terça-feira, 30 de novembro de 2010

SONIA BRAGA EM AS CARIOCAS



Já falei várias vezes aqui o quanto gosto de Sonia Braga. Vi quase todos os seus filmes e acho uma pena ela não atuar com maior freqüência aqui no Brasil, por isso não podia perder o episódio da semana passada do seriado As Cariocas: A adúltera da Urca, protagonizado por ela.

É a história de Júlia (Sonia Braga), uma mulher fiel, casada com Cacá (Antonio Fagundes), que tem uma amiga ninfomaníaca, Malu (Regina Duarte) e de repente começa a ser perseguida por um homem que parece estar interessado nela (Dalton Vigh).


O interessante é que os papéis estão invertidos. Sonia Braga que era a musa erótica dos anos 70 e 80 em filmes como “Dona Flor e seus dois maridos”, “A dama do lotação” e “ Eu te amo”, faz o papel da mulher séria que se recusa a trair o marido, enquanto Regina Duarte, a namoradinha do Brasil nas novelas dos anos 70 é a mulher despachada que acha um desperdício ficar com um homem só. Antonio Fagundes faz o papel do “bobo” (como sempre) e Dalton Vigh é o galã de plantão.

Sonia Braga está em plena forma no seu retorno à televisão, mas reclamou que os brasileiros não lhe dão o devido valor, já que ficou mais de um ano no Brasil e o único convite que apareceu foi o desse episódio, feito por seu amigo Daniel Filho que é o diretor da série.


A adúltera da Urca é também uma homenagem à novela “Dancin’ Days”. Júlia é também o nome da personagem de Sonia naquela novela e na cena final o narrador (Daniel Filho) até cita os “frenéticos dancin’ days”, enquanto são mostradas cenas de arquivo de Sonia e Antonio Fagundes.

É uma pena ser tão curto, mas não passa de 26 minutos.

As Cariocas é baseado na obra de Sérgio Porto e cada um dos dez episódios é protagonizado por uma atriz diferente. As outras são Angélica, Alinne Moraes, Alessandra Negrini, Cíntia Rosa, Fernanda Torres, Grazi Massafera, Adriana Esteves, Paola Oliveira e Débora Secco. O episódio de hoje: A desinibida do Grajaú, protagonizado por Grazi Massafera já tinha sido adaptado na década de 90 como um especial da Rede Globo e contando com um elenco diferente.




segunda-feira, 29 de novembro de 2010

MORRE O ATOR LESLIE NIELSEN



Morreu ontem aos 84 anos, vítima de pneumonia, o ator canadense, Leslie Nielsen, muito querido do público e protagonista de comédias hilariantes, como “Apertem os cintos, o piloto sumiu” e a saga “Corra que a polícia vem aí”.


Tinha mais de 60 anos de carreira, tendo estreado ainda na década de 50 em telefilmes e em seguida atuou em mais de 100 filmes para o cinema (o IMDb lista 239 trabalhos entre cinema e televisão), com destaque para “O planeta proibido” (1956) e “O destino do Poseidon” (1972). Mas o seu destino eram as comédias escrachadas e debochadas às quais ele descobriu na primeira parte de “Apertem os cintos, o piloto sumiu” (1980), fazendo em seguida a trilogia “Corra que a polícia vem aí” (1988, 1991 e 1994), “Drácula, morto mas feliz” (1995), “Duro de espiar” (1996), “2000.1 – Um maluco perdido no espaço”, “Todo mundo em pânico 3” (2003) e “Todo mundo em pânico 4” (2006), “Super herói, o filme” (2008)...

O cinema ficou um pouco mais triste.



sábado, 27 de novembro de 2010

VERA FISCHER: 59 ANOS


A diva Vera Fischer completa hoje, 59 anos de muito sucesso e algumas polêmicas.

Vera nasceu em Blumenau, SC em 27 de novembro de 1951. Em 1969 foi eleita Miss Brasil e em seguida começou a atuar como jurada nos programas de TV. Sua beleza chamou a atenção dos produtores de cinema, onde estreou em “Sinal vermelho: as fêmeas” (1972), fazendo em seguida “O anjo loiro” (1973), “A superfêmea” (1973), “Essa gostosa brincadeira a dois” (1973), “As delícias da vida” (1974), “As mulheres que fazem diferente” (1974), “Macho e fêmea” (1974) e “Intimidade” (1976).

