segunda-feira, 31 de maio de 2010

DENNIS HOPPER (1936 - 2010)

Morreu na manhã do sábado passado, de complicações decorrentes do câncer de próstata, o ator e diretor Dennis Hopper que tinha completado 74 anos no dia 17/05.

Nasceu em Dodge City (Kansas) e além de diretor e ator, era também fotógrafo, pintor e escultor. Sempre foi um rebelde e estreou no cinema em “Juventude Transviada” (1955), e era o último remanescente do elenco principal desse filme (James Dean, Natalie Wood e Sal Mineo tiveram mortes trágicas).

Devido a sua rebeldia, foi colocado à margem das grandes produções. Entre 1955 e 1969 participou de 20 filmes, mas os únicos importantes foram “Assim caminha a humanidade” (1956) e “Sem lei e sem alma” (1956), até 1969 quando estreou como diretor e estrelou ao lado de Peter Fonda e Jack Nicholson, o cullt movie por excelência, “Sem destino” (1969). Depois desse, dirigiu vários outros, mas nenhum significativo.

Como ator participou ainda de “O amigo americano” (1977), “Apocalipse Now” (1979), “O massacre da serra elétrica” (1986), “Veludo azul” (1986), “Momentos decisivos” (1986) que lhe rendeu uma indicação ao Oscar de melhor ator coadjuvante e Velocidade máxima (1993) e Waterworld – O segredo das águas (1994).

O envolvimento com as drogas o deixou relegado às produções de segunda categoria, pois foi internado várias vezes para reabilitação.

Em março desse ano, ganhou uma estrela na calçada da fama, já bem abatido pela doença que tinha se manifestado no ano passado durante as filmagens de um seriado. A doença acabou aplacando a fúria desse rebelde (sem causa).

sábado, 29 de maio de 2010

O FUTURO PODE ESPERAR


Maria conversa com sua filha, Joana, sobre seu futuro.
_ Joana, você já tem 16 anos e já é hora de começar a pensar no seu futuro. Você já sabe o que vai ser quando se formar?
_ Ainda é cedo para pensar.
_ Na minha opinião, você deveria aprender as coisas de casa, para ser uma ótima dona-de-casa.
_ Não mãe, isso não. Eu não quero ser campeão em pilotagem de fogão.
_ Eu sou. Por que você não pode ser também?
_ Eu nem sei se vou me casar.
_ Mas é claro que vai. Você não tem vontade de ter filhos?
_ Filhos? Deus me livre. Aquele bando de pirralhos atrás de mim, gritando: “Mãe eu tô com fome!”, “Mãe eu quero isso”, “Mãe eu quero aquilo”.
_ Eu passei por tudo isso e não me arrependo.
_ Vou estudar o máximo que puder e depois quando tiver com uns 30 anos eu vou morar com alguém.
_ Não aceito uma filha minha, morando com alguém sem casar na igreja. Isso é pecado.
_ Ah, mãe! Corta essa. Não quero ser como a senhora. Vivendo apenas para a família. Esfregando o umbigo no tanque, pilotando fogão, fazendo a gororoba.
_ Minha comida não é gororoba.
Nesse momento os amigos de Joana a chamam da rua:
_ Mãe, a turma tá me esperando pra gente dar um role por aí.
_ Você não vai, nós estamos conversando.
_ O futuro pode esperar, mas meus amigos não!
Joana nem ligou para as palavras de sua mãe e saiu com seus amigos. Fez como todo jovem, deixou o que podia fazer hoje para amanhã.

Gilberto Carlos

quinta-feira, 27 de maio de 2010

SONATA DE OUTONO


Direção: Ingmar Bergman. Com: Ingrid Bergman, Liv Ullman, Lena Nyman, Gunnar Björnstrand e Linn Ullman. Drama, 92 min.


Ingmar Bergman arquitetou com “Sonata de Outono” um profundo estudo sobre as delicadas relações familiares, o que, aliás, ele sempre fez em seus filmes, mas na maioria das vezes entre casais com problemas matrimonias e aqui entre mãe e filha.

Charlote, uma pianista famosa (Ingrid Bergman, que apesar do sobrenome não era parente do diretor) visita a filha tímida e deprimida, Eva, (Liv Ullman) no interior da Noruega. Esse encontro provoca uma erupção de rancores, remorsos e cobranças do passado.

As duas atrizes estão em cena o tempo inteiro e duelam num show de interpretação trocando acusações, inclusive em relação a uma outra filha que tem uma doença mental incurável, Helena (Lena Nyman), que teria sido provocada por Charlote. Eva agora cuida de Helena, que antes estava internada em um asilo.

A mãe demonstra uma frieza impressionante em relação às filhas, parece ter nojo de Helena e se pergunta porque ela não morre logo e não se mostra tão diferente em relação à Eva. Toda a sua vida sempre esteve focada em sua carreira de pianista e a família ficava em último plano.

