam em seus filmes, onde foram imortalizadas divas como Carmem Maura, Marisa Paredes, Cecília Roth, Victoria Abril, Penélope Cruz, Assumpta Serna e Francesca Neri.

“Tudo sobre minha mãe” também é um filme extremamente feminino e talvez por causa disso, muito sensível. Almodóvar o dedica a Bette Davis, Romy Schneider, Gena Rowlands, a todas as atrizes que interpretam atrizes, a todas as mulheres que representam, aos homens que representam e tornam mulheres, a todas aquelas que querem ser mães e à sua mãe. Em suma, o filme ideal para quem quer se emocionar. (10,0)

MR. VINGANÇA (Coréia do Sul, 2002)

Direção: Chan Wook Park. Com: Kang-ho Song, Ha-kyun Shin, Du-na Bae, Ji-Eun Lim, Bo-bae Han, Se-dong Kim. 120 min.

Este foi o Segundo filme da trilogia do diretor Chan Wook Park sobre a vingança, feito depois de Lady Vingança e antes de Oldboy. Aqui um rapaz surdo-mudo seqüestra, junto com sua namorada, a filha de seu antigo patrão (que o despediu) a fim de conseguir dinheiro para o transplante de rins que sua irmã necessita. As coisas não saem como planejado e uma tragédia acontece. Nesse momento, entra na história, a vingança que é vista pelos personagens como a solução de seus problemas e a cicatrizadora de suas feridas, mas há coisas irreversíveis.

Mr. Vingança tem um estilo seco e direto, ritmo lento e personagens desesperados, capazes de fazer qualquer coisa para conseguir o que querem, chegando às últimas conseqüências de violência. Não é um filme agradável de se assistir. A história parece melhor contada do que vista. Há cenas quase insuportáveis de torturas, choques elétricos, facadas e cortes de um sadismo assustador, mas curiosamente não há tiros, talvez porque o sofrimento nas outras formas é mais demorado.

É um retrato de onde o ser humano pode chegar para defender e vingar aqueles que ama e do destino, que às velhas planeja armadilhas, mas definitivamente não é um filme fácil. (6,0)

NENHUM A MENOS (China, 1999)

Direção: Zhang Yimou. Com: Wei Minzhi, Zhan Huike, Tian Zhenda, Goo Enman. 106 min.

Em 1999, o diretor chinês Zhan Yimou (O sorgo vermelho, Lanternas vermelhas e O caminho para casa) fez esse sensível filme sobre Wei, uma menina de 13 anos que vai trabalhar como professora substituta em uma escola de uma comunidade rural. A evasão escola é preocupante na China, onde um milhão de crianças deixam de estudar todos os anos, então o professor interino que tem que viajar para visitar sua mãe que está morrendo, promete a Wei um acréscimo em seu pagamento caso ela não deixe ninguém desistir.

De início, Wei se mostra retraída e pouco interessada no aprendizado dos alunos e sua dedicação parece ser só interesse pelo pagamento extra. Mas essa impressão desaparece com o desenrolar da história de Zhang, um menino que precisa trabalhar para pagar as contas da família. Wei faz de tudo para conseguir o dinheiro da passagem de ônibus até a cidade, convence as crianças a carregarem tijolos na olaria local, entra no ônibus sem pagar e depois decide continuar a viagem a pé e de carona.

A pobreza dos personagens é tocante, pois qualquer quantidade de dinheiro, por mais insignificante que seja, para eles é muito. A cena onde todos compartilham duas latinhas de Coca cola é emocionante, pois é algo que para eles é inacessível.

A determinação de Wei para encontrar Zhan na cidade grande, sem dinheiro nem para comer; a paciência para escrever os cartazes de “procura-se” e a espera incansável na porta da emissora para encontrar o diretor que pode lhe ajudar lembra a história de Davi e Golias, com Wei lutando contra a gigante cidade que com ela pouco se importa. A cena em que ela consegue finalmente falar na televisão e chorar pela volta de Zhang é de chorar junto com ela.

Nenhum a menos é um filme tão singelo e sensível que vai conquistando o espectador aos poucos e quando ele percebe está totalmente envolvido e torcendo por um final feliz para aquelas pessoas tão simples e ao mesmo tempo tão cheios de paciência, esperança e amor.

Alguns dos atores emprestam seus nomes verdadeiros aos personagens como Wei Minzhi e Zhang Huike, nesse filme que ganhou o Leão de Ouro no Festival de Veneza de 1999 e é baseado em fatos reais. (10,0)

CRUPIÊ - A VIDA EM JOGO (Inglaterra, 1998)


Direção: Mike Hodges, Com: Clive Owen, Katie Hardie, Gina Mckee, Nicolas Ball. 91 min.

Antes de ficar famoso nos Estados Unidos com filmes como Clorer – Perto demais e Mandando bala, Clive Owen participou ainda na Inglaterra desse filme, onde ele vive um escritor desempregado que aceita trabalhar como crupiê em um cassino e dali retira idéias para um romance. Seu personagem Jack é cínico e sente um prazer mórbido em ver as pessoas perderem seu dinheiro no jogo. Apesar do cinismo, ele é honesto e incorruptível e para extravasar, cria para o romance um alter-ego seu, Jake, que só quer se dar bem às custas dos outros.

A honestidade não dura muito e Jack aceita participar de um golpe arriscado no cassino que pode custar coisas que ele preza.

O filme é narrado por Jack, mas não em 1ª pessoa e sim na 3ª, como se fosse o personagem e ao que eles estão sentindo ou pensando, mas não há como negar que é um filme estranho e diferente. O personagem de Clive Owen às vezes parece não se importar com ninguém, nem com ele mesmo. Não que o ator esteja apático, sua expressão está em seus olhos, que demonstram um desprezo completo pelo trabalho e pelos que o cercam. Vale a pena conhecer, mas não espere um filme de ação ou correrias, trata-se de um drama psicológico. (7,5)