sábado, 30 de julho de 2011

MÁRIO QUINTANA


Se estivesse vivo, Mário Quintana completaria hoje 105 anos. Gosto muito de seus poemas, que leio desde a adolescência e o “conheci” através do livro Baú de espantos (1986), mas ele já tinha lançado vários outros: A rua dos cataventos (1940), Canções (1946), Sapato florido (1948), O aprendiz de feiticeiro (1950), Espelho mágico (1951), Poesias (1962), Caderno H (1973, Rei de pilão (1975), Quintanares (1976), Apontamentos de história sobrenatural (1976), A vaca e o hipogrifo (1977), Prosa e verso (1978).


PARECE UM SONHO...
Mário Quintana


“Parece um sonho que ela tenha morrido!”
diziam todos... Sua viva imagem
tinha carne!... E ouvia-se na aragem,
passar o frêmito do teu vestido...

E era como se ela houvesse partido
E logo fosse regressar da viagem...
- até que em nosso coração dorido
a Dor cravava seu punhal selvagem!

Mas tua imagem, nosso amor, é agora
Menos dos olhos, mais do coração
Nossa saudade te sorri: não chora...
Mais perto estás de Deus, como um anjo querido
E ao relembrar-te a gente diz, então
Parece um sonho que ela tenha vivido.

(1953)

4 comentários:

  1. Mário Quintana é um doce e sua poesia simples toca fundo.

    O Falcão Maltês

    ResponderExcluir
  2. Meu segundo poeta brasileiro preferido. Adorei, Gilberto. Te deixo um poema dele, que é o que mais gosto:


    E quando se aproximou a hora,
    o Anjo da Encarnação perguntou-lhe:
    - Que queres ser na face da Terra?
    - Um polígono regular estrelado.
    - O quê?!
    - Um polígono regular estrelado - repetiu a alma do nascituro.
    - Mais um... - pensou o Anjo. Mas, como os anjos e os poetas são os únicos que não riem dos loucos, limitou-se a objetar.
    - E por que não um poliedro? Vais viver num mundo de três dimensões e bem sabes que um polígono apenas tem duas. Lá só existirias na face do papel... e não propriamente na face da Terra.
    - Por isso mesmo.
    - O Anjo desta vez não compreendeu bem e retirou-se, dando de asas.
    E foi assim que, quando chegou a hora, veio ao mundo mais um louco.
    E um louco "simétrico"!
    Chamou-se entre os homens, Edgar Allan Poe.

    ResponderExcluir
  3. Belo poema, Ligeia. Gosto de tudo que o Mário Quintana escreveu.

    Acho que também sou um polígono regular estrelado...

    ResponderExcluir