Chega a ser doloroso acompanhar essa reflexão familiar, mas não se consegue nem piscar os olhos durante esse filme brilhante, o que era comum na obra de Bergman.

terça-feira, 25 de maio de 2010

FESTIVAL DE CANNES 2010


Terminou no domingo a 63ª edição do Festival de Cannes, um dos festivais mais respeitados do mundo. 'Uncle Boonmee Who Can Recall His Past Lives' foi o filme vencedor da Palma de Ouro. Dirigido por Apichatpong Weerasethakul, 'Uncle' é o 1º filme tailandês a receber o prêmio. O grande prêmio de Cannes foi para 'Of Gods and Men', de Xavier Beauvois, e Mathieu Amalric recebeu o título de Melhor Diretor por 'On Tour'. Juliette Binoche foi eleita a Melhor Atriz por 'Certified Copy', e Javier Bardem ('Biutiful') e Elio Germano ('Our Life') dividiram o prêmio de Melhor Ator.

Nesse ano o Brasil não concorreu com nenhum longa metragem na competição oficial. Na mostra dos realizadores – sessão paralela ao festival - foi exibido no dia 20 o longa “Alegria” de Felipe Bragança e Marina Meliande (ambos de 29 anos) que é de baixo orçamento e foi feito com R$ 750.000.

Concorreu ao prêmio de curta metragem, o brasileiro “Estação” de Márcia Faria, da família de Reginaldo e Roberto Faria. A trama é sobre uma jovem que se instala no Terminal Rodoviário do Tietê em São Paulo, na busca de chances na cidade grande, vai passando o tempo e conhecendo personagens que passam por ali. Infelizmente esse filme também não ganhou o prêmio, que foi para "Un Chienne d'Histoire", de Serge Avedikian.
Foi exibido na estreia da sessão Cannes Classics, em cópia remasterizada a co-produção Brasil/EUA, “O beijo da mulher aranha” de Hector Babenco, exibido no Festival em 1986. Estiveram presentes no Festival além do diretor, a estrela Sonia Braga e o produtor David Weisman. A distribuidora Carlotta Films exibirá o filme na França durante o outono no Hemisfério Norte.

domingo, 23 de maio de 2010

4000 FILMES ASSISTIDOS


Completei hoje 4000 filmes assistidos e anotados. O quarto milésimo foi “Simplesmente Complicado”, o último filme de Meryl Streep que eu adoro.

Comecei a anotar os filmes que assistia em 1995 em folhas avulsas, depois passei para cadernos específicos onde anotava além do nome, o elenco e o diretor. Não me lembro muito bem qual foi o 1º filme que assisti, pois quando comecei a anotá-los, já tinha visto muitos e anotei alguns por atacado. Só me lembro que a Sessão da Tarde reinava absoluta nesse início.

Tinha muita dificuldade para encontrar o nome de algum filme e conferir se tinha assistido ou não, pois demorava muito até que eu vistoriasse todas as folhas dos cadernos, então resolvi digitar os nomes dos filmes. Nessa hora o Ctrl + l é muito prático para fazer pesquisas rápidas no Word. Foi também nessa época que comecei a dar notas para cada filme, variando entre valor numérico (0 a 10) e estrelas (*****).

O milésimo filme foi “Love Story – Uma história de amor” baseado no livro de Erich Seagal que eu tinha lido no Ensino Médio e adorado. O segundo milésimo foi “Quase Famosos” de Cameron Crowe e o terceiro milésimo, “Uma noite quente de paixão”, que apesar do nome, não é um filme pornô.

Não sei se me inspirei em alguém. Quem sabe? O crítico Rubens Ewald Filho também anota os filmes e já viu mais de 31.000, só que ele vive disso. Tem uma comunidade no Orkut de pessoas que também fazem isso. Talvez não seja muito normal anotar os filmes assistidos, mas de perto ninguém é normal mesmo.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

MOSTRA INGMAR BERGMAN

O Cine Goiânia Ouro prossegue até o dia 30/05 com a Mostra Ingmar Bergman - O cinema transcendental
Horários: 12h30, 15 e 20h
Ingresso: 1 real
Local: Cine Goiânia Ouro
Rua 3, esq. com rua 9, Centro

Programação:

Dia 21/05 - Morangos Silvestres
Horários: 12h30 , 15h e 20h


Dia 22/05 - Monika e o Desejo
Horários: 12h30 e 20h

Dia 23/05 - O Silêncio
Horários: 12h30 e 15h


Dia 24/05 - Gritos e Sussurros
Horários: 12h30 , 15h e 20h


Dia 25/05 - Noites de Circo
Horários: 12h30 , 15h e 20h

Dia 26/05 - Depois do Ensaio
Horários: 12h30 , 15h e 20h


Dia 27/05 - O Sétimo Selo
Horários: 12h30 , 15h e 20h


Dia 28/05 - Da Vida das Marionetes
Horários: 12h30 , 15h e 20h

Dia 29/05 - Persona
Horários: 12h30 , 15h e 20h

Dia 30/05 - Morangos Silvestres
Horários: 12h30 , 15h e 20h


Imperdível!

quinta-feira, 20 de maio de 2010

DA VIDA DAS MARIONETES



Assisti a “Gritos e Sussurros” há algum tempo e não gostei muito. Acredito que naquela época ainda não estava preparado para apreciar os filmes de Ingmar Bergman, que tem um estilo todo pessoal de dirigir.

