segunda-feira, 2 de novembro de 2009

VIAGEM AO FIM DO MUNDO (Brasil, 1967) **








Direção: Fernando Cony Campos. Com: Karin Rodrigues, Jofre Soares, Fábio Porchat, Vera Viana, Walter Forster, Tallulah Campos, Esmeralda Barros, Fernando Campos e Joel Barcelos. 96 min. Cinema underground.






Baseado em dois capítulos do livro “Memórias póstumas de Brás Cubas” (O delírio e O senão do livro), um personagem (Jofre Soares) do conto “O vôo” de Carlos Augusto de Góes e na leitura e meditação de alguns livros de Simone Weil, “Viagem ao fim do mundo” é o filme mais literário que eu já vi. Cheio de citações de atores famosos, como Chesterton, T. S. Elliot e Jorge de Lima, além de Machado de Assis, citações essas que aparecem na narração em off nas vozes de Echio Reis, Paulo Martins, Hércio Machado e Paulo César Pereio. A narração perpassa quase todo o filme, com pequenas interrupções para algumas falas.

A história se passa durante uma viagem de avião onde vários personagens sem ligação aparente se cruzam. Enquanto espera o embarque3 do avião, um homem compra em uma banca o livro “Memórias póstumas de Brás Cubas”, o qual lê até o capítulo “O delírio”, onde visualiza Pandora (a mulher que guarda os segredos do mundo em uma caixa), como uma mulher nua na praia, que lhe revela o futuro da humanidade com guerras, Stalin, Hitler e outras desgraças; uma freira duvida da existência de Deus e se deve ou não permanecer na igreja (uma das personagens que mais aparece na história já que é feita por Tallulah Campos que também é produtora e diretora de dublagem e a quem o filme é dedicado); um jogador com um futuro incerto em seu novo time; um senhor ansioso (Jofre Soares); uma modelo de publicidade (Vera Viana) que trai o marido (Walter Forster) com outro passageiro do avião. Em comum todos esses personagens têm medo da vida e de não conseguirem aceitar com naturalidade o que acontece com eles, mas quem aceita?

Caetano Veloso canta seis canções da trilha sonora, incluindo “Alegria, alegria”, que abre a história e é uma das músicas brasileiras mais usadas como tema de filmes e novelas.

Fernando Cony Campos (Ladrões de cinema – 1977) sempre dirigiu filmes experimentais em que seu lado autor ficava evidente e aqui não é diferente. Não é destinado ao público médio de cinema, mas a quem quer experimentar novas experiências, claro que exige um certo nível de paciência, pois com o tempo as cenas sem conexão umas com as outras começam a cansar. Em um plano, o diretor justifica porque fazia filmes diferentes do convencional.

Há cenas engraçadas como quando uma personagem justifica que ela mesma é um erro de continuidade e que só aparece nos planos ímpares e principalmente a entrevista com um médico que fala do câncer e não sabe o que responder quando lhe perguntam se o mundo está com câncer. Só essa cena já valeria o filme.

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