domingo, 28 de junho de 2009

JOHNNY VAI Á GUERRA (EUA, 1971)

“Existe alguém que está contando com você
Pra lutar em seu lugar
Já que nessa guerra não é ele que vai morrer.”
Renato Russo

Direção: Dalton Trumbo. Com: Timothy Bottons, Donald Sutherland e Jason Robards. 106 min.

Johnny vai à guerra foi o único filme dirigido por Dalton Trumbo, que foi perseguido pelo MacCarthismo e fez roteiros para vários filmes com pseudônimo. Este também tem roteiro seu a partir de um romance de sua autoria. Joe (Timothy Bottons) tem uma namorada, com quem tem a primeira noite de amor antes de ser enviado à 1ª guerra mundial. Já no front é ferido em uma explosão e tem que ser internado em um hospital militar, quando se dá conta que a explosão fez com que ele perdesse os braços, as pernas e o rosto (boca, nariz, olhos, ouvidos), não pode ouvir, não pode falar, escrever ou gesticular e mesmo assim quer e precisa se comunicar com os outros, pois seu cérebro continua funcionando perfeitamente, apesar dos médicos duvidarem. Mas como se comunicar?

As cenas no quarto do hospital são em preto e branco, para dar um ar mais desolador e sem esperanças, já as lembranças e delírios (sonhos) são coloridas. Joe relembra o amor por sua namorada, sua mãe, os amigos, um passeio com o pai e a estima que este tinha por uma vara de pescar e pela guerra, pois achava que morrer pela pátria era enobrecedor para qualquer pessoa, o que talvez tenha influenciado o filho a lutar na guerra.

Johnny vai à guerra é um filme difícil e triste, pelo tema e também pela falta de perspectivas, pois o espectador desde o início tem a impressão de que aquela história não vai terminar bem, mas não como negar sua originalidade na forma como Trumbo escolheu para denunciar o absurdo de todas as guerras e a falta de sentido em se lutar com outras pessoas sem nem saber o porque. Os soldados morrem ou ficam deformados enquanto a “pátria” e os políticos enriquecem. Um letreiro ao final mostra que desde 1914 (até 1971) já morreram 80 milhões de pessoas nas guerras, enquanto outros 150 milhões foram feridos ou desapareceram.

Há um alento de esperança quando chega ao hospital uma enfermeira que consegue gostar de Joe e a compreendê-lo. A comunicação parece possível quando ela “escreve” com os dedos em seu peito e ele começa a se comunicar por código morse. Mas nem tudo é tão simples. A questão não é só entender e sim compreender e ajudar a superar os traumas.

Trumbo não fez com esse filme apenas um manifesto contra a guerra, fez também uma parábola sobre a incomunicabilidade do ser humano. As pessoas estão tão próximas umas das outras, mas não conseguem se entender, não querem ouvir o que o outro tem a dizer e quando ouvem não podem ajudar ou não querem. Em um diálogo, Joe desabafa: “Se eu tivesse braços, me mataria, se eu tivesse pernas, fugiria; se eu pudesse falar eu gritaria para as pessoas, mas elas não me ouviriam, nem Deus ouviria, pois Ele não existe mais.” (7,5)

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