Depois de um tempo, passei a ver todos os que eu consegui encontrar, começando com a trilogia do Silêncio de Deus: “Através de um espelho” (que é excelente, sobre uma família em uma ilha sofrendo com uma filha que tem uma doença mental incurável), “Luz de inverno” (bom, sobre um padre que já não tem mais fé) e “O Silêncio” (o pior dessa trilogia, sobre duas irmãs hospedadas em um hotel com o filho de uma delas e os problemas de saúde da outra. Não tem muito sentido). Em seguida “A fonte da donzela” que eu tinha vontade de assistir a um bom tempo e realmente é muito bom, sobre ladrões que matam uma moça e depois vão pedir abrigo na casa dos pais dela. “Persona – Quando duas mulheres pecam” (Excelente o embate de duas mulheres, a paciente e a enfermeira em uma ilha, onde uma vai tomando a personalidade da outra). “O Sétimo Selo” (Não sei se o problema foi meu, mas não gostei muito desse filme que é considerado pelos críticos um dos melhores do diretor. Tem a cena clássica do jogo de xadrez com a morte). “Morangos silvestres” (Esse muito bom, sobre um professor aposentado que viaja para receber homenagens e vai relembrando o passado, as coisas que perdeu e os erros que cometeu). “A hora do lobo” (Também não gostei. Não tem muito sentido).

O Cine Goiânia Ouro está fazendo uma retrospectiva com vários dos filmes de Bergman. Anteontem assisti a “Da vida das marionetes”, um filme muito bom, sobre um homem que assassina uma prostituta e depois faz sexo anal com ela, logo na primeira cena, que é em cores, ao contrário do restante do filme. De início logo imaginamos uma pessoa perturbada, por ter a capacidade de um ato de tamanha perversidade. Mas não é bem assim. No decorrer da trama, ouvimos os depoimentos das pessoas que estavam envolvidas com ele: sua mulher, seu terapeuta, a mãe, um amigo homossexual, além de cenas do convívio dele com a esposa, a vontade de matá-la, a insônia e a depressão. Esses depoimentos revelam que ele era uma pessoa normal e o assassinato foi provocado por um choque emocional desvendado no epílogo.

Ingmar Bergman estava em depressão quando fez “Da vida das marionetes”, além de estar exilado na Alemanha, daí o filme ser falado em alemão e com atores daquele país. Não é uma história fácil, tem um tema pesado e idas e vindas no tempo. São mostradas cenas anteriores ao assassinato e depois posteriores para que o espectador junte os pedaços dessa desfragmentação humana. Mas de qualquer forma é sempre um prazer assistir as películas desse grande diretor. Quero ver todos os outros filmes dele.

terça-feira, 18 de maio de 2010

UM QUARTO FINAL PARA O FILME "CORRA, LOLA CORRA"



O filme “Corra, Lola, Corra” oferece à personagem central a chance que todos nós gostaríamos de ter: voltar no tempo e fazer as coisas diferentes até se chegar ao final feliz.

Na primeira chance, Lola logo pensa em seu pai para ajudá-la e vai até a empresa dele. Chegando lá o pega em flagrante com a sua amante. Ele diz que vai se separar, que não é seu pai e a expulsa. Quando o relógio marca meio dia e Lola não chega com o dinheiro, Manni resolve assaltar um supermercado. Lola chega para ajudá-lo, mas a polícia os cerca e atira nela, que relembra o amor que sente por Manni, então faz tudo de novo a fim de resolver o problema e evitar sua morte.

Da segunda vez não é muito diferente: Lola vai novamente à procura do pai, que está gritando com a amante. Lola diz que precisa de 100 mil marcos e ameaça o pai e um de seus funcionários com uma arma até conseguir o que quer. Depois sai correndo até Manni, mas este é atropelado por um carro do corpo de bombeiros e fica estendido no chão à beira da morte. Nas lembranças em vermelho berrante Manni pergunta o que Lola faria se ele morresse. Ela retruca que ele não morreu ainda e faz tudo de novo para evitar a sua morte.

Na terceira chance quase tudo dá certo, Manni recupera o dinheiro que foi roubado pelo mendigo e o devolve o seu chefe, enquanto Lola ganha uma bolada no cassino. Os dois se abraçam e podem enfim descansar. O único inconveniente é com seu pai que sofre um acidente de carro, mas ela nem se dá conta disso até que o filme termine. Quem dera pudéssemos ser como Lola: voltar no tempo e consertar nossos erros até que tudo desse certo e pudéssemos ser completamente felizes.

