quarta-feira, 16 de junho de 2010

AMIZADE QUASE VERDADEIRA

Natália acabara de se separar do marido. Dois anos de uma união aparentemente feliz. Marina sua amiga inseparável desde criança, sentiu-se no dever de consolá-la nesse momento tão difícil de sua vida.
_ Bom te ver assim, Natália. – disse Marina na chegada – Achei que ia te encontrar na maior “deprê”.
_ De que adiantaria eu me descabelar toda? Eu continuaria sendo uma mulher largada do marido do mesmo jeito.
_ É tão triste ver um casal que se dava tão bem se separando assim de uma hora para outra. Pensei que vocês ficariam juntos até a morte.
_ Esse também foi o meu erro. Quando nos casamos eu tinha certeza que ia ser pra sempre, mas infelizmente nada dura pra sempre.
_ Por que vocês se separaram?
_ Incompatibilidade de gênios. O Ronaldo é mandão demais. Ficava querendo me botar cabresto. E você sabe que eu não nasci pra ser mandada. Gosto de sair quando quero, voltar quando quero e ele não concordava com isso.
_ Natália, você devia ter cedido um pouco. Depois que a gente se casa tem que mudar os hábitos, deixar a vida de soleira de lado e procurar ser outra pessoa.
_ Eu “tava” perdendo a minha identidade.
_ Você estava cansada de saber que a vida de uma mulher casada não é fácil. É preciso abrir mão de muitas coisas.
_ Você está parecendo minha mãe, me dando lição de moral. Se eu gostasse de sermão eu freqüentava a igreja.
_ Pois você devia mesmo freqüentar a igreja pra aprender a ser uma pessoa melhor, dividir as coisas. Se você sabia que não iria se acostumar, não devia ter se casado com ele.
_ Você queria que eu tivesse deixado ele pra você?
_ Talvez teria sido melhor. Você estava sabendo do meu amor por ele e mesmo assim não foi capaz de ceder. A menininha mimada sempre tem que ter tudo o que quer.
_ Você nunca foi capaz de me perdoar sinceramente por eu ter roubado ele de você. Continuou freqüentando a minha casa, mas eu não via em seu rosto a inveja. Você queria estar no meu lugar. Agora chegou a hora, ele está sozinho novamente. Eu te passo o bastão. Pode ficar com ele se quiser.
_ A vida não é assim. As pessoas não são marionetes, que você pode manipular e o Ronaldo não é um prêmio.
_ Ah, mas não é mesmo. Queria que você ficasse casada com ele, pelo menos um mês. Ia sofrer mais que passarinho na mão de criança levada.
_ Quem ouve você falar pensa logo num monstro. Ele é uma pessoa maravilhosa.
_ Então, já que está tão interessada, fica com ele pra você.
_ Se você me dissesse isso há dois anos atrás, eu aceitaria sem pestanejar, já hoje não posso aceitar.
_ Porque não?
_ Sou casada e vivo muito bem com meu marido.
_ Casamentos se desfazem da noite pro dia. Hoje acontecem mais separações que casamentos.
_ Por causa da imprudência das pessoas que se casam sem ter certeza, se o escolhido é a pessoa ideal para viver a seu lado.
_ Que papo-cabeça. Como se você acreditasse que o seu casamento vai durar a vida toda.
_ Eu posso te garantir que se não durar, a culpa não foi minha, pois eu faço o possível para agradá-lo em todos os sentidos.
_ Você é uma boba.
_ Só porque eu acredito no amor?
_ Porque você acredita na eternidade do amor. Parece aquelas mocinhas dos romances antigos. É capaz de até ter casado virgem.
_ Me casei.
_ Você não tem mesmo solução. Ninguém mais se casa virgem. O Ronaldo foi meu décimo homem.
_ Parece uma... uma...
_ Diz, pareço uma galinha.
_ Não queria dizer isso. Só acho que você é nova demais para já ter tido dez homens.
_ Isso foi apenas o começo. Agora que estou solteira novamente vou botar pra quebrar.
_ E cair na boca do povo.
_ O que eles pensam ou deixam de pensar não me interessa. Não sou sustentada por eles.
_ Não pensa em se casar de novo?
_ Nunca mais caio nessa cilada. Quero aproveitar a vida e nada mais.
_ Está insinuando que uma mulher casada não aproveita a vida?
_ A única coisa que eu posso fazer é te deseja sorte.
_ Já tenho muita. Estou aguardando meu namorado que deve estar quase chegando. Ele é meu 11º homem.
_ Você parece um jogador, falando de seus troféus.
_ Não deixa de ser. Os mais bonitos são de ouro, os menos de prata e os mais feios de bronze.
Depois dessa louca teoria. Marina não agüentou mais e deixou sua amiga sozinha... Por enquanto.

Gilberto Carlos

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