segunda-feira, 5 de agosto de 2013

CABRA MARCADO PARA MORRER



Direção:Eduardo Coutinho. Com: Elizabeth Teixeira. Documentário. 119 min.



Em 1964, o movimento latifundiário estava dando os primeiros passos no Brasil, quando o diretor Eduardo Coutinho (Jogo de cena) decidiu contar a história de Elizabeth Teixeira, viúva do camponês João Pedro Teixeira que foi assassinado por dois policiais da ordem dos latifundiários do nordeste em 1962.



Os personagens seriam interpretados pelos próprios camponeses, incluindo Elizabeth, seus 11 filhos e João Mariano que interpretava João Pedro. Em 31 de março de 1964, depois de 35 dias de filmagem em Sapé (PB), local em que os fatos ocorreram, a produção teve que ser interrompida, com apenas 40% do roteiro filmado devido ao golpe militar de 64. Parte do material foi recolhido, só sobrando oito fotografias de cena e o que já tinha sido enviado para revelação.

Dezessete anos depois, em 1981, com a abertura política, Coutinho resolveu retomar as filmagens e sair em busca de Elizabeth e de seus filhos numa verdadeira odisseia.

Elizabeth fugiu da Paraíba para São Rafael no Rio Grande do Norte, com medo de ser também assassinada, passou a ser conhecida como Marta e deixou seus filhos com seu pai e seus irmãos, alguns bem pequenos. É lá que Coutinho reencontra Elizabeth e exibe as cenas filmadas em 64 para o povo que assiste emocionado e relembra aquele tempo de sofrimento.


Manchetes de jornal da época são intercaladas com os depoimentos de Elizabeth sobre sua família e o assassinato do marido. Um a um os personagens vão aparecendo e revelando o que fizeram nos quase vinte anos que separam o início da produção com 1981.

Elizabeth é humilde e comunicativa e é fácil se solidarizar com sua luta e seu sofrimento, a dor da perda do marido e a separação dos filhos. A quem não conhece a história, o título "Cabra marcado para morrer" passa a impressão de ser um simples filme de cangaceiros, como tantos que foram feitos nos anos 50 e 60, mas é um filme que se assiste com grande interesse e revolta por essa fase nebulosa pela qual passou o Brasil, chamada ditadura militar. É a História do Brasil na veia, mesmo que em alguns momentos não seja tão agradável acompanhar ou relembrar.

Se tivesse sido concluído em 1964 como ficção, como era o plano de Coutinho, talvez não tivesse sido um registro cinematográfico tão importante quanto se vê neste documentário de quase duas horas de duração, mas que em nenhum momento é chato ou cansativo. Imprescindível!


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