Foi a primeira musa da pornochanchada, já que fez só filmes eróticos até 1977, quando estreou na televisão, na novela “Espelho mágico”. Sofreu muito preconceito por acharem que ela era apenas um rosto bonito sem nenhum talento dramático. Depois disso não parou mais de atuar na televisão e conseguiu provar que tem talento participando de várias novelas e minisséries, como “Brilhante” (1981), “Mandala” (1987) onde viveu Jocasta e eternizou a música ‘O amor e o poder” de Rosana (ficando então conhecida como uma “deusa”) e conheceu seu futuro marido Felipe Camargo – “Riacho Doce” (1990), “Perigosas Peruas” (1992), “Agosto” (1993).




Durante a novela “Pátria minha” (1995), começaram os problemas pessoais, os atrasos nas gravações, o casamento conturbado e o envolvimento com as drogas que fizeram com que ela e Felipe saíssem da novela. Depois de superar os problemas e acabar o casamento, retornou no ano seguinte em “O rei do gado” (1996) e em seguida o remake fadado ao fracasso “Pecado Capital” (1998), os sucessos de “Laços de família” (2000), “O Clone” (2001) e “Caminho das Índias” (2009). Atualmente participa da série “Afinal, o que querem as mulheres?” da Rede Globo.


Em 2008 e 2009, lançou os livros de Memórias “Vera, a pequena Moisi” e “Um leão por dia”, onde não esconde nenhum fato de sua vida e carreira. Vera se aproxima dos 60 anos ainda com grande beleza e carisma, típicos das grandes atrizes.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

PERDIDOS NO VALE DOS DINOSSAUROS



Co-produção ítalo-brasileira que retrata o Vale dos Dinossauros, localizado na Amazônia, onde um grupo heterogêneo (formado por Kevin, um aventureiro americano que vive da venda de ovos pré-históricos, o paleontólogo Ibanez e sua filha, o coronel John Rines e sua esposa, uma ex-atriz alcoólatra, um fotógrafo da moda e duas belas modelos) viverá grandes emoções que começam com a queda do avião onde estão e se desenrola numa alucinada fuga dos índios Aquara (que comem o coração de seus inimigos). Além de passar por rios enfestados de piranhas, areia movediça e vários outros obstáculos.

Esta aventura só pode ser encarada como comédia e partindo desse princípio é bem divertida. Claro que explorando os velhos paradigmas de que o Brasil é uma terra de ninguém, tão comum nos filmes estrangeiros rodados por aqui ou nas co-produções.


Direção:
Michele Mássimo Tarantini

Elenco:
Michael Sopkiw
Suzane Carvalho
Milton Rodrigues
Marta Anderson
Jofre Soares
Carlos Imperial.

Duração: 94 min.
Tamanho do arquivo: 707 MB




quarta-feira, 24 de novembro de 2010

JOVENS DEMAIS PARA MORRER - PARTE 2

CHIQUINHO BRANDÃO, protagonista dos clássicos “A marvada carne” (1985), “Cidade oculta” (1986) e “Beijo 2348/72” (1988), morreu em 1991, aos 38 anos num acidente automobilístico.

CAIQUE FERREIRA, protagonista de “As Aventuras de um Paraíba” (1983) e “A flor do desejo” (1984), participou de inúmeras novelas desde “Brilhante” (1981) até “O sexo dos anjos” (1989). Morreu em 1994, aos 39 anos de insuficiência respiratória.

LEILA LOPES – Chamou a atenção dos brasileiros ao viver uma professora na novela “Renascer” (1993) e uma mulher duvidosa em “O Rei do Gado” (1996), ambas de Benedito Ruy Barbosa. Porém os papéis na televisão foram escasseando e ela aceitou protagonizar uma trilogia de filmes pornográficos em 2008 (Pecados e tentações, Pecado sem perdão e Pecado final). Cometeu suicídio em 2009, aos 40 anos.

IRVING SÃO PAULO – Iniciou carreira no teatro aos seis anos de idade, no cinema em “A noiva da cidade” (1978) e na televisão na novela “Final feliz” (1982). Era um dos atores preferidos da autora Ivani Ribeiro, da qual fez várias tramas e irmão do também ator Ilya São Paulo. Faleceu em 2006, aos 41 anos, de falência múltipla dos órgãos, decorrente de pancreatite.