Mas como seria se o filme Corra, Lola Corra tivesse um quarto final? Pensando nisso elaborei um pequeno roteiro de como eu acho que poderia ser essa parte final do filme.

QUARTO FINAL
Lola sai correndo de casa, sua mãe lhe pede para comprar xampu no supermercado.
_ Hoje não, tô com pressa!
Já em forma de desenho animado Lola desce as escadas correndo, quando encontra com o menino de aparelhos nos dentes e seu cachorro. Lola pisa no rabo do cão e este morde o garoto. Enquanto ela sai correndo pela rua já como Franka Potente.
Lola vai à procura de seu pai e o encontra o guarda na portaria.
_ Quero ver meu pai!
_ Ele disse que não queria ser incomodado.
_ Eu vou entrar de qualquer jeito. – Diz ela enquanto dá um chute na canela dela e vai até a sala do pai.
Abre a porta de repente e vê seu pai beijando outra mulher que não a sua.
_ O que significa isso? – pergunta Lola.
_ Eu posso explicar...
_ Não precisa explicar eu já entendi!
_ O que você veio fazer aqui?
A amante sai da sala.
_ Preciso de sua ajuda. Manni está encrencado.
_ Quem é Manni?
_ Meu namorado há um ano.
_ Nem sabia que você tinha namorado.
_ Claro que não sabia. Você nunca se preocupou comigo, nem com a mamãe. Vamos parar com essa conversa fiada. Eu preciso de 100 mil marcos.
_ Impossível. É muito dinheiro.
_ Se você não me der eu conto pra mamãe que você tem uma amante...
_ Você não pode fazer isso comigo.
_ Você é que não pode fazer isso com a mamãe. Me dá a grana logo! Eu só tenho 10 minutos.
_ Mas eu gosto da sua mãe.
_ Se gosta então porque tem uma amante?
_ Sua mãe é frígida, mas eu não tenho coragem de abandona-la.
_ Me dá a grana.
Seu pai a leva até o cofre, pega o dinheiro e retruca:
_ Eu vou te dar o dinheiro, mas esse segredo não sai dessa sala.
_ Claro que não! Me dá logo, velho!
Lola sai correndo ao encontro de Manni. Só faltam 3 minutos para o meio dia.
O chefe de Manni está com uma arma em sua cabeça e olha para o relógio da catedral.
Lola corre.
_ Manni, espera!
Quando o relógio marca meio dia, Lola chega com o dinheiro e entrega ao chefe de Manni.
_ Salvo pelo gongo!
Lola e Manni se abraçam.
_ Espera! Eu tenho que fazer uma coisa. – Diz Lola enquanto pega o celular e liga para sua mãe:
_ Mamãe, o papai tem uma amante!

FIM

domingo, 16 de maio de 2010

CARMEN MIRANDA


A mais brasileira de todas as estrangeiras com certeza foi Carmen Miranda, que ao contrário do que muitos pensam não era brasileira e sim portuguesa. Nasceu Maria do Carmo Miranda da Cunha em 09 de fevereiro de 1909, mas mudou-se para o Brasil com um ano de idade. Estudou num colégio de freiras, porém teve que abandonar os estudos para trabalhar, pois a família passava por necessidades.

Começou a carreira artística como cantora em 1930 quando lançou seu primeiro disco, “Não vá embora”, mas o sucesso aconteceu com a música “Pra você gostar de mim”, que ficou mais conhecida como “Taí”. A partir daí tornou-se uma das figuras mais conhecidas de nossa música na década de 30, pois além de cantar, ainda dançava, rebolava e fazia trejeitos espalhafatosos, porém sensuais. Foi também em 1930 que estreou no cinema com o filme “Degraus da vida” que ficou inacabado. A estreia vista pelo público foi no desconhecido “Carnaval cantado de 1932”, mas o sucesso aconteceu com os filmes carnavalescos: “A voz do carnaval” (1932); “Alô Alô Brasil” (1935); “Alô Alô Carnaval” (1936); “Banana da Terra” (1938) e “Laranja da China” (1940).

Depois de oito filmes no Brasil, mudou-se para os Estados Unidos onde fez shows e vários filmes, sendo o primeiro deles, “Serenata Tropical” (1940), seguido de “Minha secretária brasileira” (1942), “Copacabana” (1947) e “Morrendo de medo” (1953), seu último filme.

Enquanto estava morando nos Estados Unidos, visitou o Brasil mas não foi bem recebida, pois seus fãs não concordavam com a mudança e diziam que ela tinha voltado americanizada, o que ela até chegou a cantar em uma de suas músicas. Esse fato deixou-a com depressão e dependente de medicamentos, o que talvez tenha acelerado sua morte em 05 de agosto de 1955 de um fulminante ataque cardíaco durante uma apresentação num programa da TV americana.

 
 

Tornou-se um ícone brasileiro ao redor do mundo, sendo homenageada e imitada até os dias de hoje. Quem quer conhecer mais sobre sua vida e carreira não pode perder o ótimo documentário “Carmen Miranda – Bananas is my business” (1994) de Helena Solberg.

