segunda-feira, 19 de maio de 2014

RESTAURAR É PRECISO


Recebi um convite há poucos dias que me deixou muito feliz. Era do produtor João D’Bartolo, da nova Maristela Filmes (produtora dos anos 50) para o lançamento da cópia restaurada do filme CARNAVAL EM LÁ MAIOR de 1955, dirigido por Adhemar Gonzaga. A restauração foi feita a partir de um prêmio do Programa Petrobras Cultural 2013/13, com o projeto LAB Restauro, que também restaurou o filme SUSANA E O PRESIDENTE. O coquetel de re(lançamento) do filme aconteceu na Cinemateca Brasileira no dia 15 de maio de 2014, às 20 h. Uma pena não ter podido ir, já que moro tão longe, mas fiquei com muita vontade.

Vamos entender como funciona o processo de restauração...

Os filmes são guardados em DVDs ou em fitas cassete, mas ficam lá para sempre? Depende. Os rolos estão sujeitos à ação do tempo, deterioram-se e as imagens ficam comprometidas. Então, é preciso que sejam submetidos aos processos de restauração.

“Garantir a preservação da matriz [o original] e o acesso a essa informação [por meio da duplicação do material] é o objetivo do trabalho da restauração”, explica Ernesto Stock, profissional do Laboratório de Restauração da Cinemateca Brasileira.


Criado em 1978, é considerado um exemplo para as cinematecas latino-americanas, por seus equipamentos sofisticados e o compromisso em recuperar o acervo de filmes nacionais. Os investimentos vêm do Ministério da Cultura e da Prefeitura de São Paulo.

Mas isso nem sempre foi assim. Muito da memória fílmica brasileira se perdeu em decorrência de não termos conhecimento das técnicas de restauração estrangeiras, e também da carência de apoio financeiro.

Foi o organizador da Cinemateca, Carlos Augusto Machado Calil, que viajou para o exterior, a fim de dominar as técnicas e trazê-las para o Brasil. Quando voltou, nos conscientizou sobre a importância da preservação, conservação e restauração de filmes.

No Brasil, há hoje etapas de restauração não utilizadas em outros países. Devido ao nosso clima, a deterioração dos filmes acontece de maneira mais agressiva, tornando necessário empregar outras maneiras de recuperação dos materiais.

Toshi Segal, restaurador do Laboratório, diz que não é que temos mais recursos, uma vez que, quando é lançada alguma novidade no campo da restauração, o mundo todo pode obtê-la. O que muda é a forma como o profissional utiliza as técnicas disponíveis.


“A diferença está na maleabilidade da utilização das ferramentas aqui. Conseguimos usá-las com criatividade para resolver os problemas dos filmes que desejamos recuperar”, completa Segal.



As duas primeiras produções restauradas pelo Laboratório foram Rio 40 Graus, dirigido por Nelson Pereira dos Santos, em 1955, e Agulha no Palheiro, de Alex Viany, feito em 1953 – ambos fazem parte do Cinema Novo, importante período da sétima arte.


Grande Otelo em Macunaíma

De imagem em imagem
As etapas do procedimento são muitas e dependem do estado de conservação dos filmes. Uns precisam de reparos manuais nos negativos e outros necessitam de tratamentos fotoquímicos, para só depois serem digitalizados e restaurados no computador.

É importante mencionar que é necessário respeitar a obra original e não corrigir elementos que façam parte das características – como a luz, por exemplo – da maneira de filmar da época em que o filme foi produzido.

Os problemas mais comuns são a presença de sujeiras, riscos e a instabilidade da imagem. “Na parte de restauro digital, existem vários softwares para tentar resolver esses problemas do material original”, comenta o restaurador.

Os profissionais trabalham com um programa de computador que 
classifica  as  etapas  do  restauro  como  fácil,  médio,    difícil ou 
dificílimo.

“Neste último, provavelmente muita coisa vai ter que ficar no original, pois não existe uma ferramenta específica para resolver”, diz Segal.

Um exemplo de procedimento dificílimo é quando estão faltando frames, ou seja, pedaços do filme no rolo. A imagem fica sem uma parte importante, que não pode ser refeita, e então não há como recuperar aquele trecho específico.

Segundo Stock, o primeiro projeto realizado pela Cinemateca que envolveu todas as etapas foi o da obra de Joaquim Pedro de Andrade. Começaram com Macunaíma (1969), e o projeto tem o apoio da Petrobrás.

Cena de Limite

Depois, os filmes de Glauber Rocha foram recuperados, resultando numa caixa de DVDs do cineasta. Limite, dirigido Mário Peixoto, em 1931, é outro exemplo de produção recuperada pela Cinemateca.

“Todo filme precisa ser restaurado, mas como não temos recurso e mão de obra, precisamos eleger as prioridades a partir de determinados critérios, como importância histórica, interesse geral etc.”, esclarece Stock.

Não há um curso específico para formar restauradores, no Brasil. Geralmente, as pessoas da própria Cinemateca aprendem na prática e vão passando esse conhecimento de maneira informal para os novos profissionais que chegam.

Os filmes podem sim ficar para sempre nos DVDs e fitas cassete, sobrevivendo à ação do tempo. Então, continuam sendo transmitidos nas telinhas e telonas, e guardados por hoje, amanhã e também depois.

Pena que a Cinemateca Brasileira está em crise e a restauração dos filmes de seu acervo ficou comprometida, mas isso é assunto para a próxima postagem.

Fonte de consulta:
http://www.saraivaconteudo.com.br/Materias/Post/44375


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