GLAUCE ROCHA – uma das musas do cinema novo e protagonista de um dos filmes que eu mais gosto, “Um homem sem importância” (1971), morreu em 1971, aos 41 anos de problemas cardíacos.

RÔMULO ARANTES – foi campeão brasileiro de natação, antes de estrear como ator na novela “Brilhante” (1981), a qual se seguiram várias outras, como “Perigosas peruas” (1992) e “Quatro por quatro” (1994). Morreu num acidente aéreo em 2000, aos 43 anos. Seu filho Rômulo Arantes Neto, também é ator.

RAUL SEIXAS – O maluco beleza da música brasileira, cultuado até hoje por sucessos como “Ouro de tolo”, “Metamorfose ambulante” e “Gitã”. Morreu em 1989, aos 44 anos de cirrose hepática.

SÉRGIO CARDOSO – Estreou no teatro e em 1949, fundou com Nydia Licia (sua então mulher) a Companhia Teatro dos Doze. Fez sua estreia na televisão na TV Tupi e depois na Globo viveu um negro na novela “A Cabana do Pai Tomás” (1969), fato que foi muito criticado, já que ele era branco. Sua última novela foi “O primeiro amor” (1972), quando teve um ataque cataléptico aos 47 anos.

SANDRA BRÉA, foi a grande musa do cinema do cinema brasileiro dos anos 70 e da televisão dos anos 70 e 80, tendo estreado como modelo aos 13 anos de idade. Viveu a hilária personagem Jaqueline na 1ª versão da novela “Ti ti ti” (1985) e morreu em decorrência da AIDS em 2000 aos 48 anos, depois de ter feito várias campanhas de prevenção à doença.

LILIAN LEMMERTZ – mãe da também atriz Julia Lemmertz. Tornou-se musa de Walter Hugo Khouri, com quem fez oito filmes, entre eles, “As amorosas” (1968), mas também fez grande sucesso na televisão. Morreu em 1986, aos 48 anos, em decorrência de um enfarto.

DINA SFAT – estreou no cinema em “Três histórias de amor” (1966), participando de vários outros, com destaque para “Macunaíma” (1969) e “Eros, o deus do amor” (1981). Na televisão participou de “Selva de pedra (1972), “O astro” (1977), “Eu prometo” (1983) e várias outras. Era uma atriz muito querida. Morreu em decorrência do câncer em 1989, aos 51 anos.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

JOVENS DEMAIS PARA MORRER


Pensando sobre o livro “Too young to die” da Editora Saraiva, que relembra personalidades (geralmente americanas) que morreram jovens, achei interessante relembrar os astros e estrelas brasileiros que partiram cedo.

FERNANDO RAMOS DA SILVA, protagonista de “Pixote – A lei do mais fraco” (1980) de Hector Babenco. Participou em seguida de dois outros filmes (Eles não usam black-tie e Gabriela) e da novela “O amor é nosso” da qual foi despedido por não conseguir decorar as falas. Não se mantém no meio artístico e volta para o convívio de bandidos e usuários de drogas. Morreu em 1987 aos 19 anos, baleado pela polícia.


DANIELA PEREZ – filha da novelista Glória Perez, tinha apenas 3 anos de carreira quando foi assassinada em 1992, aos 22 anos pelo seu “colega” de elenco da novela “De corpo e alma” (Guilherme de Pádua).

ADRIANA PRIETO, uma das atrizes mais cultuadas dos anos 70. Ficou conhecida como a virgem profissional da pornochanchada, devido ao grande número de donzelas que interpretou, mas participou de vários outros filmes em apenas 8 anos de carreira (totalizando 18 títulos). Morreu num acidente de carro em 1975 aos 25 anos.

LEILA DINIZ – Iniciou carreira na televisão nas novelas de Glória Magadan e depois tornou-se musa dos brasileiros em “Todas as mulheres do mundo”, de Domingos de Oliveira. Chocou os conservadores ao aparecer grávida de biquíni na praia e ao dar uma entrevista bombástica para o jornal “O Pasquim”, fato que prejudicou sua carreira. Morreu em 1972, aos 27 anos, quando o avião em que viajava, explodiu em Nova Delhi, onde fora divulgar o filme “Mãos Vazias” (1971) de Luiz Carlos Lacerda.