 
 
 
 
 
 

sexta-feira, 14 de maio de 2010

SONHO DE PEIXE


Sonhei que era um peixe
Só que não sabia nadar
Ficava o tempo inteiro na água
E tinha certeza que ali era o meu lugar
Mas nunca me afastava da margem
Nem ia para os lugares mais profundos
Pois tinha medo de me afogar
E esse medo era terrível e me consumia
Não adiantava nada me dizerem
[que eu havia nascido pr’aquilo
Eu tentava e não conseguia aprender
Todos pareciam ter tanta facilidade
E faziam acrobacias impressionantes
Enquanto eu sempre passeava pelos mesmos lugares
Sentindo-me incompleto e perdido
Devido a isso parei de tentar
Mesmo sabendo que as maiores alegrias me aguardavam
Eu não conseguia sentí-las
Morria um pouco por dia sem esperanças
Achava-me o pior de todos os peixes
E culpava os outros pelo que eu poderia ter sido
Sem saber que a culpa maior era minha
De ter medo do desconhecido.
Quando perdi esse medo, aprendi a nadar,
Conheci todos os lugares que eu antes temia
E pude experimentar uma alegria quase insuportável
De saber-me capaz de tudo o que eu quisesse.

(Mas tudo foi só um sonho... Ou será que não?)

quarta-feira, 12 de maio de 2010

A COR PÚRPURA - O FILME E O LIVRO (PARTE 2)


A primeira regra da adaptação cinematográfica é seguida em parte por Steven Spielberg. Foram mantidos no filme a ingenuidade de Cellie, sua fé, a luta dos negros do início do século passado em se manter num mundo preconceituoso; as tragédias, tristezas e revelações de uma família. Já os desejos lésbicos de Cellie são abrandados a tal ponto que no filme ficou quase esquecido em uma única e discreta cena.

No livro, Cellie se refere várias vezes ao amor que sente por Docí Avery, como quando ela deseja ir a seu show:

“Meu Deus, eu quero tanto ir. Num é pra dançar. Nem pra beber. Nem pra jogar baralho. Nem pra escutar Docí Avery cantar. Eu ficaria gradecida só de poder botar o olho nela.” (p. 36)

Ou em seguida quando Albert busca Docí, que está doente para cuidar dela. Cellie fica eufórica:

“Eu acho que meu coração vai vuar pra fora da minha boca quando eu vejo um pé dela aparecer.” (p. 57)

E quando finalmente as duas dormem juntas, Cellie reclama:

“Nunca ninguém gostou de mim, eu falei.
Ela falou, eu gosto de você, Dona Cellie. E aí ela virou e me beijou na boca.
Uhm, ela falou, como se tivesse ficado surpresa. Eu beijei ela de volta, falei, uhm, também. A gente beijou e beijou até que a gente num conseguia beijar mais. Aí a gente tocou uma na outra.
Eu num sei nada sobre isso, eu falei pra Docí.
Eu também num sei muita coisa, ela falou.
Aí eu senti uma coisa muito macia e molhada no meu peito, senti como a boca de um dos meu nenê perdido.
Um pouco depois, era eu que era também como um nenê perdido.” (p. 130)

No filme tudo ficou reduzido a uma troca de beijos (no rosto) entre as duas, carícias nas mãos e só.

Rubens Ewald Filho em seu livro “Dicionário de Cineastas” (2001, p. 679), fala sobre isso quando biografa Steven Spielberg. “Não tem para ele temas muito profundos. Pudico, não tem coragem de lidar com o homossexualismo (como provou em A cor púrpura, uma fita onde visivelmente ele seguiu um story-board que fez sem alma, porque não entende do problema do negro como demonstraria novamente naquele que é certamente seu pior filme como diretor, Amistad).”

A segunda regra da adaptação cinematográfica, também foi seguida em parte, já que Spielberg conseguiu captar grande parte do espírito do livro e de sua magia, que o havia tornado irresistível ao grande público leitor e o fez ganhar o prêmio Pulitzer. O filme tem cenas emocionantes e de grande dramaticidade.

A terceira regra não foi seguida. As mudanças feitas por Spielberg no abrandamento do lado lésbico de Cellie não foram exigência para que essa história funcionasse melhor como um filme e sim decisão de um diretor até então covarde, que tinha medo da reação do público conservador frente a esse tema tão espinhoso, ou que talvez quisesse ser melhor aceito pelos membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood (também conservadores), mas não adiantou muito, já que o filme não recebeu nenhuma estatueta.

As cartas de Celli não trazem muitas descrições de paisagens e lugares, ao passo que o filme tem uma belíssima fotografia bem colorida com os campos do interior dos Estados Unidos. As cartas de Nettie, irmã de Cellie, que vira missionária na África são bem mais detalhistas em relação a isso, mas essa parte foi quase cortada no processo de adaptação.

