Direção: Pedro Almodóvar. Com: Penélope Cruz, Lluís Hormar, Blanca Portillo, José Luis Gomes e Rossy de Palma. Espanha, 2009, 127 min.
“É preciso terminar os filmes, mesmo que às cegas”. Essa é a última frase dita em “Abraços Partidos”, quando o diretor Mateo Blanco (Lluís Homar) consegue finalmente terminar seu filme e editá-lo da maneira que queria, já que antes ele tinha sido editado à sua revelia. E isso acontece muito no cinema atual, principalmente no americano em que os produtores muitas vezes discordam do diretor e resolvem se meter, achando serem capazes de salvar determinado filme ou pelo menos fazê-lo render mais. Porém isso já acontece há mitos anos. Tinto Brass retirou seu nome dos créditos depois que o produtor de “Calígula” resolveu inserir cenas de sexo explícito no filme, ou o caso de Orson Wells que não pôde editar o filme “Soberba” depois de desentendimentos com a produção e de estourar o orçamento. No Brasil não é diferente, muitas vezes os filmes não são concluídos porque a verba acaba antes mesmo do final das filmagens ou na fase de pós-produção. Estima-se que há mais de 200 filmes nacionais nessa categoria, sendo os mais famosos: “It’s all true” (1942) de Orson Wells que tinha patrocínio americano e foi cancelado depois que um jangadeiro morreu afogado nas filmagens e de o governo brasileiro não estar gostando muito da suposta divulgação do país. Outro caso famoso é o do filme “Onde a terra acaba” que seria o 2º filme de Mário Peixoto, diretor do clássico “Limite”, cancelado depois dos desentendimentos entre o diretor e a produtora Carmem Santos. Em 2001, Sérgio Machado dirigiu um documentário sobre as filmagens e aproveitou as poucas cenas filmadas por Mário.
Mas “Abraços partidos”, o 20º filme de Pedro Almodóvar não é só sobre isso, é também sobre o amor infinito que surge entre o diretor e a protagonista de seu filme Lena (Penélope Cruz), que era secretária e amante de um empresário, mas tinha o sonho de ser atriz, sonho esse realizado por ele, que com ciúmes coloca seu filho para produzir o suposto making-off do filme e assim descobrir a traição. Um acidente muda o rumo das coisas e traz revelações do passado, 14 anos depois do fim das filmagens.
Toda a crítica ficou fazendo comparações entre este e “Volver” que foi o filme anterior de Almodóvar. Realmente aquele era melhor, bem como “Tudo sobre minha mãe”, que considero o melhor filme dele, mas “Abraços Partidos” também tem muitas qualidades, começando por Penélope Cruz no 4º filme do diretor e exercendo sua função de musa, esplendorosa em todas as cenas, inclusive com uma peruca branca. E também por falar de amor em várias de suas formas: o amor pelo cinema e pelo trabalho e o amor carnal que demonstra ser essencial para que as outras coisas também “andem” bem.
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