CAZUZA – Um dos maiores poetas que o Brasil já teve. Autor de clássicos como “Exagerado”, “Faz parte do meu show”, “Bete balanço”, “O tempo não para” e dezenas de outras músicas inesquecíveis. Morreu em 1990, aos 32 anos, vítima da AIDS.

LAURO CORONA, um dos atores mais queridos da televisão nos anos 80, pela sua “pinta” de bom moço em novelas como “Direito de amar” (1986) e “Vida nova” (1989). Morreu em decorrência do vírus da AIDS em 1989, aos 32 anos.


ANECY ROCHA – irmã do diretor Glauber Rocha, ela estreou no cinema em “Menino de engenho” (1965) de Walter Lima Jr., seu marido na época e criou outros personagens antológicos, como a Ness Elliot de “A Lira do Delírio” (1978). Morreu em 1977 aos 34 anos, ao cair no fosso do elevador do prédio onde morava.


CLÁUDIA MAGNO – Virou musa dos jovens ao participar de “Menino do rio” (1982) de Antonio Calmon e de várias novelas como “Fera Radical” (1988), “Felicidade” (1991) e “Sonho meu” (1994). Morreu em 1994, aos 35 anos de insuficiência respiratória aguda, em decorrência do vírus da AIDS.

RENATO RUSSO – O líder da Legião Urbana, que é uma das bandas que eu mais gosto. Não sei qual minha música preferida, talvez goste de todas elas, a começar por “Por enquanto” até “A via láctea” (do primeiro e do último Cd da Legião Urbana, respectivamente). Faleceu em 1996, aos 36 anos, vítima da AIDS.

ODUVALDO VIANNA FILHO, o VIANNINHA, criador da “Grande Família”, no ar até hoje na Rede Globo em sua segunda versão. Autor de várias peças de teatro e ator em vários filmes como “Cinco vezes favela” (1962) e “O desafio (1965). Faleceu em 1974, aos 38 anos em decorrência do câncer.

Continua...




segunda-feira, 22 de novembro de 2010

TOO YOUNG TO DIE (LIVRO)



Vi dia desses na livraria Saraiva um livro muito interessante, “Too young to die”, ou “Jovens demais para morrer”. Pena que ainda não foi lançado em português e essa é a edição americana. O livro em capa dura traz uma coletânea de celebridades (todas muito queridas) que morreram jovens, com o resumo da carreira de cada um e a causa da morte.

O livro fartamente ilustrado traz além de atores, cantores, diretores, políticos e esportistas (até o nosso Ayrton Senna está lá). Só ao vê-los reunidos é que nos damos conta de como partiram cedo. E quem sabe por isso, viraram ícones, porque estavam no auge do sucesso.

 Posso citar Heath Ledger (que morreu com 28 anos);


River Phoenix (23);


Marilyn Monroe (36);


Ritchie Valens (17!);


James Dean (23);



Bruce Lee (33);



Brandon Lee (28)

Elvis Presley (42);


Judy Garland (47);

Grace Kelly (54) e

Michael Jackson (50).

Só senti falta de Montgomery Clift (44).

Quase todos tiveram mortes trágicas, geralmente por acidentes ou overdose de medicamentos e/ ou drogas.

“É tão estranho, os bons morrem jovens
Assim me parece ser
Quando me lembro de você
Que acabou indo embora cedo demais
Cedo demais.”
Renato Russo

sábado, 20 de novembro de 2010

INSOLAÇÃO (2009) ***


O título pouco atrativo pode afastar o público desse belo filme que fala do amor e da paixão. Numa cidade pequena castigada pelo sol, vários personagens confundem a sensação febril de insolação com o início da paixão.

Paulo José é o narrador da história que diz ser sobre a tristeza: Simone Spoladore vive uma mulher com problemas psiquiátricos que vaga perdida pela cidade em busca de alguém para amar e por isso acaba tendo relações sexuais com vários homens; Leonardo Medeiros diz que ama todas as mulheres no início dos relacionamentos e atualmente Maria Luisa Mendonça que não o ama; uma menina de 13 anos nutre uma paixão infundada por ele, enquanto um menino da mesma idade é apaixonado pela personagem de Leandra Leal que está doente e tem um caso com o pai dele. Além de alguns outros, todos desorientados que tem consciência que precisam amar e ser amados, mas não conseguem fazer isso acontecer e por isso tornam-se profundamente infelizes.