O filme bem como o livro exala música, já que além de Docí, que é cantora, Tampinha, a segunda mulher de Harpo também tem esse sonho. A trilha sonora do filme foi composta por Quincy Jones e a canção “Miss Cellies Blues”, ficou muito famosa, mas nem foi indicada ao Oscar.

A hoje milionária apresentadora Oprah Winfrey também estreou no cinema em A cor púrpura, onde vive a sofrida Sofia, mulher de Harpo, filho do marido de Cellie, que não aceita obedecê-lo e o abandona, briga com o prefeito, fica presa por vários anos e depois sai para trabalhar como mucama da primeira dama.

É muito interessante a experiência de ler o livro e logo em seguida ver o filme (ou vice-versa), pois todos os detalhes ainda estão vivos em nossa lembrança e é possível avaliar se o diretor foi fiel ao espírito do livro e quais mudanças foram necessárias para a transposição de um suporte a outro.

Vários autores concordam que nem sempre a adaptação mais fiel é a melhor e isso é verdade. Steven Spielberg foi fiel em quase todos os pontos relevantes do livro, com exceção do lesbianismo e mesmo assim o seu filme não é tão bom quanto poderia ser. O livro é melhor (sem preconceitos de achar que a literatura é uma arte superior), mais emocionante, mais detalhista, mais humano, mas mesmo assim o filme merece ser visto.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

A COR PÚRPURA - O FILME E O LIVRO


Em 1982, a escritora americana Alice Walker lançou o romance autobiográfico, “A cor púrpura”, ganhador do prêmio Pulitzer. Romance esse lançado no Brasil em 1986, pela Editora Marco Zero depois do sucesso do filme homônimo de Steven Spielberg de 1985. A capa do livro inclusive traz um esboço de Whoopi Goldberg (protagonista do filme) sentada em uma cadeira de balanço enquanto lê uma carta.

Steven Spielberg nunca tinha sido levado muito a sério até então, pois a crítica o achava meio infantilóide e capaz de dirigir filmes apenas escapistas, como “Tubarão” (1975), “Os caçadores da arca perdida” (1981) e ET – O extraterrestre (1982), filmes esses de grande sucesso e queridos pelo público, mas faltava algo em sua carreira: o respeito da crítica. Então em 1985, ele produziu e dirigiu a adaptação cinematográfica do romance de Alice Walker. “A cor púrpura” (The color purple) é considerado seu primeiro filme adulto. Recebeu 11 indicações para o Oscar, mas estranhamente não levou nenhuma estatueta, nem para a bela interpretação de Whoopi Goldberg em sua estréia no cinema, em papel dramático, que é raro em sua carreira, que se notabilizou por papéis cômicos como a falsa freira de “Mudança de Hábito”, a babá de “Corina – Uma babá perfeita” e a médium picareta de “Ghost – Do outro lado da vida”, que finalmente lhe deu o Oscar, dessa vez como melhor atriz coadjuvante.

A cor púrpura conta a história de Cellie, uma mulher negra que escreve cartas para Deus contando sua vida: como foi estuprada pelo suposto pai e teve dois filhos dele; o sofrimento por viver três décadas afastada de sua irmão Nettie e de seus filhos; o casamento forçado com Albert, um homem violento; a submissão frente aos preconceitos da sociedade e o amor incondicional que sente pela cantora Docí Avery (que no filme virou Shug Avery).

O livro é narrado em primeira pessoa por Cellie, que quase não estudou e os termos e palavras usados por ela, são a transcrição de seu jeito humilde e interiorano de falar. Ela possui uma grande fé e escreve cartas para Deus. Quase todos os capítulos se iniciam com “Querido Deus”, com exceção daqueles em que Celli descobre as cartas de sua irmã que foram escondidas por seu marido, então cada capítulo passa a ser cada uma das cartas entre as duas irmãs.

A fé é um ponto marcante em “A cor púrpura”. Cellie precisa de Deus para superar suas tristezas e frustrações. O título do livro é explicado durante uma conversa entre Cellie e Docí Avery, que discutem a existência de Deus e sua forma. Docí retruca:

“Eu acho que Deus deve ficar fora de si se você passa pela cor púrpura num campo qualquer e nem repara.” (p. 217) e depois Cellie:

“Eu vivi tão ocupada pensando Nele queu na verdade nunca reparei nada do que Deus faz. Nem na espiga de milho (como será que Ele faz isso?) nem na cor púrpura (de onde será que ela vem?) nem nas florzinha silvestre. Nada. (p. 218)

No filme isso foi mantido ao menos na primeira parte, onde a voz em off de Cellie narra suas desventuras, com um texto bastante idêntico ao do livro.

Os personagens são dinâmicos, em especial, a protagonista, que no início é condescendente ao marido, faz tudo o que ele quer e até apanha calada, mas consegue se libertar com o tempo, falando o que pensa e até saindo de casa.

Apesar da metragem de 156 minutos, várias coisas foram reduzidas no processo de elisão da adaptação cinematográfica. A primeira metade transcorre com mais detalhes, já a segunda é mais apressada, desde quando Cellie descobre as cartas de sua irmã até a volta desta para casa. Como a história percorre mais de 30 anos na vida das personagens, é compreensível essas omissões. Mas mesmo assim, há o acréscimo do personagem do pai de Albert que não aparecia no livro.

Continua...

sexta-feira, 7 de maio de 2010

MAMÃE É DEMAIS

Mamãe e eu


Devido ao dia das mães, minha professora de Português pediu para nós escrevermos uma redação em homenagem a elas.

Peguei a caneta e o caderno e me sentei num lugar em calmo para que ninguém tirasse a minha concentração. Não adiantou. Fiquei horas e horas tentando e não consegui escrever nada que chegasse a seus pés, nada que tivesse tanto amor, carinho, dedicação, dignidade, compreensão, paciência e honestidade. Pois minha mãe é tudo isso e muito mais. Nem no livro mais extenso caberia todas as suas qualidades e seus atos de amor para comigo.

Admiro essa pessoa que levanta cedo todos os dias para cumprir suas repetitivas e cansativas tarefas domésticas, sem reclamar nunca. Se bem que de vez em quando ela reclama. E quem não reclamaria ao ver que seu trabalho não está sendo reconhecido?

Graças a Deus sou homem e não vou ser mãe, pois acho que não conseguiria ser como ela é: agüentar meu pai reclamando de tudo, arrumar a bagunça que eu faço pelo quarto, deixar a casa sempre em ordem e ainda arrumar um tempinho para assistir a novela na televisão. De tanto cansaço ela dorme no sofá e não vê quase nada. Não faz mal, no outro dia eu conto tudo o que aconteceu pra ela.

Ficou espanto ao lembrar de tantas coisas que ela abriu mão para que pudéssemos ter um momentinho de felicidade. Um dia ela deixou de assistir ao último capítulo de sua novela preferida para que papai e eu pudéssemos assistir a um jogo de futebol. Mamãe é mesmo demais! Deus quando esculpiu as mães, usou de seu melhor barro e se demorou dias e dias no acabamento do coração, para que elas pudessem ser perfeitas.

No ano passado eu li uma poesia na festa das mães do colégio. Ela ficou tão emocionada que se debulhou em lágrimas, eu como não podia vê-la chorando, abri um berreiro e só parei quando ela disse que estava chorando de felicidade.

Sei que essa redação não saiu muito boa, mãe, afinal eu tenho apenas 10 anos. Mas quando eu crescer vou escrever um livro lindo falando só de você e de ninguém mais. E a senhora pode ter a certeza que não existe no mundo filho mais amoroso que eu e quando eu faço alguma travessura, me dói o coração só de pensar o quanto a senhora vai sofrer.

Deus não devia ter dado lágrimas para as mães. Elas não deviam chorar nunca. Mas já que elas podem chorar, os filhos deveriam fazer o possível para não serem os causadores do seu descontentamento.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

O PORQUÊ DE TODAS AS COISAS


Toda criança tem a mania de perguntar o por quê de tudo. Por que o céu é azul? Por que o meu nome é esse e não aquele? Por que as coisas tem esses nomes e não outros? E tantas outras perguntas, quase todas sem respostas.

Mas não são só as crianças que buscam respostas. Depois que crescemos, continuamos querendo saber o porquê das coisas serem como são. A diferença é que em vez de perguntar aos pais, aos mais velhos ou aos professores, mudamos nossas fontes de consulta para os livros, a internet, a ciência e até a religião.
Quem nunca se perguntou qual o sentido da vida? Por que temos que morrer? Por que umas pessoas sofrem mais que as outras? Por que a maioria da população é pobre, enquanto a minoria é rica? Por que existem doenças incuráveis, sendo que a ciência está tão evoluída? E quando será encontrada a cura para essas doenças?

Com certeza a maioria das pessoas adultas tem esses e tantos outros questionamentos. Não sei se é o destino que determina nossos caminhos ou se tudo é escolhido por nós através do livre arbítrio. Alguns acreditam que o sofrimento é um castigo pelos castigos que cada um comete e outros que ele é conseqüência de vidas passadas, mas dizem que Deus não castiga e que talvez não há outras vidas. Mas então qual a explicação?

Sei que a fé é fundamental em nossas vidas e que a esperança é que nos move. Não tenho a resposta para nenhuma dessas perguntas, mas o meu consolo é que ninguém tem. Um dia todas as respostas surgem, mas apesar desse dia ser inevitável, ninguém quer que ele chegue.