Daniela Thomas que antes co-dirigia com Walter Salles (Terra Estrangeira, O primeiro dia) agora assume o posto com Felipe Hirsch que é estreante na direção.

Apesar de ser um filme muito bonito, não é fácil de se ver em momento algum. Tem um ritmo bastante lento, cenas longas com câmera imóvel e um final em aberto que não resolve todas as histórias. Talvez o amor não tenha mesmo solução, mas se você tiver paciência não vai se arrepender.

Download do filme Insolação

Onde fica a tua casa?
Porque é que eu não acho?
Como é o seu retrato?
Como é que eu vou embora?
Porque é que você olha
Pra onde eu não ando?
Porque é que você anda
Pra onde eu não vejo?
                             Kid Abelha

A música "Como é que eu vou embora" do Kid Abelha, apesar de não ser tema do filme, ilustra bem o seu espírito, do quanto é difícil encontrar o amor.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

A SEMIÓTICA EM TUDO SOBRE MINHA MÃE - PARTE 2



Continuando a falar de Semiótica no filme “Tudo sobre minha mãe”, agora analisarei as funções de linguagem de Jakobson e a análise sintática de Wölfflin e mais alguns dados sobre a linguagem visual de Pierce.

A função emotiva está presente em cada fotograma do filme de Almodóvar. O drama conta a história de uma mãe, Manuela (Cecília Roth), que esconde de seu filho Esteban (Eloy Azorin), quem é o seu pai. O sonho de Esteban é ser escritor e enquanto aguarda uma chance de mostrar seu talento, ele escreve suas memórias em um caderno entitulado “Tudo sobre minha mãe”.

Na noite de aniversário de seu filho, Manuela o leva para assistir a uma montagem de “Um bonde chamado desejo” de Tenesse Williams, do qual ela própria havia participado de uma montagem amadora, quando jovem. Huma Rojo (Marisa Paredes) é a famosa atriz que participa da peça atualmente. Manuela promete contar tudo sobre o pai de Esteban, quando chegarem em casa, o que se torna impossível, pois Esteban sai correndo atrás do carro de Huma, é atropelado e morre.


Manuela trabalha na central de transplante de órgãos, encenando casos em que incentiva a doação e é doloroso quando o mesmo acontece com ela, quando lhe dão a notícia de que o filho morreu, mas seus órgãos podem ser transplantados e ajudarem outras pessoas.

Após a morte do filho, Manuela resolve viajar para Barcelona para encontrar o pai de seu filho, que também se chama Esteban. Os dois se conheceram quando participaram de uma montagem amadora de “Um bonde chamado desejo”. Depois de um tempo juntos, Esteban viajou e quando voltou estava diferente, tinha colocado seios, se vestiu de mulher e adotou o nome de Lola. Quando engravidou dele, Manuela viajou para Madri e não lhe contou a verdade, o que pretendia fazer agora, vários anos depois.

Pedro Almodovar e Antonia San Juan

Enquanto procura por Lola, Manuela reencontra Agrado (Antonia San Juan), uma velha amiga travesti, que na verdade é interpretada por uma mulher. As duas vão procurar emprego em um convento onde trabalha Rosa (Penélope Cruz), uma freira assistencialista que está grávida de Lola e também com o vírus da AIDS.

O filme também traz uma função metalingüística bem forte. De início, quando Manuela e o filho assistem na televisão uma versão dublada do filme A Malvada (1950) com Bette Davis e até reclamam da mudança dos títulos dos filmes nas versões dubladas. E depois no decorrer de todo o filme, quando o drama de Manuela se mistura com o drama da peça “Um bonde chamado desejo” e as atrizes que interpretam personagens passam a interpretar também atrizes.