Gilberto Carlos

segunda-feira, 3 de maio de 2010

LARISSA SABE TUDO


O marido estava em cima da hora de ir para o trabalho e não conseguia encontrar a bendita chave do carro. Desesperado, recorreu à mulher que estava entretida em seus afazeres domésticos.
_ Benhê! Você viu a chave do carro? – berrou ele da sala para a mulher que estava na cozinha.
Ela foi atendê-lo na sala, enxugando as mãos no avental.
_ Ontem a noite eu vi essa chave em cima do criado mudo do nosso quarto.
_ Também tenho certeza que botei essa chave lá, mas hoje eu vou procurar e cadê?
_ com a graça de Deus nós vamos encontrar. Você procurou no chão? Ela pode ter caído embaixo da cama.
_ Procurei em tudo que é lugar e nada.
_ Vou procurar de novo. Mulher tem um olho mais atento.
Ela revirou o quarto e nem sinal da chave.
_ São Longuinho, São Longuinho, se eu achar essa chave eu dou três pulinhos.
_ E aí, benhê, encontrou?
_ Ainda não. Mas eu vou achar logo, logo.
_ Por que cê tem essa certeza?
_ Já fiz promessa pra São Longuinho e ele nunca me deixa na mão.
_ Lá vem você com essas bobagens
_ Bobagem não. Só porque você é ateu convicto, não precisa abusar da minha fé.
_ Não tô abusando. Só acho que seus santos tem coisas muito mais importantes pra fazer do que procurar uma chave perdida.
_ Isso é o que você pensa.
Meia hora depois ainda estavam envolvidas nessa procura.
_ Por que você não vai pro trabalho de ônibus? – perguntou ela.
_ Nem pensar. Meus colegas já pegam muito no meu pé, se eu andar de ônibus, então...
_ Só hoje, até a gente encontrar essa chave.
_ Hipótese descartada.
_ Você já ouviu falar nos duendes, que escondem as coisas só pra matar a gente de raiva.
_ Lá vem você de novo com essas histórias. Nem a Larissa que tem 5 anos, acredita mais em duende. Mas sabe de quem é a culpa? Da televisão. No meu tempo não tinha televisão por isso eu fiquei acreditando em papai noel até os 15 anos. Quando descobri que ele não existia, chorei o dia inteiro.
_ É isso!
_ Isso o quê?
_ A solução do nosso problema é a Larissa.
_ Você acha que ela perdeu essa chave?
_ Não diria tanto, mas ela deve saber de alguma coisa.
A suspeita foi trazida para a sala e interrogada pelos dois.
_ Larissa, por acaso você não teria visto a chave do carro do papai? Ela é mais ou menos desse tamanho. – disse ele mostrando o tamanho da chave.
_ Não vi nada.
_ Você tem certeza? De vez em quando você ficava brincando com ela. Será que você não esqueceu em algum lugar?
_ Já falei que não, papai.
_ Larissa, isso não é brincadeira. O papai precisa ir trabalhar mas sem a chave não tem jeito.
_ Se o senhor quiser, pode ir com a minha bicicletinha, ela tem rodinha, não tem perigo de cair.
_ Eu to falando sério.
_ Eu também.
_ Se você tiver perdido, pode dizer que eu não vou raiar com você. Eu juro.
_ Quantas vezes vou ter que dizer? Parece criança que não ouve o que a gente fala. – respondeu ela com ar de superioridade.
_ Olha quem fala, nossa moça.
_ Posso não ser uma moça, mas não ficou nessa encheção.
_ Ah, não? E quando você quis passar as férias na casa de sua avó? Deu birra até nós deixarmos.
_ Só quando é do meu interesse.
_ Se você tivesse visto, ia ganhar um sorvete deste tamanho.
_ Não adianta fazer figuinha.
_ Tem certeza que não viu?
Larissa ficou calada.
_Papai é um mentiroso. – disse Larissa.
_ Por que mentiroso, filha?
_ Prometeu me levar no shopping hoje e agora quer ir trabalhar.
_ Não posso faltar com a minha obrigação na empresa.
_ E com a sua obrigação de pai, pode? Só porque eu sou criança fica me prometendo coisas impossíveis.
_ Desculpa filha, juro que não faço mais isso.
_ Quando eu for maior, quero morar sozinha, ser independente. E não acreditar mais na promessa de ninguém.
_ Chega, não precisa passar mais sabão em mim.
_ Quando eu tinha 3 anos prometeu me levar no programa da Xuxa, mesmo sabendo que isso era impossível.
_ Impossível por quê?
_ Por causa dos gastos e da distância.
_ Eu ainda te levo lá. Eu prometo.
_ Não prometa o que não pode cumprir.
O pai saiu cabisbaixo:
_ Não quer mais a chave?
_ Não. Eu vou de ônibus.
_ Aqui a chave seu bobo, - disse ela tirando a chave do bolsinho da blusa – escondi porque não queria que o senhor fosse trabalhar, mas já que vai de qualquer jeito.
Ele a pegou nos braços e fez mais uma promessa?
_ Eu juro que no final de semana te levo no shopping e no ano que vem te levo no programa da Xuxa.
_ Ah, papai, o senhor não muda nunca e é por isso que eu te amo tanto.


Gilberto Carlos