Manuela consegue emprego como ajudante de Huma e até participa da peça quando uma outra atriz que é viciada em drogas e também amante de Huma falta ao trabalho. Posteriormente é Agrado quem vai trabalhar com Huma e em uma noite em que as atrizes principais brigam, é ela quem toma conta do palco em um monólogo onde conta ao público o quanto gastou para se parecer com uma mulher. Agrado também cita o filme “Como agarrar um milionário” quando vai visitar Manuela e encontra as três mulheres sozinhas no apartamento (Manuela, Rosa e Huma). Bette Davis é citada novamente quando Huma conta que começou a fumar por causa dela.

Rosa (Penelope Cruz) e Manuela (Marisa Paredes)

É possível verificar também resquícios do Renascimento e da Arte egípcia, pois o filme conta com uma linguagem linear, uma clareza absoluta em todas as cenas. Apesar de não haver referências explícitas à religiosidade ou figuras santas, fica claro o papel de mãezona de todos os personagens desempenhado por Manuela, mais ou menos como Nossa Senhora, que abdica de várias coisas pelo seu filho ou por aqueles que ama e considera como seus.

Depois que perde seu filho amado, aparecem no caminho de Manuela vários personagens deslocados e que necessitam de cuidado. Inicialmente, Agrado que está apanhando de um cafetão e é salva por Manuela, que cuida dela e depois lhe arruma um emprego como ajudante de Huma. Depois da própria Huma durante uma de suas crises com sua amante. Manuela funciona também como mãe de Rosa, a freira grávida e soropositiva que não tem coragem de contar para a própria mãe o que está acontecendo e passa a morar com Manuela já que está passando por uma gravidez de risco. E por último do filho de Rosa, o terceiro Esteban da história, depois que sua mãe morre no parto.

Agrado e o colega de palco de Huma

Quanto à classificação da linguagem visual segundo Pierce, “Tudo sobre minha mãe” se enquadra como forma figurativa, pois representa acontecimentos do mundo real, da forma como podem acontecer com qualquer um de nós, sendo classificado como 2.2.2, por se tratar de algo concreto, como se fosse um retrato da realidade.

As cores fortes dos figurinos e da cenografia, com predominância do vermelho, do azul e do amarelo e que estão presentes em todos os filmes de Almodóvar desde “Labirinto de paixões” (1982), até Volver (2006), podem parecer exagerados e até meio kitschs aos olhos de um leigo, transmitem uma emoção latente, paixão e calor que são comuns aos latinos e com certeza o que há de mais icônico em todo a sua obra, já que as cores estão ali não por acaso, mas para chamar a atenção do espectador, como se fosse um personagem à parte, o que nos remete também à função fática de Jakobson.



Chama a atenção também o amor incondicional da mãe pelo filho e pela compaixão demonstrada pelos personagens uns com os outros. Isso é citado pela personagem Estela na peça “Um bonde chamado desejo”: _ Eu sempre dependi da bondade de estranhos. A fala é repetida por Huma quando esta recebe pela primeira vez a ajuda de Manuela.

Já o lado simbólico é representado pelo drama que é outra marca registrada de Almodóvar, que sempre conta histórias tristes de perdas, doenças, morte e segredos quase inconfessáveis, mas com um alento de esperança. Apesar dele também já ter dirigido comédias rasgadas como “Mulheres à beira de um ataque de nervos” (1988) e “De salto alto” (1991). Ele ficou famoso por criar personagens femininos bem mais fortes que as masculinos e é isso o que acontece também em “Tudo sobre minha mãe”, onde os homens são meros figurantes ou querem se tornar mulheres. Estas sempre reinam em seus filmes, onde foram imortalizadas divas como Carmem Maura, Marisa Paredes, Cecília Roth, Victoria Abril, Penélope Cruz, Assumpta Serna e Francesca Neri.

“Tudo sobre minha mãe” é um filme extremamente feminino e talvez por causa disso, muito sensível. Almodóvar o dedica a Bette Davis, Romy Schneider, Gena Rowlands, a todas as atrizes que interpretam atrizes, a todas as mulheres que representam, aos homens que representam e tornam mulheres, a todas aquelas que querem ser mães e à sua mãe. Em suma, o filme ideal para quem quer se emocionar.

TUDO SOBRE MINHA MÃE (Todo sobre mi madre), Espanha, 1999. Direção: Pedro Almodóvar. Com: Cecília Roth, Marisa Paredes, Penélope Cruz, Candela Pena, Antonia San Juan. 101 min. Vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro.